Ela olhava,
desolada, para o coração entre suas mãos.
Como o
tratara mal! Como o machucara tantas vezes!
Envolvido em
sangue, já quase sem forças.
Lágrimas
escorriam de seus olhos e respingavam sobre ele.
Em
movimentos centrífugos, formavam ondas incertas.
Sequer podia
acaricia-lo, ele não a perdoava.
Ela era a
culpada de todo o seu sofrimento, dos martírios.
Fizera
escolhas erradas, ferindo-o de forma letal.
Havia
cicatrizes antigas, já quase apagadas.
Havia
cicatrizes recentes, doídas, sangrentas.
Havias
aquelas que só gotejavam, havia as que jorravam.
Pedia-lhe
perdão e ele lhe respondia no compasso da sua dor.
Via um
ferimento profundo, feito a ferro e fogo.
Que como
cachoeira, escorria entre seus dedos,
E caia
retumbante no chão frio da insensatez.
A sua volta,
havia outros ferimentos menores,
Estes
escorriam com maior descrição, silenciosamente.
E qual
destes iria fazer com que ele silenciasse?
Ela não
sabia, pois todos eram mortais.
Um o faria
morrer instantaneamente, os outros lentamente.
Ou, por
vingança, ele a faria padecer tanto quanto ele,
Deixando-a
em agonia por tempo demais?
Queria
traze-lo de volta ao peito e com cuidado, agasalha-lo.
Mas ele não
o permitia, queria vê-la a olhar-lhe impotente.
E a cada
lagrima sua, mais fraco ele pulsava e mais rápido batia.
Ele já a
perdoara tantas vezes, já lhe dera tantas chances.
Agora não
mais. Nunca ela o ferira de forma tão vil.
A faca que o
transpassava era a maior de todas as infringidas.
Olhava-o e
dizia-lhe: também sofro.
Ele
impassível, estava imune a dor de seu algoz.
Perdera
tanto! Perdera tantos! Perdera tudo!
Restavam-lhe
apenas duas mãos, envelhecidas, a lhe segurar.
Elas não
poderiam, jamais, lhe restituir as perdas.
Cabia-lhe
faze-la compartilhar seu padecimento,
Até o
momento final, quando a tortura fosse o último suspiro.
E então, as
lágrimas secariam em seu rosto escarnecido,
E seu sangue
coagularia entre os dedos, sem bater no chão.
E nesse
momento, só nesse momento, seu coração a perdoaria.
Escrita por Carmen Mattos
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