Ela olhava
com tristeza para os papeis escritos, a sua frente.
Tantas
mentiras, tantas coisas ditas que reavivaram as dores.
Onde estava
aquela pessoa tão íntegra, tão honesta e boa?
A pessoa por
quem se apaixonara perdidamente era outra.
Eram folhas
e mais folhas a escorregarem de suas mãos e,
Em nenhuma
delas, sequer nas vírgulas, havia uma só verdade.
Lágrimas de
exaustão do querer saiam de seus olhos perplexos,
E caiam
sobre aquelas palavras doloridamente infames, cruéis.
Ela já
sofrera tanto! Tantos dias e noites abraçadas à angústia!
Sabia que
agora tudo recomeçaria, machucando-a de novo.
As feridas
ainda em cicatrização voltaram a verter sangue.
As chagas se
abriram e podia ver-se dentro delas, a carne viva.
Seu corpo
todo era uma massa de padecimentos alucinantes.
E ela o
imaginava a olhar-se no espelho com seu jeito correto,
Sem notar
que a imagem refletida era tão fétida e horrenda.
Esquecera-se
de tudo com que ela lhe presenteou: sua vida.
Largou tudo
e foi ter com ele, juntos, plantaram e colheram.
Mas tudo
isso fora esquecido, como esquecera seu passado.
Sua memória
seletiva livrava-o das culpas e erros cometidos.
E altivo, no
alto da sua prepotência a olhava com desdém,
Como olhava
a todos a sua volta, numa falsa cortesia fugaz.
Como será
que conseguia olhar os olhos de seus filhos e netos?
Com certeza,
com a sua característica soberba crendo engana-los.
E tudo era
conveniente para todos, pouco se importavam com ela,
Que fora só
mais uma, mas só mais uma que ousou desafia-lo.
Mas a imagem
no espelho; ah esta imagem jamais mentiria,
E nela
estava toda a sua vida refletida, com seus escusos atos.
Ela tentou
de todas as formas amenizar, mudar essa imagem.
Enquanto esteve
ao seu lado, conseguiu faze-lo mais doce.
Mas quando
ele se voltou contra seu anjo, perdeu a bondade.
E ela
expulsa, foi andando sem rumo por caminhos incertos.
Mas tinha em
si toda a caridade de um coração inocente,
Que a
acompanhavam por aonde ia, pois eram inseparáveis.
Ele ficara
sem alma, pois ela era a sua alma e seu sentimento.
Agora em
trapos, ela vivia com muitas dificuldades materiais,
Mas abundava
em boas atitudes e conduta ilibada pela vida.
Ele, por sua
vez, esbanjava seu poder econômico sem limites.
E nestes
papeis em seu colo, ela via toda a sua pequenez,
Ao tentar
torna-la, de forma inverídica, uma pessoa indigna.
As lágrimas
eram abundantes em seu rosto, não sabendo,
Se por si,
se pelas palavras lidas ou se pela imagem no espelho.
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