terça-feira, 7 de julho de 2015

A Espera

 
Preparou-se o dia todo para aquela noite.
Pôs toalha de linho na mesa e candelabros.
A melhor porcelana e cristais reluzentes.
Preparou sua comida predileta cuidadosamente.
Vestiu-se como rainha e perfumou-se para ele.
Deu uma última olhada no espelho para conferir.
Tudo estava perfeito. Os talheres de prata brilhavam.
Em pé, encostada no balcão, observava o relógio.
Quando deram 8 horas, acendeu as velas e sorriu.
Logo, ouviria a chave girar na porta e esta se abrir.
Na penumbra, ajeitava uma mecha de cabelo.
O silencio era total, rompido somente pelo tic tac,
Talvez do relógio, quem sabe do seu coração.
Olhava para a porta, olhava para o relógio.
E os minutos foram passando, viraram horas.
Já não se importava com o cabelo caindo-lhe no rosto.
O vestido, escolhido cuidadosamente, se amarrotava.
Espremido entre seu corpo e o balcão.
A maquiagem escorria sobre seu rosto, borrando-o de preto.
O batom vermelho vivo se descolorira nos seus lábios carnudos,
Lentamente sentou-se a mesa, as velas quase apagadas,
Tornavam mais sombria toda a sala e sua vida.
Esticou os braços sobre a imaculada toalha de linho,
Entrelaçou os dedos num abraço ao prato vazio.
Deitou a cabeça sobre tudo e sentiu o fúnebre perfume,
Exalado pelas flores, já murchas, que ornavam a mesa.
Mais uma vez estava sozinha com o tic tac do relógio.
Imaginando-o em outros braços, adormeceu na nostalgia.
Acordou quando amanhecia com vozes vindas de longe.
Um burburinho de vida contrastando com seu luto.
Levantou-se, tirou a roupa e vestiu seu mais belo sorriso.
Fez um rabo de cavalo e começou a limpar a noite esquecida.
A porta se abriu, mas ela nada disse, não fez perguntas.
Ele lhe dava explicações e ela nada ouvia absorta em pensamentos.
Olho-o, sorriu, beijou-o mecanicamente e foi preparar o café.

Escrita por Carmen Mattos



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