Ela olhou nos meus olhos,
fitou-me com seus olhos azuis tão sem vida, e aos poucos percebi o precipício
em que vivia. Toda aquela dor que sentia sempre que chamava seu nome. Eram
tantos sentimentos que aos poucos percebi como a sufocava e como fui matando o
resto de vida que tinha. E com a voz calma, num tom de veludo, um tom que
talvez minha raiva de perdê-la não merecesse naquele momento, disse-me que as
coisas não estavam dando certo e que precisava sair daqui. Correu... E eu a
agredi mais uma vez com minhas palavras sem sentido. Acusei-a com todos os
medos que sentia, sem perceber que ela não era igual àquilo tudo que havia
vivido. Arrependi-me e minhas mãos puderam segurá-la e trazê-la para perto de
mim, mais uma vez. Fiz promessas, jurei minha vida, chorei... E mais uma vez
pude tê-la ao meu lado. Só que aos poucos, a medida que o tempo passava,
percebi que minhas promessas eram em vão e que não conseguiria mantê-las por
muito tempo. Tive medo enquanto a sufocava, outra vez, com todo aquele amor que
sentia. Um amor tão grande que não cabia em mim. Ela era perfeita! Tinha um mau
humor insuportável, mas continuava perfeita, ao menos para mim. Fazia dancinhas
engraçadas, enquanto me mostrava o quão bom poderia ser estar ao seu lado. Ela
era a minha fortaleza, ao passo que eu sempre me vi perdido dentre tantas desilusões.
Eu precisava dela ao meu lado e nunca me importei ao certo com o que ela queria
para si. Trouxe a minha vida e me esqueci da dela. Apaguei seus sonhos, sua
coragem, suas ambições. Fiz-na minha. Talvez até aquele momento não havia
percebido que a tinha feito prisioneira de todo o amor que sentia. Tolhi-lhe a
liberdade e segui cada passo seu, numa tentativa louca de escondê-la de seus
sonhos. Procurei-a por todas as ruas, mas já não a tinha comigo. Foi aí que
mais uma vez chorei. Questionei-a onde havia parado todo aquele amor que ela
sentia por mim, quando jurava ser só minha. Rezei baixinho para que a resposta
que viria não fosse me machucar. Surpreendi-me. Mais uma vez, com uma voz doce,
delicada, quase angelical, ela me disse que havia me perdido quando resolveu buscar a si. Quando percebeu que todos aqueles sonhos que sentia, os mesmos que
eu havia matado quando a quis só para mim, estavam mais vivos do que nunca, adormecidos
no elo mais profundo de si. Tentei segurá-la mais uma vez jurando tudo aquilo
que sentia, quando percebi que suas mãos já não tinham o calor de antes e meu
peito já não serviria para acalmá-la numa noite de frio. Mas percebi, aos
poucos, seus olhos se enchendo de vida. A liberdade a havia feito bem. A
liberdade a havia feito voltar a sorrir. A felicidade que lhe escondi havia
surgido como forma de acalmar toda aquela angústia que ela sentia. Ela
finalmente era livre. Enquanto eu, que havia dado tanto de mim, que achava que
tinha feito as melhores escolhas no lugar dela, vi-me sofrer baixinho, calado,
arrependido de todo o mal que havia lhe feito. Era tarde demais... Dessa vez
ela correu, fugiu sem rumo, encontrou-se enquanto me perdia. E nesse momento
percebi que meu amor não seria suficiente. Deixei-a ir. Deixei-a livre. Para,
quem sabe, um dia voltar...
(Escrita por Versos Ditos)
(Escrita por Versos Ditos)
suave e triste ao mesmo tempo. ADOREI!
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