sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Os pardais



Sentada na areia fina, com as pernas dobradas e envolvida pelos seus braços, ela sentia a água salgada molhar seus pés.
Olhava o mar escuro, pouco a pouco, dourar-se com os primeiros raios de sol que nasciam no horizonte.
A brisa fria arrepiava sua pele e esvoaçava seus cabelos. Sentia toda a força do universo a lhe envolver.
O cheiro forte da maresia, entrava por suas narinas e alojava-se dentro de si. Nada era mais reconfortante!
Sentiu sua vida e viu o quanto era feliz. Tivera tudo. Perdera algumas. Mas o saldo sempre fora positivo. Sentia-se abençoada.
Nada nem ninguém, nunca pudera lhe tirar a força de guerreira, a calmaria de mulher ou a dignidade de ser humana. Isso lhe pertenceria até o último dia de sua existência terrena. Assim seria!
Na praia deserta ouvia o piar dos pardais, exclusos de beleza e voz. Sentiu-se um deles. Tão majestosos na sua total falta de atrativos. Eram sobreviventes... como ela.
Lágrimas escorreram de seus olhos, na fugaz saudade daqueles que se foram. Por eles teria dado a vida. Os amara de forma integral e incondicional.
Com o dorso da mão, secou uma lágrima e depois outra. Negava, nesse momento, o luto que vivera. A perda era deles e não sua. As carpideiras lamentavam por eles e não por ela. Não mais permitiria a troca de valores.
Levantou-se e, como Narciso, foi olhar seu reflexo na água. Tinha o brilho que só é permitido as pessoas em paz. Nem mesmo as imagens distorcidas e os olhos enevoados a suas costas, poderiam macular sua vida. O tempo passava para eles e regredia para ela.
Perdera tudo que tivera, exceto a honradez. Deixada ao léu, seus filhos e amigos foram sua única base de reconstrução. Essa base forte e segura, fez dos cacos um castelo onde agora ela morava.
Sorriu, onde antes houvera lágrimas, e levantou-se. Deu as costas para a imensidão da água e como uma gota seguiu seu caminho sabendo que tudo volta para o mar. 

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