sábado, 22 de agosto de 2015

SEREIA



Ela era uma sereia serena de longos cabelos escuros,
Como uma noite sem luar, com o brilho das estrelas.
Seus olhos amendoados tinham a cor de terra lavrada.
Seus lábios carnudos lembravam um por de sol de inverno.
Sua longa cauda era de um verde esmeralda reluzente.
No momento em que ele a viu, ficou paralisado de amor.
Ela temerosa, lançou lhe olhares de soslaio e suspirou.
Mas seus corações já haviam se entrelaçado,sem saber.
Ele na terra, ela na água. E se amaram de forma contundente.
Ela lhe ensinou a cantar, a dançar, a sorrir e lhe deu alegria.
Ele lhe ensinou a andar por terras até então desconhecidas.
Andavam de mãos dadas, segurando-a nos tropeços da vida.
E ela dançava em seus braços dando ritmo ao seu ostracismo.
Assim passaram-se dias, semanas, meses e anos seguidos.
A terra invadindo a água e a água inundando o árido solo.
Aí vieram outras pessoas que não podiam entender terra e água.
Veio à inveja, veio à malícia que trouxe consigo a maldade.
E o convenceram que ela era somente uma sereia, uma ilusão.
E ele começou a vê-la somente como uma sereia, uma ilusão.
Os carinhos cessaram, a rispidez se fez presente e ela chorou.
Seus cabelos perderam a maciez, seus olhos o brilho e calou-se.
Já não se davam as mãos e não se amavam como outrora.
Ele parou de sorrir, ela parou de cantar, eles pararam de viver.
Então ela foi embora levando consigo a água que irrigava o solo.
E ele ficou com o solo seco e quebradiço, sem que nada brotasse.
Ele cavou, cavou, cavou até seus braços não conseguirem mais.
Mas nunca mais encontrou a água que se fora para sempre.
Ela chorou, chorou, chorou até descobrir que ainda sabia cantar.
Ele com o corpo cansado do vão trabalho murchou com as plantas.
Ela cantando com sua voz doce, voltou a ter os encantos de sereia.
A inveja, a malícia e a maldade, gargalham sobre a estupidez dele,
E seguem suas vidas sem se importar com sua morte em vida.
Ele dessolado olha o horizonte a procura da sua sereia, sem vê-la.
Ao seu lado, sobre o chão seco, cisca uma galinha de Angola,
Trazendo-lhe alegrias efêmeras e passageiras, pois quando cai à noite,
É o canto da sua sereia que lhe embala os sonhos e lhe beija a boca.





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