domingo, 26 de julho de 2015

DESCONHECIDA



Você não foi o primeiro homem da minha vida.
Você foi somente o mais cruel e vil da minha vida.
Como um ladrão, você chegou de forma dissimulada,
E com cuidado, foi roubando tudo que havia em mim.
Com um largo sorriso, me roubaste a música da alma.
Tiraste todo o som que havia em mim, minha alegria.
Eu não me importei e fiz de você a minha canção.
Depois, entre um beijo e outro, me tiraste os sonhos.
Eu não me importei e sonhei os seus sonhos.
Aos poucos você foi dilapidando-me de mim mesma.
Perdi minha sombra para ser a sua sombra.
Com voz mansa e verdades só suas, convencias-me.
Assim despida de mim, deixei de reconhecer-me.
Olhava-me no espelho e o reflexo era amorfo.
Agora, separada daquela que fora um dia,
Via meus pedaços jogados, displicentemente.
Via seus pés a pisar-me, suas mãos amassarem-me.
Olhava nacos de mim e sem importar-se, descartava.
Soberba e prepotência eram minhas únicas companhias,
Com seu olhar sarcástico e dolorosamente irônico,
Fazia com que eu acreditasse ser minha a sua culpa.
Hipnotizada por um amor onírico, tentava melhorar.
A cada tentativa, ouvia sua risada a ferir-me como um punhal.
Enroscada na sua teia de finos fios de aço, sufocava-me.
E tinha a esperança de que se compadecesse de mim.
De ver, novamente, aquele olhar, simuladamente, meigo,
Que fez com eu me apaixonasse, em troca de simples afeto.
Só queria que segurasse minha mão, um olhar de ternura,
Palavras meigas e deixar-me inteira como outrora.
Mas você negou, não quis me dar pequenos gestos.
Sozinha, apagada, enfraquecida, deixei de lutar.
Deixei de enfeitar-me, os perfumes envelheciam.
As roupas não saiam do armário e sapatos emboloravam.
Cativa de um amor doentio escondi-me dentro de mim.
Por não reconhecer aquela que, sem censura, o espelho refletia.





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