segunda-feira, 26 de outubro de 2015

LÁGRIMAS NEGRAS

 
Despida de tudo, eu olhava nos teus olhos, enquanto falavas.
Lágrimas negras escorriam pelo meu rosto pingando no lençol.
Falavas com a voz calma de quem conta uma história de ninar.
Não mostravas nenhuma emoção, meu pranto te era indiferente.
Fechei meus olhos para não ouvir tuas palavras cruas e ferinas.
Um gosto amargo subiu-me a boca, calando as dores com teu fel.
Levantei-me com mãos tremulas e pernas errantes para o nada.
Dei-te as costas, escondendo toda a amargura que de mim exalava.
Com dificuldade, fui vestindo-me com as roupas jogadas no chão.
Falaste para eu ficar. Era madrugada, chovia e estava muito frio.
Não viste o sorriso que te dei como resposta, nem o soluço mudo.
Como poderia deitar-me ao teu lado, sobre as mágoas derramadas?
Sem te tocar e sem sentir o calor que resistia ao vento da mentira?
Tantas foram às vezes que declaraste teu amor e de tantas formas.
Com tantas falsas ilusões preenchestes meus dias e minhas noites.
Não, nada restava de mim naquele lugar, exceto meu coração ferido.
Entrei no carro, sem saber o caminho de volta, fui andando sem rumo.
A névoa, a chuva e as lágrimas se misturavam de forma harmônica.
Assim perdida, na madrugada escura, fui achando-me dentro de mim.
E ao encontrar-me, vi que nada fora e que nada era senão um jogo.
O desatino da minha fragilidade me fez uma presa fácil em tua teia.
Horas se passaram até encontrar o caminho para minha segurança.
Ingenuamente, pensando estares preocupado, liguei-te para avisa-lo.
Mas tu dormias talvez o sono dos justos ou o sono dos apodrecidos.
Estava amanhecendo, tudo era silencio, nenhum pássaro estava a voar.
Joguei-me na poltrona e pude então chorar o que ainda restava de dor.
Pouco depois, os sabiás começaram a cantar anunciando um novo dia.
E eu, insone, levantei-me para viver a Lei da Vida ou a Lei da Selva.





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