terça-feira, 10 de novembro de 2015

PÁSSARO ERRANTE

Ela andava sobre as pedras das ilusões já perdidas.
Aranhava-se nos galhos das esperanças sem sentido.
E determinada, de forma destemida, seguia em frente.
O corpo todo ia se ferindo durante a árdua jornada,
Mas ela sequer olhava para trás, para o que deixava.
A dor da alma suplantava e abrandava a dor da pele.
Tudo, um dia, cicatrizaria como ocorrera muitas vezes.
Ficara surda aos chamados das falsas juras de amor.
A brisa das desilusões sofridas secava o seu pranto,
Antes mesmo das lágrimas que teimavam em se formar.
Tentara com todas as suas forças lutar contra o inevitável.
Esse adeus não dito foi, de todos, o que mais lhe doeu.
Quisera não tê-lo feito, quisera não ter virado as costas.
Enfim chegara o momento em que nada mais restava.
Vestiu-se com roupa de coragem e foi-se sem nada dizer.
Não havia necessidade de explicações, estava explícito.
De seu peito fenestrado, ela o libertava pássaro errante,
Para voares por onde quisesses, para aonde desejasses.
Tu sempre saberias onde encontra-la, aonde ela estava.
E se um dia já cansado do mundo, pousasse em sua janela,
A veria a viver a vida que lhe estava predestinada a viver,
Mas não a reconheceria pois seus lábios já haviam secado
Pela falta do derradeiro, o beijo que só na saudade existiu.
E ela também não já o reconheceria pois das humilhações,
Descasos e descuidos dele, ela tecera uma venda a lhe cegar.
Para caso ele viesse a sua procura, ela não o visse a sua frente.



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