quarta-feira, 22 de julho de 2015

TEUS OLHOS



Sentada na areia fria, observa o movimento das ondas.
O ritmo orquestra a cadência dos seus pensamentos.
Embala a solidão, latente, de não tê-lo mais ao seu lado.
Brinca com a areia fina, deixando-a escorrer entre seus dedos.
Como se o estivesse acariciando, mansamente, com suas mãos.
Está ali tempo demais, tempo demais para um amor perdido.
Quem sabe a espera que ele surja por trás e a surpreenda,
Com um enlace caloroso que por fim, aquiete sua alma.
O vento despenteia seus cabelos e racha seus lábios gelados.
Mas já nada importa, já nada a incomoda, vive a dor maior.
Nada pode ser pior que o olhar que ele lhe lançou no adeus.
Não havia nada dentro deles, nem paixão ou compaixão.
Era de uma frieza tamanha que a petrificou instantaneamente.
E ela, atônita, olhou-o com doçura e declarou todo seu amor.
Ele retrucou com sarcasmo que não a queria mais e riu-se.
Aquietada viu todo seu mundo ruir e faltar-lhe o chão, o ar.
Aquietada, o viu levantar-se num sinal de assunto encerrado.
Aquietada, ficou por mais um tempo imóvel no seu penar.
Como agora se encontrava, ouvindo os conselhos do mar.
E então, compreendeu tudo e um abismo se formou entre eles.
Como no paraíso, e no paraíso estavam, fora seduzido pela cobra.
De forma maléfica, astuciosa e sedutora, ela lhe empeçonhentou.
Sem qualquer objetivo, sem qualquer querer, só por brincadeira.
Rastejou sobre seu corpo com doces e maliciosas palavras vãs.
Nada dele lhe importava, era a sua felicidade que ela invejava.
Numa vida medíocre, sem sentido e sem amor, cobiçava a dele.
E foi destruindo tantos amores quanto podia, e foram muitos.
Tanto que já não os podia contar, destruiu tudo a sua volta.
Deixando-a só, no seu eterno luto de perdas inimagináveis.
E ela o tinha como seu deus, seu ídolo e ele fora tão ingênuo.
Agora sentada na areia fria, via na espuma das ondas gélidas,
O mesmo olhar ausente que, um dia, a fez morrer mil vezes.
Ergueu seu olhar para o céu e pediu que levasse seu amor.
Esse amor incompreensível que ainda a perseguia dia e noite.
Tornando-a uma sombra sem sentido de seu padecer inútil.
Já cansada de tanto esperar por aquele que nunca não viria,
Levantou-se e foi para casa, sonhar com ele mais uma vez.



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