sexta-feira, 28 de agosto de 2015

ESQUINAS

No emaranhado da vida, em qual esquina nosso sonho se perdeu?
A casa gostosa com um lago a sua frente e flores no jardim.
Os passeios de mãos dadas, beijos inesperados e perfume no ar.
Uma comidinha gostosa, feita por mim, feita por você e nada mais.
Sorrisos cúmplices, gargalhadas sonoras e olhares de soslaio.
Uma casinha de passarinho pendurada num galho de árvore,
Um ninho encontrado ao acaso, grama para cortar, formigas.
Tudo tão simples e nós fomos complicar com as expectativas.
 Era só deixar o tempo correr, os cabelos se embranquecerem,
Rugas, marcas do tempo passado; rugas, das risadas trocadas.
Um cão a nos acompanhar, entrelaçando-se em nossas pernas.
Um quase cair, não fosse o apoio do companheiro sempre atento.
Cada minuto parecia dias recheados de doces e alegres lembranças.
E assim tudo acontecia entre a minha e a sua vida no reflexo da água.
Nas noites, luar de prata, no amanhecer dourando o nosso dia.
No nosso caminhar, víamos esquinas que olhávamos com desdém.
Sem dar-lhes atenção, seguíamos em frente saboreando cada passo.
O vento despenteava os nossos cabelos e arrepiava nossa pele.
Mas seguíamos em frente, fazendo projetos, novos sonhos a sonhar.
A nossa trilha, foi se alargando para dar passagem a outras pessoas.
E dávamos passagem, puros no nosso profundo e intenso desejar.
E sem mais nem menos, descobrimos que já não éramos só nós.
Uma legião se formou a nossa volta, para desfrutar o indivisível.
Serenos e orgulhosos mostramos todos os segredos do coração.
Não havia o que temer, o sonho nos pertencia e era intocável.
E foi então que apareceram as encruzilhadas, esquinas nunca vistas.
Primeiro foi a da incerteza, eu segui em frente, mas você entrou.
Eu chorei, mas me alcançastes e com mãos macias me abraçastes.
Depois veio a da mentira, eu cai de joelhos enquanto você se perdia.
Correste até mim e novamente me abraçaste, não consegui sorrir.
Mais adiante nos deparamos no trevo da deslealdade e eu nem olhei,
Segui em frente enquanto o via alegre passear por seus arbustos.
Novamente, me alcançaste e me abraçaste, mas já não senti o seu calor.
Então o caminho terminou e só havia duas direções para escolhermos:
E você escolheu o da traição. Olhei-a roubando-lhe de mim a cada passo.
Sentei-me no chão, ainda incrédula, o meu pranto ecoou pelos ares,
Assustando as aves, murchando as flores e roubando todo o perfume.
Chorei todo o lamento da maior das perdas, soquei a terra dura.
Olhei para o céu, com meus olhos enevoados, para obter uma resposta.
Feri minhas mãos, destrocei meu coração e apunhalei minha alma.
E assim, em trapos e trôpega, levantei-me e comecei o caminho de volta.
Dor e ira se misturavam numa massa que borbulhava dentro de mim.
E os olhos, que seu pranto derramava, olhavam a boca irônica blasfemar.
A guerreira ferida perdera para sempre o seu menino sonhador,
Numa esquina qualquer, de nome Traição.






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