Assim que
tocava a campainha,
Meu coração
acelerava,
Meus joelhos
tremiam,
E eu corria
para a porta,
Com meu
vestido rodado,
Abria e lá
estava ele,
Com toda sua
imponência,
Sua
prepotência de senhor da razão.
Tentava
passar por entre suas pernas
E ele,
carinhosamente, me puxava,
Dizendo: não
vais dar um beijo no pai?
Rapidamente
beijava seu rosto
Na tentativa
de sair o mais rápido possível
Corria para
a calçada, sentava-me no meio fio.
Tapava os
ouvidos com minhas pequenas mãos
E colocava a
cabeça entre os joelhos.
Na vão
tentativa de tornar-me invisível.
Pouco depois
começavam os gritos e choros.
Era sempre a
mesma coisa.
A garotada
do prédio ria-se,
Não sei se
de mim, se da cena.
E aquilo
tudo me fazia menor ainda.
Ele gritava,
ela chorava.
Ela gritava,
ele desdenhava.
E assim
passavam-se horas,
Ou somente
minutos,
Da minha
angústia interior.
Aquela
dorzinha lá dentro do peito,
Dorzinha não
de chorar, mas de lamento.
Assim como
começava,
Sem que eu
soubesse o motivo,
Fazia-se o
silencio.
E no meio
das gargalhadas,
Via as
janelas se fechando,
Com cabeças
balançando,
Em total
reprovação.
Passo a
passo, subia as escadas,
Segurava a
maçaneta,
E meio sem
jeito abria a porta.
A mesa
estava servida
Com a comida
predileta dele.
Sentava-me
na pontinha da cadeira,
E fazia
força para engolir, prantos e comida.
Há quanto
tempo vivia isso?
Tempo
demais, para nunca esquecer.
O odiava por
fazer isso conosco,
A odiava por
aceitar que fizesse.
E temia a
Deus por não “Honrar pai e mãe”.
Os anos se
passaram, sempre igual.
E, ainda
hoje, quando ouço gritos,
Volto aos
tempos de outrora,
Mesmo
impassível, sou uma garotinha,
De vestido
rodado, encolhida,
Sentada no
meio fio da vida.
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