Ele olhava a
sua volta, em qualquer direção, e só via devastação.
Nada havia
que pudesse fazer, tudo morria e se ia como ela fora.
Ainda
lembrava-se de seus olhos brilhantes, seu sorriso tão franco.
Sua
insaciável vontade de viver, de criar, de iluminar tudo e todos.
Seu jeito
destemido a desbravar caminhos e sonhos nunca sonhados.
As loucuras
que juntos fizeram na mais completa e perfeita lucidez.
Ria ao
lembrar-se das suas tolices enquanto as lágrimas escorriam.
Ainda sentia
sua mão macia procurando a dele, enquanto andavam.
Parecia-lhe
que fora ontem a última vez, mas tanto tempo já se passara.
Primeiro ela
foi murchando, apagou seu sorriso e enevoou seus olhos.
Depois suas
forças foram desaparecendo como os pássaros ao anoitecer.
Mais tarde,
tornou-se uma sombra invisível de tudo aquilo que era antes.
Até o dia em
que deixou de existir para sempre, tornando-se inacessível.
Por que
aquilo tivera que acontecer de forma assim tão inesperada?
Por que ele
não percebera que ela estava morrendo aos poucos?
Ela que o
salvara e outras tantas coisas protegera com seu corpo.
Ela que
nunca o deixara sozinho nas suas horas de aflição e de dor.
A
companheira, parceira, cumplice, amiga, mãe, filha e sua mulher.
Agora,
estava ele ali sozinho em meio à ruinas, restos da sua ausência.
O pouco que
ainda o fazia sentir-se vivo, era o filho que ela lhe deixara.
Ele não
sabia onde ela estava, mas devia estar feliz, bem e em total paz.
Talvez ela
estivesse vendo tudo, lá do alto e quem sabe tivesse piedade.
Ela sempre
fora uma pessoa boa e caridosa, quem sabe o teria perdoado.
E de todo
mal que ele lhe causara, somente uma vez ela lhe fizera chorar.
Já cansada
de tantos descasos, tantas omissões, ironias e humilhações,
Olhou-o nos
olhos e sem qualquer compaixão falou lhe todas as mágoas.
Nada fez
pelas costas, escondido ou aos sussurros como ele lhe fizera.
Olhou-o bem
dentro dos olhos, viu sua soberba transformar-se em pó.
Mas não riu
de suas lágrimas como ele fizera com as dela, tantas vezes.
E agora, em
meio ao caos que sua vida se transformara, ele que achara
Que ela não
era prefácio nem epílogo na sua existência de falsos valores,
Descobrira que ela e somente ela fora o livro
todo e que ele não o lera
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