segunda-feira, 6 de julho de 2015

Para Você


Encolhida num canto, pés descalços, corpo em chamas,
Ela ouviu passos se aproximarem e sentiu medo.
O mesmo medo que a perseguia por tanto tempo.
Agarrou sua cabeça por entre as mãos, escondendo-a.
Queria ficar invisível, misturar-se ao papel de parede.
O som ficava mais forte e seu coração mais acelerado.
Não suportaria mais, estava tão fraca e indefesa.
Era um corpo em trapos numa alma em farrapos.
Pensou em Deus, rezou para que tudo acabasse logo.
Tentou chorar, mas seus olhos já não tinham lágrimas.
Pensou em gritar, mas ninguém a ouviria, já sabia.
Só lhe restava esperar, inerte em seu contumaz padecer.
Os passos pararam ao seu lado e de soslaio olhou-o.
Ele ajoelhou-se ao seu lado, tocou de leve seus cabelos.
De forma mansa, tirou sua camisa e a cobriu com leveza.
Ficou uma eternidade, olhando-a como jamais fora olhada.
De forma terna, puxou-a para seu peito, aninhando-a.
Com cuidado foi tocando suas feridas e limpando sua dor.
Agora as lágrimas, já inexistentes, caiam em abundancia.
Com seus lábios, ele sorvia uma a uma, até que nada restasse.
Pela primeira vez, segurou seu rosto e fê-la olhar em seus olhos.
Bem baixinho lhe falou que tudo acabara que ele estava ali.
Que não importava as feridas, marcas deixadas pela vida.
Não importava seu corpo cansado e sua alma desnuda.
Não importava seus medos e seus padeceres, ele estava ali.
Não exigiria seu amor porque era ele quem iria amar.
Só queria vê-la forte, bonita, feliz tal qual outrora e,
Então poria uma musica e em seus braços a faria girar e girar.
E o som de sua risada alegre abafaria a música que os envolvia.
E ela saberia que sempre o amou e que era amada como nunca.
E rodando, rodando, viveriam um para o outro num reino
Onde ele seria seu rei e ela sua rainha e a única lei seria amar.
Amar de forma incondicional, absoluta, plena e infinita.

Escrita por Carmen Mattos

4 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...