Preparou-se
o dia todo para aquela noite.
Pôs toalha
de linho na mesa e candelabros.
A melhor
porcelana e cristais reluzentes.
Preparou sua
comida predileta cuidadosamente.
Vestiu-se
como rainha e perfumou-se para ele.
Deu uma última
olhada no espelho para conferir.
Tudo estava
perfeito. Os talheres de prata brilhavam.
Em pé, encostada
no balcão, observava o relógio.
Quando deram
8 horas, acendeu as velas e sorriu.
Logo,
ouviria a chave girar na porta e esta se abrir.
Na penumbra,
ajeitava uma mecha de cabelo.
O silencio
era total, rompido somente pelo tic tac,
Talvez do
relógio, quem sabe do seu coração.
Olhava para
a porta, olhava para o relógio.
E os minutos
foram passando, viraram horas.
Já não se
importava com o cabelo caindo-lhe no rosto.
O vestido,
escolhido cuidadosamente, se amarrotava.
Espremido
entre seu corpo e o balcão.
A maquiagem
escorria sobre seu rosto, borrando-o de preto.
O batom
vermelho vivo se descolorira nos seus lábios carnudos,
Lentamente sentou-se
a mesa, as velas quase apagadas,
Tornavam mais
sombria toda a sala e sua vida.
Esticou os
braços sobre a imaculada toalha de linho,
Entrelaçou os
dedos num abraço ao prato vazio.
Deitou a
cabeça sobre tudo e sentiu o fúnebre perfume,
Exalado pelas
flores, já murchas, que ornavam a mesa.
Mais uma vez
estava sozinha com o tic tac do relógio.
Imaginando-o
em outros braços, adormeceu na nostalgia.
Acordou quando
amanhecia com vozes vindas de longe.
Um burburinho
de vida contrastando com seu luto.
Levantou-se,
tirou a roupa e vestiu seu mais belo sorriso.
Fez um rabo
de cavalo e começou a limpar a noite esquecida.
A porta se
abriu, mas ela nada disse, não fez perguntas.
Ele lhe dava
explicações e ela nada ouvia absorta em pensamentos.
Olho-o,
sorriu, beijou-o mecanicamente e foi preparar o café.
Escrita por Carmen Mattos
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