domingo, 28 de junho de 2015

A Dor do Coração


Ela olhava, desolada, para o coração entre suas mãos.
Como o tratara mal! Como o machucara tantas vezes!
Envolvido em sangue, já quase sem forças.
Lágrimas escorriam de seus olhos e respingavam sobre ele.
Em movimentos centrífugos, formavam ondas incertas.
Sequer podia acaricia-lo, ele não a perdoava.
Ela era a culpada de todo o seu sofrimento, dos martírios.
Fizera escolhas erradas, ferindo-o de forma letal.
Havia cicatrizes antigas, já quase apagadas.
Havia cicatrizes recentes, doídas, sangrentas.
Havias aquelas que só gotejavam, havia as que jorravam.
Pedia-lhe perdão e ele lhe respondia no compasso da sua dor.
Via um ferimento profundo, feito a ferro e fogo.
Que como cachoeira, escorria entre seus dedos,
E caia retumbante no chão frio da insensatez.
A sua volta, havia outros ferimentos menores,
Estes escorriam com maior descrição, silenciosamente.
E qual destes iria fazer com que ele silenciasse?
Ela não sabia, pois todos eram mortais.
Um o faria morrer instantaneamente, os outros lentamente.
Ou, por vingança, ele a faria padecer tanto quanto ele,
Deixando-a em agonia por tempo demais?
Queria traze-lo de volta ao peito e com cuidado, agasalha-lo.
Mas ele não o permitia, queria vê-la a olhar-lhe impotente.
E a cada lagrima sua, mais fraco ele pulsava e mais rápido batia.
Ele já a perdoara tantas vezes, já lhe dera tantas chances.
Agora não mais. Nunca ela o ferira de forma tão vil.
A faca que o transpassava era a maior de todas as infringidas.
Olhava-o e dizia-lhe: também sofro.
Ele impassível, estava imune a dor de seu algoz.
Perdera tanto! Perdera tantos! Perdera tudo!
Restavam-lhe apenas duas mãos, envelhecidas, a lhe segurar.
Elas não poderiam, jamais, lhe restituir as perdas.
Cabia-lhe faze-la compartilhar seu padecimento,
Até o momento final, quando a tortura fosse o último suspiro.
E então, as lágrimas secariam em seu rosto escarnecido,
E seu sangue coagularia entre os dedos, sem bater no chão.
E nesse momento, só nesse momento, seu coração a perdoaria.

Escrita por Carmen Mattos


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