quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Até que um dia


Tranco a porta e na vitrola que jaz em cima do cômodo velho, coloco o refrão mais doce que posso encontrar. Danço comigo mesma na frente do espelho, entre caretas, sorrisos e lembranças do abraço que me acalmava. Invento passos, na medida em que a música enche o ar de vida, espalhando sentimentos bons dentre as paredes que me cercam. Enxergo uma multidão de mim mesma, compartilhando o momento que é meu, só meu, ou nosso.
Descubro o meu melhor sorriso e a cara triste que fazia quando brigava com você. Percebo que posso ser tudo e nada, nessa brincadeira de criança que me faz sorrir.
Brinco de esconde- esconde com o reflexo do espelho e me vejo flutuar nesse mar azul da saudade.
Penso em você e em mim, enquanto ainda éramos jovens e dançávamos essa música no meio de mil promessas de amor eterno.
Meu rosto se ilumina e mesmo assim continuo a dançar junto com o som que parece tão fresco e ao mesmo tempo antigo.
Faço as mesmas juras de amor que soava ao seu ouvido, todas as noites, antes de dormir.
Sonho com os dias em que ficamos juntos.
E assim, ao som que ainda toca na vitrola, agradeço por sua companhia nos muitos anos em que vivemos juntos, sem perceber os cabelos grisalhos que habitam meu rosto.
O tempo passou depressa demais!
E antes que a música acabe, imagino-lhe ali, comigo, como muitas vezes antes de você partir.
Os anos levaram-lhe de mim...
Mas mesmo assim, consigo sentir o frescor da sua pele rente a minha, ao dançar mais esse doce refrão que embalou as nossas vidas e que lhe faz vivo, todos os dias, até que um dia eu possa lhe encontrar. 

Natália Mattos


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