domingo, 20 de janeiro de 2019

PARA VOCÊ, COM AMOR










Com um olhar maroto e um leve sorriso nos lábios,
Dissestes para mim: “Nós somos sobreviventes! ”
Baixei meus olhos e em devaneios, lembrei o esquecido.
No início do meu segundo ano de faculdade fui mãe.
Antes de terminar o terceiro ano, fui mãe novamente.
Quantos todos pensavam que tudo se acabara para mim,
Formei-me com 4 meses de gravidez da minha terceira filha.
Com três filhas e sem dinheiro nem mesmo para os livros,
Acabei minha residência num honroso primeiro lugar.
Com uma filha com 7 anos, outra com 5 e a menor com 2,
Tornei-me arrimo de família, centro do mundo de nós 4.
Corria de um emprego para o outro, dormia quando podia.
Mas nada faltou para vocês, exceto o amor que mereciam.
Ele existia, mas estava latente, escondido na falta de tempo.
Fui humilhada e ferida inúmeras vezes mas calava-me sempre.
Precisava do trabalho pois vocês só tinham a mim como porto,
E eu não tinha ninguém para me ajudar ou secar meu pranto.
Via em seus olhos a decepção da minha eterna ausência.
Mas vocês nunca viram minhas lágrimas que escorriam
Por debaixo da máscara enquanto a festinha ocorria no colégio.
Imaginava seus olhinhos a me procurar entre os outros pais,
Sem nunca me achar, mas sempre na esperança de lá eu estar.
O tempo foi passando, a vida foi seguindo da forma possível.
Numa tola ilusão, acreditei que o tempo iria faze-las entender.
A maturidade as faria ver que a vida não me dera opção.
Entre quedas e a escuridão, errei muitas vezes sem querer.
Errei tanto e tantas vezes que me foi negado o perdão.
E num dia, entre dores e gritos de pessoas desconhecidas,
Ouvi o tilintar do telefone que me chamava com urgência.
E como de costume, fui humilhada de todas as formas possíveis.
Já não era por necessidade mas para proteger a tua felicidade.
Com maldade e crueldade fui esquartejada em mil pedaços.
Por alguém que nunca calçara os sapatos que a vida me dera.
Silenciei porque sabia o quanto era importante o meu silencio.
Horas depois, ainda em chagas, ingenuamente pedi o teu socorro
Tu me negaste. Talvez por vingança, não sei, tornei-me um nada
Pouco a pouco fostes me tirando da tua vida, até eu ser ninguém
Por anos, meses e dias eu chorei muito o luto que era tua perda.
Depois, como todas as pedras com que feri meus pés, acostumei
Neste momento ergui meus olhos para os teus, sorri suavemente
E pensei: “Eu sou a sobrevivente! ”

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