terça-feira, 15 de setembro de 2015

SOZINHES



Uma lágrima escorreu de meus olhos, desceu pelo rosto
E lentamente foi caindo, mas antes que chegasse ao chão,
Eu a peguei e segurei fortemente em minhas mãos tremulas.
Não aguentava mais ouvir o seu retumbar no chão frio.
Era só mais uma entre tantas já choradas por dias a fio.
Nem mesmo sei se seria a última ou quantas houvera antes.
Mas esta e talvez somente esta, não seria pisada ao acaso.
Estava presa entre meus dedos doloridos e contorcidos.
O calor da minha pele a faria evaporar e quem sabe, voltar
Aos olhos meus de onde nunca deveria ter saído a passear.
Abri a mão e a vi ali a me olhar como se nada entendesse.
Sorri-lhe, um sorriso molhado, e senti-me vitoriosa por tê-la.
Havia capturado toda a dor do meu peito que ela representava.
As perdas, as decepções, as humilhações, os descasos, a ironia,
A crueldade, a ingratidão, o sarcasmo, a falta de compaixão.
Tudo estava contido nesta única e perolada lágrima brilhante.
O tempo passava e eu a protegia como um tesouro resgatado.
Outras lágrimas foram caindo a molhar-me as roupas e os pés,
Mas esta estava tatuada em minha pele como se dela fizesse parte.
Era a lembrança vívida de todos os meus lamentos insanos.
E como uma dádiva eu a mantinha presa como presa eu fora.
Ela perderia todo seu vigor como também o meu se perdera.
Secaria, desaparecendo, como o fez minha alegria de outrora.
E assim murchas e sem brilho, ninguém nos notaria na sala vazia,
Entre panos e móveis, quadros e retratos que ninguém olhava.
Éramos nós duas contra um mundo inteiro de desilusões contidas.
Sentei-me na poltrona e a trouxe para junto de mim, agasalhando-a.
Talvez assim, ela um prova concreta do meu sofrer, acalmasse a alma
Já tão cansada de nada ser e que vagava por entre paredes mudas.
Que me mostravam que nada fiz senão andar por caminhos tortuosos,
Que levaram a lugar algum além de carregar a carga que me fora confiada.
Hoje tudo é belo e ditoso, mas para mim restou uma poltrona a balançar,

Uma lágrima presa entre as mãos e esse vazio imenso que me envolve.
Quem sabe eu esteja somente sobrando nas vidas de outras vidas.

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