terça-feira, 20 de outubro de 2015

MULHER MENINA


Eu estava tão feliz, como há muito não me lembrava.
Aí vocês chegaram, sem qualquer aviso, nenhum sinal.
Primeiro vieram silenciosamente, quase sem se notar.
Borraram a maquiagem, tornando negro meu rosto.
Depois, sem serem contidas, ocuparam todo meu ser.
Vieram de dentro da alma acompanhadas pela dor.
Era uma dor lacerante que ia me cortando por inteiro.
Achei não haver mais nenhuma, então, a ser chorada.
Já tanto chorara; foram meses a fio a me acompanhar.
E tu me prometeras nunca me magoar, nunca me ferir.
Tu que as tinha secado com seus lábios e seus carinhos.
E eu acreditei e me fiz frágil, tirando todas as armaduras.
Despi-me da muralha que havia erguido a minha volta.
Fiz-me menina outra vez e te fiz meu sonho de felicidade.
Mas tu tiraste de mim a esperança de crer no sentimento.
Em todos os sentimentos que poderia um dia vir a sentir.
Não desejo mais saber o gosto do beijo em meus lábios.
Não quero que toquem em meu corpo mãos carinhosas.
Sequer quero olhares ou sorrisos que possam me encantar.
Quando estava na beira do abismo, tu me puxaste para ti.
Alojastes-me em teus braços, protegendo-me de todos.
E ali fiz minha morada, sentindo-me segura no teu abraço.
A tua voz era macia e embalava-me para dentro de mim.
Assim, voltei a florir com mil cores e infinitos perfumes.
Acalmaste meu coração com o som de pássaros invisíveis.
Deitaste meu corpo no gramado onde moram as ilusões.
Num determinado momento, todo o cenário foi destruído.
Novamente vi o sangue brotar de meu peito e assustada,
Vi que eras tu que me ferias, de forma desleal e traiçoeira.
As lágrimas eram o reflexo de toda minha tola ingenuidade.
Eras o punhal a me ferir no exato local que havias curado.
Estupefata, te olhei sem entender nada do que se passava.
Esperei que me abraçasses e me pedisses para ficar do lado.
Mas foi o teu silencio o que ouvi, e então saí na chuva sem ter destino.
E a chuva, a névoa e as lágrimas se misturaram a todo o meu lamento.
E assim voltei, exatamente, ao ponto de onde um dia havias me tirado.




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