Despida de
tudo, eu olhava nos teus olhos, enquanto falavas.
Lágrimas
negras escorriam pelo meu rosto pingando no lençol.
Falavas com
a voz calma de quem conta uma história de ninar.
Não
mostravas nenhuma emoção, meu pranto te era indiferente.
Fechei meus
olhos para não ouvir tuas palavras cruas e ferinas.
Um gosto
amargo subiu-me a boca, calando as dores com teu fel.
Levantei-me
com mãos tremulas e pernas errantes para o nada.
Dei-te as
costas, escondendo toda a amargura que de mim exalava.
Com
dificuldade, fui vestindo-me com as roupas jogadas no chão.
Falaste para
eu ficar. Era madrugada, chovia e estava muito frio.
Não viste o
sorriso que te dei como resposta, nem o soluço mudo.
Como poderia
deitar-me ao teu lado, sobre as mágoas derramadas?
Sem te tocar
e sem sentir o calor que resistia ao vento da mentira?
Tantas foram
às vezes que declaraste teu amor e de tantas formas.
Com tantas
falsas ilusões preenchestes meus dias e minhas noites.
Não, nada
restava de mim naquele lugar, exceto meu coração ferido.
Entrei no
carro, sem saber o caminho de volta, fui andando sem rumo.
A névoa, a
chuva e as lágrimas se misturavam de forma harmônica.
Assim
perdida, na madrugada escura, fui achando-me dentro de mim.
E ao
encontrar-me, vi que nada fora e que nada era senão um jogo.
O desatino
da minha fragilidade me fez uma presa fácil em tua teia.
Horas se
passaram até encontrar o caminho para minha segurança.
Ingenuamente,
pensando estares preocupado, liguei-te para avisa-lo.
Mas tu dormias
talvez o sono dos justos ou o sono dos apodrecidos.
Estava
amanhecendo, tudo era silencio, nenhum pássaro estava a voar.
Joguei-me na
poltrona e pude então chorar o que ainda restava de dor.
Pouco
depois, os sabiás começaram a cantar anunciando um novo dia.
E eu,
insone, levantei-me para viver a Lei da Vida ou a Lei da Selva.
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