Sentada na areia fina, com as pernas
dobradas e envolvida pelos seus braços, ela sentia a água salgada molhar seus
pés.
Olhava o mar escuro, pouco a pouco,
dourar-se com os primeiros raios de sol que nasciam no horizonte.
A brisa fria arrepiava sua pele e
esvoaçava seus cabelos. Sentia toda a força do universo a lhe envolver.
O cheiro forte da maresia, entrava
por suas narinas e alojava-se dentro de si. Nada era mais reconfortante!
Sentiu sua vida e viu o quanto era
feliz. Tivera tudo. Perdera algumas. Mas o saldo sempre fora positivo.
Sentia-se abençoada.
Nada nem ninguém, nunca pudera lhe
tirar a força de guerreira, a calmaria de mulher ou a dignidade de ser humana.
Isso lhe pertenceria até o último dia de sua existência terrena. Assim seria!
Na praia deserta ouvia o piar dos
pardais, exclusos de beleza e voz. Sentiu-se um deles. Tão majestosos na sua
total falta de atrativos. Eram sobreviventes... como ela.
Lágrimas escorreram de seus olhos, na
fugaz saudade daqueles que se foram. Por eles teria dado a vida. Os amara de
forma integral e incondicional.
Com o dorso da mão, secou uma lágrima
e depois outra. Negava, nesse momento, o luto que vivera. A perda era deles e
não sua. As carpideiras lamentavam por eles e não por ela. Não mais permitiria
a troca de valores.
Levantou-se e, como Narciso, foi
olhar seu reflexo na água. Tinha o brilho que só é permitido as pessoas em paz.
Nem mesmo as imagens distorcidas e os olhos enevoados a suas costas, poderiam
macular sua vida. O tempo passava para eles e regredia para ela.
Perdera tudo que tivera, exceto a
honradez. Deixada ao léu, seus filhos e amigos foram sua única base de
reconstrução. Essa base forte e segura, fez dos cacos um castelo onde agora ela
morava.
Sorriu, onde antes houvera lágrimas,
e levantou-se. Deu as costas para a imensidão da água e como uma gota seguiu
seu caminho sabendo que tudo volta para o mar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário