Com
um olhar maroto e um leve sorriso nos lábios,
Dissestes
para mim: “Nós somos sobreviventes! ”
Baixei
meus olhos e em devaneios, lembrei o esquecido.
No
início do meu segundo ano de faculdade fui mãe.
Antes
de terminar o terceiro ano, fui mãe novamente.
Quantos
todos pensavam que tudo se acabara para mim,
Formei-me
com 4 meses de gravidez da minha terceira filha.
Com
três filhas e sem dinheiro nem mesmo para os livros,
Acabei
minha residência num honroso primeiro lugar.
Com
uma filha com 7 anos, outra com 5 e a menor com 2,
Tornei-me
arrimo de família, centro do mundo de nós 4.
Corria
de um emprego para o outro, dormia quando podia.
Mas
nada faltou para vocês, exceto o amor que mereciam.
Ele
existia, mas estava latente, escondido na falta de tempo.
Fui
humilhada e ferida inúmeras vezes mas calava-me sempre.
Precisava
do trabalho pois vocês só tinham a mim como porto,
E
eu não tinha ninguém para me ajudar ou secar meu pranto.
Via
em seus olhos a decepção da minha eterna ausência.
Mas
vocês nunca viram minhas lágrimas que escorriam
Por
debaixo da máscara enquanto a festinha ocorria no colégio.
Imaginava
seus olhinhos a me procurar entre os outros pais,
Sem
nunca me achar, mas sempre na esperança de lá eu estar.
O tempo
foi passando, a vida foi seguindo da forma possível.
Numa
tola ilusão, acreditei que o tempo iria faze-las entender.
A
maturidade as faria ver que a vida não me dera opção.
Entre
quedas e a escuridão, errei muitas vezes sem querer.
Errei
tanto e tantas vezes que me foi negado o perdão.
E
num dia, entre dores e gritos de pessoas desconhecidas,
Ouvi
o tilintar do telefone que me chamava com urgência.
E
como de costume, fui humilhada de todas as formas possíveis.
Já
não era por necessidade mas para proteger a tua felicidade.
Com
maldade e crueldade fui esquartejada em mil pedaços.
Por
alguém que nunca calçara os sapatos que a vida me dera.
Silenciei
porque sabia o quanto era importante o meu silencio.
Horas
depois, ainda em chagas, ingenuamente pedi o teu socorro
Tu
me negaste. Talvez por vingança, não sei, tornei-me um nada
Pouco
a pouco fostes me tirando da tua vida, até eu ser ninguém
Por
anos, meses e dias eu chorei muito o luto que era tua perda.
Depois,
como todas as pedras com que feri meus pés, acostumei
Neste
momento ergui meus olhos para os teus, sorri suavemente
E
pensei: “Eu sou a sobrevivente! ”
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