quarta-feira, 25 de novembro de 2015

MARIPOSAS DA NOITE

Depois de tantos anos com alguém sempre ao seu lado,
Invejando seus amigos, os mariposas das noites insones.
Viu-se pela primeira vez sozinho e com total liberdade.
Tal qual um menino liberto dos zelos infindos da mãe.
No início ficou meio assustado e não sabia o que fazer.
Depois, os novos companheiros lhe ensinaram as rondas.
Bufão deslumbrado viu-se um rei, de um reino fugaz.
Assediado de forma contumaz, era a vida que sonhara.
E assim, de mão em mão, via passando as suas noites.
Sentia-se feliz e lamentava os tempos antes passados.
Como não descobrira antes toda essa vida de luxúria?
Era o paraíso na terra, lugar de onde nunca mais sairia.
Fazia exercícios, cuidava de sua aparência como nunca.
Galanteador e cheio de mesuras... mais um conquistador.
E assim viveu anos, crendo que tudo isso nunca findaria.
Seus cabelos grisalhos eram um chamariz por aonde ia.
Sua risada era ampla, mostrando os seus dentes alvos.
Então suas velhas mãos começaram a teimar em tremer.
Já não conseguia exercitar-se como antes e tudo lhe doía.
Não tinha mais forças para enfrentar as noitadas de antes.
Sentava-se no sofá, solitário, a assistir um filme qualquer.
O sono não vinha e as lembranças assolavam seu pensar.
Pela manhã, encontrava com amigos num boteco qualquer.
Almoçava os petiscos do bar para não sentar-se só a mesa.
Temia por sua saúde e o medo de não ter com quem ficar,
Fora o tornando hipocondríaco e a sua morte o martirizava.
Estava sozinho, em uma casa vazia de amores e de cuidados.
Tantas mulheres passaram por sua vida, mas ele não as via.
Era mariposa da noite a voar para a luz, acreditando ser o sol.
Agora as lâmpadas lhe queimavam as asas de forma desleal.
O seu paraíso, fez-se inferno e de rei passou a ser o vassalo.
Lamentou o tempo passado, as mãos estendidas que recusou.
Queria corpos e não as almas que agora estariam ao seu lado.
Não tinha que lhe fizesse afago, nem ouvisse as suas histórias.
Tudo tinha que pagar: carinhos, companhias, sorrisos e ilusões.
Finalmente, foi perceber que era um velho já há muito perdido,
Que precisara aproveitar a vida de forma lasciva e despreocupada.
Esquecendo-se que um dia viria a precisar de olhos compassivos,
De um bom dia e boa noite carinhosos, de um falar manso e suave.
Então, tarde demais, deu-se conta que seu castelo era só de areia.
As oportunidades perdidas foram para sempre abandonadas ao léu.
E sua vida purgava num inferno que um dia chamara de paraíso.





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