No
emaranhado da vida, em qual esquina nosso sonho se perdeu?
A casa
gostosa com um lago a sua frente e flores no jardim.
Os passeios
de mãos dadas, beijos inesperados e perfume no ar.
Uma
comidinha gostosa, feita por mim, feita por você e nada mais.
Sorrisos
cúmplices, gargalhadas sonoras e olhares de soslaio.
Uma casinha
de passarinho pendurada num galho de árvore,
Um ninho
encontrado ao acaso, grama para cortar, formigas.
Tudo tão
simples e nós fomos complicar com as expectativas.
Era só deixar o tempo correr, os cabelos se
embranquecerem,
Rugas,
marcas do tempo passado; rugas, das risadas trocadas.
Um cão a nos
acompanhar, entrelaçando-se em nossas pernas.
Um quase
cair, não fosse o apoio do companheiro sempre atento.
Cada minuto
parecia dias recheados de doces e alegres lembranças.
E assim tudo
acontecia entre a minha e a sua vida no reflexo da água.
Nas noites,
luar de prata, no amanhecer dourando o nosso dia.
No nosso
caminhar, víamos esquinas que olhávamos com desdém.
Sem dar-lhes
atenção, seguíamos em frente saboreando cada passo.
O vento
despenteava os nossos cabelos e arrepiava nossa pele.
Mas
seguíamos em frente, fazendo projetos, novos sonhos a sonhar.
A nossa
trilha, foi se alargando para dar passagem a outras pessoas.
E dávamos
passagem, puros no nosso profundo e intenso desejar.
E sem mais
nem menos, descobrimos que já não éramos só nós.
Uma legião
se formou a nossa volta, para desfrutar o indivisível.
Serenos e
orgulhosos mostramos todos os segredos do coração.
Não havia o
que temer, o sonho nos pertencia e era intocável.
E foi então
que apareceram as encruzilhadas, esquinas nunca vistas.
Primeiro foi
a da incerteza, eu segui em frente, mas você entrou.
Eu chorei,
mas me alcançastes e com mãos macias me abraçastes.
Depois veio
a da mentira, eu cai de joelhos enquanto você se perdia.
Correste até
mim e novamente me abraçaste, não consegui sorrir.
Mais adiante
nos deparamos no trevo da deslealdade e eu nem olhei,
Segui em
frente enquanto o via alegre passear por seus arbustos.
Novamente,
me alcançaste e me abraçaste, mas já não senti o seu calor.
Então o
caminho terminou e só havia duas direções para escolhermos:
E você
escolheu o da traição. Olhei-a roubando-lhe de mim a cada passo.
Sentei-me no
chão, ainda incrédula, o meu pranto ecoou pelos ares,
Assustando
as aves, murchando as flores e roubando todo o perfume.
Chorei todo
o lamento da maior das perdas, soquei a terra dura.
Olhei para o
céu, com meus olhos enevoados, para obter uma resposta.
Feri minhas
mãos, destrocei meu coração e apunhalei minha alma.
E assim, em
trapos e trôpega, levantei-me e comecei o caminho de volta.
Dor e ira se
misturavam numa massa que borbulhava dentro de mim.
E os olhos, que seu pranto derramava, olhavam a boca irônica blasfemar.
A guerreira
ferida perdera para sempre o seu menino sonhador,
Numa esquina
qualquer, de nome Traição.
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