domingo, 2 de setembro de 2018

UM LUGAR PARA NINGUÉM


Ela sempre esteve perdida entre desamores e dolorosos vazios.
Nunca encontrava um lugar para chamar de seu e assim vagava por entre fantasias criadas pelo seu desejo de ser alguém.
Mas os anos foram passando e lutou para se encontrar nos seus desencontros, sem nunca terminar sua busca.
Foi usada, ultrajada, magoada, ferida de todas as formas e por todos os motivos.
Porém, agora havia um motivo. Havia por quem seguir em frente e haveria de seguir a qualquer preço.
E mais pares de anos se seguiram. Anos de lutas, anos de solidão, anos de esperanças no além.
Seus olhos pouco viam mas enxergavam longe pelos olhos de outros e isso lhe bastava.
Não tinha descanso mas dormia nos braços de outros que lhe enchiam de orgulho.
Não viajava mas conhecia o mundo pelas malas de outros que lhe traziam histórias.
Não conhecia lugares da moda, nunca saiu para dançar, mas tudo sabia pelas palavras que outros lhe diziam.
Assim se fazia feliz pois finalmente tinha um lugar naquele mundo que tudo lhe negou por tanto tempo.
Então, pouco a pouco, percebeu que ainda era uma fantasia, que seu coração por compaixão a fizera acreditar.
Sem ter mais tempo para um novo recomeço, sentou-se no chão e chorou.
Nada mais havia a fazer a não ser chorar.
E assim ficou a prantear todos os sonhos que um dia teimara em sonhar.
Ela nunca faria parte de lugar algum porque não existe morada para quem sempre foi ninguém.


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