segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Vinte e Nove


Divago sobre coisas sem sentido enquanto, sentada, sobre a grama ainda úmida da chuva que castigava a terra há meses, percebo tudo o que havia vivido até então. 
Por muitos momentos havia até pensado em desistir, cerrando as cerdas douradas rente a meus pulsos que teimavam em não se romper.
Questiono-me se algo faria sentido então ou se apenas deixaria mais feridas naqueles que, em algum momento, acolheram-me na longa jornada de anos.
Lembro subitamente do 21 de março, a data de hoje, em que completava 29 anos.
Já haviam rugas que riscavam minha face, ameaçando denunciar minha idade que, até então, era de uma menina.
Olhava-me ao espelho e gostava daquilo que via. 
Eu era bonita, cobiçada, mas de uma forma tão sutil, colecionava amores e os via partir. 
Nunca fui de me apaixonar perdidamente, mas sofria toda a vez que a porta fechava deixando passos na escuridão.
Sempre vivi sozinha e gostava daquele aconchego com gosto de liberdade que isto me trazia, gostava do poder de controlar minha própria existência.
Havia um medo e um espanto toda a vez que alguém invadia aquele universo só meu.
Era meu e ninguém poderia tomar conta dele, não até o momento em que quisesse realmente ficar.
Tive namorados loucos, ciumentos, preguiçosos e possessivos...
Mas também tive aqueles que faziam o mundo ter sentido e enchiam o ar de graça por onde caminhavam.
Todos eles, cedo ou tarde, partiam, abrindo espaço para o sentimento mais nobre que podia sentir, a amizade.
Não poderia esquecer também daqueles que me cercavam e que arrancavam meus sorrisos pelo simples fato de existirem. 
Nunca tive muita paciência para consertos ou para esperar do outro um gesto delicado de bem querer sem que antes disto viesse uma tempestade.
Já tinha experiência farta com tormentas e furacões...
Conhecia o mundo a meus olhos, e sentia ciúmes...
Queria me mudar, mudar de emprego, carregar o mundo dentro do peito.
Ou talvez ficar e ver mais primaveras e verões da janela do meu quarto.
Casar e ter filhos era uma opção, ou não.
Poucos entendiam que tudo o que precisava era de alguém que me colocasse no topo do mundo com os pés no chão. 
Alguém que não fosse tão ruim e nem tão perfeito como tudo o que tive até então.
Alguém de verdade!
E enquanto isso, em um flashback de emoções, enquanto a grama salpicava a minha pele clara como a neve, vislumbrava um novo começo, um novo caminho, uma nova era.
E divagava sobre tudo o que vivi até então, em longos versos que condiziam com os meus mais íntimos segredos.
Segredos estes que carregava no peito no dia 21 de março, no auge dos meus 29 anos tão cheios de vida e tão cheios de histórias para contar...

Um comentário:

  1. Profundo, denso, mas claro e transparente.
    Mergulhei, meio sem permissão... Ou permitido, sem intenção...
    Mas gostei de me molhar nessas tuas águas...
    Obrigado!

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