Ela era um
pássaro vistoso e alegre.
Voava por
jardins e areias alvas.
Quando se
cansava, pousava em qualquer lugar.
Pois todos a
conheciam e a amavam.
E para ela,
todos os lugares eram lindos.
E aí se
punha a cantar melodiosamente.
Seu canto
espalhava-se no ar suavemente.
Vibrante e
cheia de vida, cantava e voava.
Voava e
cantava incessantemente.
Um dia um
homem a viu e ficou fascinado,
Por sua
beleza, seu canto, sua alegria.
Ele vinha de
longe e não partiria sem ela.
Ofereceu-lhe
uma gaiola dourada,
Não
precisaria mais procurar por comida,
Teria um
abrigo, cuidados e muito amor.
Ela seduzida
pelas suas promessas,
Encantou-se
por ele e partiu.
Trocou toda
a sua liberdade de voar,
De viajar
por entre campos e mares,
Por aquele
homem que tanto lhe prometia.
Lá chegando,
foi posta numa linda gaiola dourada,
Como ele lhe
dissera, e ele sentava-se ao seu lado.
Só para
ouvi-la cantar e transbordar alegrias.
O tempo foi
passando, o dourado da gaiola desgastando.
Ele já não
vinha vê-la cantar, pouco aparecia.
E ela presa,
não podia mais voar.
Seu canto
virou um lamento, mas ele nem percebia.
Suas cores
foram murchando, mas ele sequer notava.
A cada dia
que se passava, mais rouco ficava seu cantar.
Suas penas,
já sem cor, começaram a cair.
Ela era a
imagem do desalento e solidão.
Mas ele
quase não a via e não notava que ela se apagava.
Sua gaiola,
um dia dourada, agora era só ferrugem.
Entristecida
e solitária, suas asas começaram a cair,
Seu canto
emudeceu e ela olhava-o, de longe,
Pedindo-lhe
que sentasse ao seu lado e a ouvisse.
Iria
cantar-lhe a mais linda das canções que conhecia.
E para tanto
bastava que ele voltasse a ficar com ela.
Entretanto,
ele cada vez se afastava mais se tornando um vulto.
Outras
coisas, outros pássaros lhe interessavam mais.
Enchia os
pulmões e soltava sua voz o mais longe possível
Na vã
tentativa de alcança-lo, mas um grunhido rouco,
Era tudo que
restava dentro do seu peito vazio de amor.
Um dia, como
que por acaso, ele passou por perto dela,
Feliz ela
preparou-se para aquele canto a tanto tempo ensaiado,
E ele, sem
nem olha-la direito, abriu a gaiola e a pôs para fora.
O canto
melodioso feito tão somente para ele,
Ficou
trancado na garganta e sem poder voar, foi andando.
Andou para
bem longe, andou devagar, cantando um lamento,
Aonde antes
havia canções de amor e paixão.
Bateu suas
asas com uma força retirada não sabe de onde.
E alçou voo
e lá de cima o viu encantado com outros pássaros
Sentado a
ouvir-lhes como ela bem conhecera.
Olhou-o
tristemente, olhou-o com piedade, e se foi.
Agora, volta
a voar sobre campos e mares.
Sente os
perfume das flores e o calor do sol.
Suas cores
pouco a pouco vão voltando e,
Já pode
cantar lindas, um tanto tristes, melodias.
Coisas que a
solidão e o descaso a haviam feito esquecer.
A cada dia
mais forte e vistosa, sonha não com uma gaiola
Mas com um
pássaro, que com ela, voe e cante em harmonia.
Escrita por Carmen Mattos
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