Assim que
terminavam de almoçar,
Eles iam
sentar-se na varanda,
Enquanto as
mulheres cuidavam da lida de tudo arrumar
E preparar
as quitandas, para o lanche da tarde.
Sentavam-se
lado a lado, num penoso silencio.
O velho resmungava:
acho que vai chover.
E o mais
novo balançava a cabeça em concordância.
O tempo
passava tão vagarosamente que chegava a doer.
Eles tinham
tanto a se dizer, mas calavam-se.
O mais velho
pensava: quando perdi meu filho?
O mais novo
mexia incessantemente com as mãos.
Olhava o
relógio e parecia que os ponteiros haviam parado.
Essa
angústia de ficar ali, sem ter o que dizer, o oprimia.
O velho o
olhava, de soslaio, e via o seu desespero.
Por que te
incomodo tanto? Eu te amo, meu filho.
Seu coração
gritava sem que o outro ouvisse.
Balançava as
pernas, olhava para o teto descascado,
E não via o
tempo passar, para seu desespero.
O velho
olhava suas próprias mãos enrugadas,
E via em
cada ruga um dia de trabalho árduo,
Que
permitiram que o outro estivesse onde estava.
Tinha tanto
orgulho! Falava para os amigos sobre ele.
Mas quando
ali estava uma barreira se formava
E nada
conseguia derruba-la.
O jovem
achava que a ignorância do pai, nada entenderia.
O pai
acreditava que o filho se envergonhava de seu jeito rude.
Assim
ficavam tardes e tardes, fingindo estarem juntos.
Sem sequer
se tocarem ou se olharem.
Era um seco
abraço na chegada e outro na partida.
E quando ele
ia embora, o velho corria a contar para os amigos,
Conversas
que sonhara poder ter tido, como se fossem verdades.
Coisas que
ouvira de outras conversas com outras pessoas.
E era puro
orgulho. Enchia o peito e por vezes secava uma lágrima
Que teimava
em surgir, não sei bem se de tristeza ou emoção.
Finalmente
chegava a hora do café e o martírio tinha um fim.
Passados
alguns dias ele partia, sentindo-se livre dessa obrigação.
Agora só no
próximo ano. E esse pensamento dava um amargo na boca.
Em pé,
diante do caixão do seu velho pai, tocava-lhe as mãos.
Via como
eram duras, cheias de calos, envelhecidas e frias.
Chorava e
lamentava nunca ter-lhe dito que o amava.
Lembrava-se
das tardes longas de silêncios mortais que passaram juntos.
Sentia a aspereza
das mãos que o fizeram ser quem era.
E os olhos
fechados da morte, não podiam reprovar lhe.
Tanto amor desprezado,
tanta mágoa infringida.
E nada mais
poderia fazer. O tempo passara rápido demais.
O velho partira
solitário do seu carinho, para nunca mais voltar.
E ele ali
parado, via os anos de abandono que lhe impusera.
Tocou-lhe o
rosto, beijou-lhe a testa e deixou que a dor do pai,
Atravessasse
seu corpo como uma espada, na vã tentativa de redimir-se.
Esquecendo-se
que as feridas provocadas nunca cicatrizam,
Nem mesmo na
morte em vida em que estava.
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