quarta-feira, 1 de julho de 2015

Pássaro Cantante


Ela era um pássaro vistoso e alegre.
Voava por jardins e areias alvas.
Quando se cansava, pousava em qualquer lugar.
Pois todos a conheciam e a amavam.
E para ela, todos os lugares eram lindos.
E aí se punha a cantar melodiosamente.
Seu canto espalhava-se no ar suavemente.
Vibrante e cheia de vida, cantava e voava.
Voava e cantava incessantemente.
Um dia um homem a viu e ficou fascinado,
Por sua beleza, seu canto, sua alegria.
Ele vinha de longe e não partiria sem ela.
Ofereceu-lhe uma gaiola dourada,
Não precisaria mais procurar por comida,
Teria um abrigo, cuidados e muito amor.
Ela seduzida pelas suas promessas,
Encantou-se por ele e partiu.
Trocou toda a sua liberdade de voar,
De viajar por entre campos e mares,
Por aquele homem que tanto lhe prometia.
Lá chegando, foi posta numa linda gaiola dourada,
Como ele lhe dissera, e ele sentava-se ao seu lado.
Só para ouvi-la cantar e transbordar alegrias.
O tempo foi passando, o dourado da gaiola desgastando.
Ele já não vinha vê-la cantar, pouco aparecia.
E ela presa, não podia mais voar.
Seu canto virou um lamento, mas ele nem percebia.
Suas cores foram murchando, mas ele sequer notava.
A cada dia que se passava, mais rouco ficava seu cantar.
Suas penas, já sem cor, começaram a cair.
Ela era a imagem do desalento e solidão.
Mas ele quase não a via e não notava que ela se apagava.
Sua gaiola, um dia dourada, agora era só ferrugem.
Entristecida e solitária, suas asas começaram a cair,
Seu canto emudeceu e ela olhava-o, de longe,
Pedindo-lhe que sentasse ao seu lado e a ouvisse.
Iria cantar-lhe a mais linda das canções que conhecia.
E para tanto bastava que ele voltasse a ficar com ela.
Entretanto, ele cada vez se afastava mais se tornando um vulto.
Outras coisas, outros pássaros lhe interessavam mais.
Enchia os pulmões e soltava sua voz o mais longe possível
Na vã tentativa de alcança-lo, mas um grunhido rouco,
Era tudo que restava dentro do seu peito vazio de amor.
Um dia, como que por acaso, ele passou por perto dela,
Feliz ela preparou-se para aquele canto a tanto tempo ensaiado,
E ele, sem nem olha-la direito, abriu a gaiola e a pôs para fora.
O canto melodioso feito tão somente para ele,
Ficou trancado na garganta e sem poder voar, foi andando.
Andou para bem longe, andou devagar, cantando um lamento,
Aonde antes havia canções de amor e paixão.
Bateu suas asas com uma força retirada não sabe de onde.
E alçou voo e lá de cima o viu encantado com outros pássaros
Sentado a ouvir-lhes como ela bem conhecera.
Olhou-o tristemente, olhou-o com piedade, e se foi.
Agora, volta a voar sobre campos e mares.
Sente os perfume das flores e o calor do sol.
Suas cores pouco a pouco vão voltando e,
Já pode cantar lindas, um tanto tristes, melodias.
Coisas que a solidão e o descaso a haviam feito esquecer.
A cada dia mais forte e vistosa, sonha não com uma gaiola
Mas com um pássaro, que com ela, voe e cante em harmonia.

Escrita por Carmen Mattos


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