terça-feira, 21 de julho de 2015

ESTRANHOS



Assim que terminavam de almoçar,
Eles iam sentar-se na varanda,
Enquanto as mulheres cuidavam da lida de tudo arrumar
E preparar as quitandas, para o lanche da tarde.
Sentavam-se lado a lado, num penoso silencio.
O velho resmungava: acho que vai chover.
E o mais novo balançava a cabeça em concordância.
O tempo passava tão vagarosamente que chegava a doer.
Eles tinham tanto a se dizer, mas calavam-se.
O mais velho pensava: quando perdi meu filho?
O mais novo mexia incessantemente com as mãos.
Olhava o relógio e parecia que os ponteiros haviam parado.
Essa angústia de ficar ali, sem ter o que dizer, o oprimia.
O velho o olhava, de soslaio, e via o seu desespero.
Por que te incomodo tanto? Eu te amo, meu filho.
Seu coração gritava sem que o outro ouvisse.
Balançava as pernas, olhava para o teto descascado,
E não via o tempo passar, para seu desespero.
O velho olhava suas próprias mãos enrugadas,
E via em cada ruga um dia de trabalho árduo,
Que permitiram que o outro estivesse onde estava.
Tinha tanto orgulho! Falava para os amigos sobre ele.
Mas quando ali estava uma barreira se formava
E nada conseguia derruba-la.
O jovem achava que a ignorância do pai, nada entenderia.
O pai acreditava que o filho se envergonhava de seu jeito rude.
Assim ficavam tardes e tardes, fingindo estarem juntos.
Sem sequer se tocarem ou se olharem.
Era um seco abraço na chegada e outro na partida.
E quando ele ia embora, o velho corria a contar para os amigos,
Conversas que sonhara poder ter tido, como se fossem verdades.
Coisas que ouvira de outras conversas com outras pessoas.
E era puro orgulho. Enchia o peito e por vezes secava uma lágrima
Que teimava em surgir, não sei bem se de tristeza ou emoção.
Finalmente chegava a hora do café e o martírio tinha um fim.
Passados alguns dias ele partia, sentindo-se livre dessa obrigação.
Agora só no próximo ano. E esse pensamento dava um amargo na boca.
Em pé, diante do caixão do seu velho pai, tocava-lhe as mãos.
Via como eram duras, cheias de calos, envelhecidas e frias.
Chorava e lamentava nunca ter-lhe dito que o amava.
Lembrava-se das tardes longas de silêncios mortais que passaram juntos.
Sentia a aspereza das mãos que o fizeram ser quem era.
E os olhos fechados da morte, não podiam reprovar lhe.
Tanto amor desprezado, tanta mágoa infringida.
E nada mais poderia fazer. O tempo passara rápido demais.
O velho partira solitário do seu carinho, para nunca mais voltar.
E ele ali parado, via os anos de abandono que lhe impusera.
Tocou-lhe o rosto, beijou-lhe a testa e deixou que a dor do pai,
Atravessasse seu corpo como uma espada, na vã tentativa de redimir-se.
Esquecendo-se que as feridas provocadas nunca cicatrizam,
Nem mesmo na morte em vida em que estava.


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