sexta-feira, 18 de setembro de 2015

IMAGEM NO ESPELHO


Ela olhava com tristeza para os papeis escritos, a sua frente.
Tantas mentiras, tantas coisas ditas que reavivaram as dores.
Onde estava aquela pessoa tão íntegra, tão honesta e boa?
A pessoa por quem se apaixonara perdidamente era outra.
Eram folhas e mais folhas a escorregarem de suas mãos e,
Em nenhuma delas, sequer nas vírgulas, havia uma só verdade.
Lágrimas de exaustão do querer saiam de seus olhos perplexos,
E caiam sobre aquelas palavras doloridamente infames, cruéis.
Ela já sofrera tanto! Tantos dias e noites abraçadas à angústia!
Sabia que agora tudo recomeçaria, machucando-a de novo.
As feridas ainda em cicatrização voltaram a verter sangue.
As chagas se abriram e podia ver-se dentro delas, a carne viva.
Seu corpo todo era uma massa de padecimentos alucinantes.
E ela o imaginava a olhar-se no espelho com seu jeito correto,
Sem notar que a imagem refletida era tão fétida e horrenda.
Esquecera-se de tudo com que ela lhe presenteou: sua vida.
Largou tudo e foi ter com ele, juntos, plantaram e colheram.
Mas tudo isso fora esquecido, como esquecera seu passado.
Sua memória seletiva livrava-o das culpas e erros cometidos.
E altivo, no alto da sua prepotência a olhava com desdém,
Como olhava a todos a sua volta, numa falsa cortesia fugaz.
Como será que conseguia olhar os olhos de seus filhos e netos?
Com certeza, com a sua característica soberba crendo engana-los.
E tudo era conveniente para todos, pouco se importavam com ela,
Que fora só mais uma, mas só mais uma que ousou desafia-lo.
Mas a imagem no espelho; ah esta imagem jamais mentiria,
E nela estava toda a sua vida refletida, com seus escusos atos.
Ela tentou de todas as formas amenizar, mudar essa imagem.
Enquanto esteve ao seu lado, conseguiu faze-lo mais doce.
Mas quando ele se voltou contra seu anjo, perdeu a bondade.
E ela expulsa, foi andando sem rumo por caminhos incertos.
Mas tinha em si toda a caridade de um coração inocente,
Que a acompanhavam por aonde ia, pois eram inseparáveis.
Ele ficara sem alma, pois ela era a sua alma e seu sentimento.
Agora em trapos, ela vivia com muitas dificuldades materiais,
Mas abundava em boas atitudes e conduta ilibada pela vida.
Ele, por sua vez, esbanjava seu poder econômico sem limites.
E nestes papeis em seu colo, ela via toda a sua pequenez,
Ao tentar torna-la, de forma inverídica, uma pessoa indigna.
As lágrimas eram abundantes em seu rosto, não sabendo,
Se por si, se pelas palavras lidas ou se pela imagem no espelho.





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