sábado, 22 de agosto de 2015

MENINO TOLO



Parada na porta, com o peito dilacerado, ela o viu sair.
Já não lembrava mais se ele olhara para trás, se lhe sorriu.
Ficara somente, tatuada em sua retina, a última imagem:
Suas costas eretas, afastando-se e levando-o da sua vida.
Fechou a porta, nela apoiando-se, e escorregou até o chão.
O pranto contido se fez presente, soluços encheram o ar.
Olhou para mesa posta e viu as sobras do café da manhã.
Seus lábios ainda ardiam rachados pelos beijos trocados.
Sentia em seu corpo o perfume que ele deixara em si.
Tudo era surreal, quem sabe um sono que se tornou ruim.
Levantou-se o foi para a janela, queria vê-lo uma última vez.
Viu o carro afastando-se sem saber se ele a olhava também.
Sentou-se na poltrona, acendeu um cigarro e depois outro.
A fumaça se esvaia tal qual sua tola ilusão dos dias vividos.
A risada gostosa e as mãos entrelaçadas nada mais importavam.
Não haveria mais sussurros no ouvido, nem cumplices olhares.
Tudo se fora, como a fumaça de um cigarro já apagado.
Restara ela, sua solidão, as lágrimas e a dor não compartilhada.
Ergueu suas mãos para acalentar seu coração já tão desiludido,
Mas não o encontrou, no seu lugar havia uma grande pedra,
A mostra-lhe que já não poderia mais amar a ninguém, a nada.
Num derradeiro ato de covardia ele fizera a troca, sorrateiramente.
Adormecida em seus braços, ele roubou-lhe tudo que sobrara.
Invadiu sua privacidade, adonando-se de seus segredos e sonhos.
Tudo que havia dentro de si, agora lhe pertencia de forma irrestrita.
Por descuido e sem maldade, ela se desnudara de sua armadura.
E ele vendo-a, assim frágil, desmaiada no calor que lhe oferecia.
Quis a única coisa que ainda não lhe pertencia, o que pulsava.
O que permitiria que ela não morresse com sua saída programada.
Era uma morte anunciada, onde ele lhe fizera a protagonista.
E ele, como coadjuvante, assistia de camarote a cena principal.
Agora, ao tocar a pedra fria que ele lhe presenteara no ato final,
Desiludida entre lágrimas ria-se por saber que sua inata alegria,
Era o que o fazia gargalhar leve todas as noites que dividiram.
Tornando-se, algoz e vitima, exilando-se numa amargura sem luar.



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