quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo



Ano novo, vida nova, novos planos, sonhos e conquistas.
A virada que pode definir tua vida, ou não.
Pode ser que neste ano que se aproxima, faças mil promessas e as veja morrer no primeiro raiar do dia.
Pode ser que faças mil promessas e as cumpra.
Tanta coisa pode acontecer nestes 365 dias que virão, sem que nem ao menos esteja em teu cronograma de vida.
Podes te surpreender...
Entretanto, o que importa no final de todo o ciclo é a esperança na renovação, é a coragem de acreditar no novo e ter ambição para fazer tudo valer a pena.
Que 2015 traga a todos muitas felicidades e muitos sonhos que, por mais impossíveis que pareçam, detém magia por simplesmente existirem.
Que o ano que se aproxima te pegue de peito aberto, pronto para novas possibilidades, novas oportunidades, sem medo de andar no escuro ou voar alto.
Que a felicidade vire rotina e pensamentos bons façam parte do cotidiano.
Que seja um ano abençoado para mim, para ti e para todos nós.
Feliz 2015!!!

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Mariposas


Há pouco abraçamo-nos, era Natal.
Agora, enquanto todos dormem,
Vejo-me sentada, olhando.
Pequenas mariposas 
A dançarem pelas lâmpadas
Que piscam no seu bailar.
Pensamentos distantes
Remontam tantos Natais
E sempre a mesma imagem
De desconsolo, de solidão.
Esforço-me para lembrar
Se houve algum sem sombra
Se houve algum pleno
Mas só encontro
Taças quebradas e vazias
As mariposas vão e vem
Hipnotizando meu pensar
Penas, dores, mágoas.
Tudo gira no ritmo da luz que pisca
E elas se divertem na brincadeira
Do pisca pisca,
As lágrimas escorrem no mesmo passo
O silencio é total
A noite segue adiante
E eu insone, invejo o vai e vem.
Das mariposas nas lâmpadas
Queria saber sua dança
Que termina quando a luz se apaga
E depois, caem mortas no chão frio.
Cansadas e imersas no seu destino
Não tenho destino
Sigo em frente, por não ter aonde ir.
Absorta na aparente felicidade
Onde sorrisos são obrigatórios
Levanto-me e caminho lentamente
Para uma morte sem final.
Outro dia, conversas coloridas.
Numa alma sem cor.
Olho as mariposas caídas no chão
E percebo a beleza da morte bailante
Mortas são mais belas
Que ficar sozinha olhando-as
A rodopiar incessantemente
Até a exaustão de seu corpo frágil
Nosso caminho será o mesmo
Mas não terei toda a gloria 
De ser feliz pelo menos por uma noite:
A noite de Natal, com suas luzes.
Seus brindes e alegrias fugazes
Sinto-me só
Sinto-me a rodopiar
Na dança fúnebre
De todo o meu viver.


Escrita por Carmen Mattos

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Porto Seguro


A felicidade se faz no silêncio quando as palavras já não servem para demonstrar o valor que se perdeu.
Com as luzes acesas do quarto até então escuro pela neblina que pairava sobre os intermináveis pensamentos que conduziam a alma, abre-se espaço para sorrisos soltos.
Os olhos brilham com a emoção do momento em que a alma engrandece, agradecendo por tudo aquilo que aconteceu, até então.
E assim, com o raiar do Sol que ilumina a mente, vislumbra-se mais um dia bom, onde aquilo que era pouco se quebrou e já não há lugar para a tristeza.
A vida continua, em sua melhor forma, com o brilho nos olhos que até então estava perdido, ao procurar um porto seguro, sem perceber que o porto seguro tanto esperado estava escondido em seu próprio ser.

Vinte e Nove


Divago sobre coisas sem sentido enquanto, sentada, sobre a grama ainda úmida da chuva que castigava a terra há meses, percebo tudo o que havia vivido até então. 
Por muitos momentos havia até pensado em desistir, cerrando as cerdas douradas rente a meus pulsos que teimavam em não se romper.
Questiono-me se algo faria sentido então ou se apenas deixaria mais feridas naqueles que, em algum momento, acolheram-me na longa jornada de anos.
Lembro subitamente do 21 de março, a data de hoje, em que completava 29 anos.
Já haviam rugas que riscavam minha face, ameaçando denunciar minha idade que, até então, era de uma menina.
Olhava-me ao espelho e gostava daquilo que via. 
Eu era bonita, cobiçada, mas de uma forma tão sutil, colecionava amores e os via partir. 
Nunca fui de me apaixonar perdidamente, mas sofria toda a vez que a porta fechava deixando passos na escuridão.
Sempre vivi sozinha e gostava daquele aconchego com gosto de liberdade que isto me trazia, gostava do poder de controlar minha própria existência.
Havia um medo e um espanto toda a vez que alguém invadia aquele universo só meu.
Era meu e ninguém poderia tomar conta dele, não até o momento em que quisesse realmente ficar.
Tive namorados loucos, ciumentos, preguiçosos e possessivos...
Mas também tive aqueles que faziam o mundo ter sentido e enchiam o ar de graça por onde caminhavam.
Todos eles, cedo ou tarde, partiam, abrindo espaço para o sentimento mais nobre que podia sentir, a amizade.
Não poderia esquecer também daqueles que me cercavam e que arrancavam meus sorrisos pelo simples fato de existirem. 
Nunca tive muita paciência para consertos ou para esperar do outro um gesto delicado de bem querer sem que antes disto viesse uma tempestade.
Já tinha experiência farta com tormentas e furacões...
Conhecia o mundo a meus olhos, e sentia ciúmes...
Queria me mudar, mudar de emprego, carregar o mundo dentro do peito.
Ou talvez ficar e ver mais primaveras e verões da janela do meu quarto.
Casar e ter filhos era uma opção, ou não.
Poucos entendiam que tudo o que precisava era de alguém que me colocasse no topo do mundo com os pés no chão. 
Alguém que não fosse tão ruim e nem tão perfeito como tudo o que tive até então.
Alguém de verdade!
E enquanto isso, em um flashback de emoções, enquanto a grama salpicava a minha pele clara como a neve, vislumbrava um novo começo, um novo caminho, uma nova era.
E divagava sobre tudo o que vivi até então, em longos versos que condiziam com os meus mais íntimos segredos.
Segredos estes que carregava no peito no dia 21 de março, no auge dos meus 29 anos tão cheios de vida e tão cheios de histórias para contar...

domingo, 28 de dezembro de 2014

Em vão


Peço desculpas
Mesmo sabendo que quem mais errou não fui eu.
Peço desculpas
Mesmo sabendo que minhas palavras ecoam ao teu ouvido
Sem que façam qualquer ruído.
Peço desculpas
Porque reconheço o ser falho que sou
E reconheço que sempre há uma folha em branco
Por detrás do caderno rabiscado
Pelas palavras ferozes.
Peço desculpas
Porque o querer bem
Foi-me dado como meta de vida.
Peço desculpas
Mesmo diante do teu olhar turvo de desprezo.
E assim,
Enquanto peço desculpas a ti,
Desculpo-me a mim mesma
E prossigo tentando,
Mais uma vez,
Não errar em vão!

Linda Flor



Que belas asas que tu tens,
Minha linda flor.
Nascida na areia
Na beira do mar
No frio do inverno.
Lembro dos teus passos exuberantes
Chutando o mar que molhava teus dedos
E que te fazia dançar a canção de ninar que cantava para ti.
Minha linda flor
Que já não tem nome
E se confunde com o horizonte entre céu e mar.
Com o canto de sereia
Com o esplendor de bondade
O encantamento que causas é inexplicável.
Minha linda flor
Nunca deixe de caminhar com estes passos
Que no seu rebolado
Compõe mais uma canção de amor.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Tudo ou Nada


Depois de tudo o que passei, depois de tantas desilusões, meu pensamento poderia estar em mil lugares, ou em nenhum. 
Eu poderia viver no encantamento de minha própria existência e me dedicar tão somente a isso.
Eu poderia ser feliz assim.
Entretanto, no meio de mil possibilidades, escolhi abarcar meus pensamentos em ti, aquele que tão pouco fala, deixando um ar de mistério e impotência por onde passa.
Dou-me conta, finalmente, que muito poderia, se não tivesse te conhecido.
Agora meus pensamentos contemplam um cantinho bom dentre os teus braços e percebo que  o tudo nada valeria, se não existisse o pouco que me dás! 

domingo, 21 de dezembro de 2014

O que eu não posso te dizer


Eu queria te dizer
Quantas vezes fizeste-me sorrir ao longo do dia
Com piadas sem graça
E tua genuína implicância. 
Eu queria te contar
Quantas vezes tu te tornastes 
Meu momento de lazer
Enquanto estava no trabalho
E preferia tu
Àqueles papéis tão sem vida.
Eu queria te contar
Que tu me entendes como jamais alguém entendeu
E que fui feliz nos poucos momentos que compartilhamos juntos.
Eu queria te perguntar
Se tu lembras quando eu disse
Que minha paciência tão escassa
Levava-me para longe
Sempre que sentia o pulso apertar
E o coração se despedaçar.
Eu queria te dizer,
Agora,
Que não preciso destas respostas.
Porque tudo o que queria
Eu já não posso ter
E já não posso mais rir das tuas brincadeiras ruins
Quando percebo que elas não eram só minhas
E aí o jogo perdeu o graça.
Eu só queria te dizer
Que mesmo sentindo tua falta
Não tenho mais nada a dizer
Porque tudo o que pudesse dizer
Estragaria as lembranças tão boas
Do pouco tempo em que nos conhecemos.
Assim,
Desisto de tudo aquilo que queria te dizer
Guardando no fundo do peito
Aquilo que jamais escutarás de mim. 
E que era tudo o que eu queria te dizer
Agora,
Neste momento
E que já não posso mais...

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Espelho Coberto - Divagação



Você já parou para pensar que não é tão maravilhoso quanto pensa ser? Alguns defeitos nossos, na nossa inconsciente vaidade, não conseguimos perceber. As pessoas a nossa volta, por vezes, os veem. E como ficamos chateados, quando nos dizem! As pessoas são chatas ou você está intolerante? Imagine se pudesse olhar no espelho e ver como você realmente é, e essa imagem fosse monstruosa? Não estou falando sobre o que demonstramos como agimos como falamos; estou me referindo ao seu inconsciente, ao seu eu verdadeiro. Com certeza, taparias esse espelho de forma definitiva. Ninguém aceita se ver como algo que não gosta. Somos perfeitos na nossa infinita benevolência com nós mesmos. Mas as outras pessoas nos enxergam de forma diferente daquela que acreditamos ser. Alguns não gostam, outros adoram nosso modo de ser, mas esse modo não é o nosso verdadeiro eu. E qual seria? Não sei. É algo tão entranhado no nosso interior que se torna uma sombra invisível até para nós mesmos. É a crítica que fazemos aos outros, é a inveja, nunca boa, que temos de alguém, é o desejo de ser algo que nunca seremos de verdade. Aí vem o questionamento: quem sou eu? Quem é você? Somos seres sociais que vivem segundo a ética e moral vigente. Não, esse não sou eu nem é você. Essas são pessoas que não se olham no espelho e não veem o seu interior. Nós, você e eu, somos a repressão dos nossos sentidos que foram educados para sermos o que devemos ser. E quando nos cansamos dessa máscara que usamos no dia a dia? Como fazer para arranca-la visto que ela já está tão presa aos nossos sentidos que nem a sentimos mais? Seria como arrancar o corpo que está preso a nossa alma. E como agiria nossa alma sem essa máscara? Não sei. Como, entre dezenas de pessoas que convivem conosco, cada uma nos ver de uma forma diferente? Qual dessas pessoas nós somos? Ou somos como achamos ser? O ego, o superego, o consciente e o inconsciente, somos a soma de tudo isso? E o que vem primeiro? O que é mais importante? O que eu vejo de mim? O que você vê de mim? Existem mil teorias e mais estudos sobre isso, mas eu questiono o meu espelho de bruxa e as teorias ficam no vazio. Queria saber quem sou e queria saber quem você é, mas o pano já encardido pelo tempo, cobre o espelho de nossa alma e nos deixa a deriva de sentimentos paradoxais. Sou tudo aquilo que odeio em você e por isso comporto-me de forma antagônica a sua, ou sou tudo aquilo que odeio em você e comporto-me de forma igual, mas não reconheço isso em mim? Sou perfeita diante do espelho ou o espelho reflete somente o que quero ver? Em qual dos espelhos você me vê? E quantos espelhos me refletem? Cada pessoa tem um espelho para refletir cada pessoa? Em qual dessas imagens eu estou?
Descobri que não sei quem sou e não sei quem você é, porque não sei qual o espelho que reflete a imagem verdadeira. Se somos a soma do ego e superego, consciente e inconsciente, somos o infinito de pensamentos e sentimentos modulados pela argila da vida. Sendo assim, não somos ninguém, pois não é possível quantificarmos todas as facetas que fazem de nós meros reflexos de espelhos sem fim.

Carmen Mattos

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Meu nome


Escolhas erradas
Caminhos tortos
Um novo começo de dia.
Tropeças na solidão
Enquanto o Sol ilumina teu rosto
Com o tempo exato de recomeçar.
Fazes descaso com o acaso.
Duvidas das oportunidades
E freias bruscamente em frente às possibilidades.
Faço de ti mais um brinquedo
E ilumino tua mente
Com pensamentos ruins.
Firo o teu peito
E sem notares,
Tomo conta de ti. 
Chamas-me de Destino
E brigas comigo enquanto tu és o meu fantoche.
Rio de ti por não saberes quem eu sou.
E assim,
Não tentas desfazer as amarras que plantei em tua mente.
Para não tentar,
Deixas de lutar.
Não sabes meu nome
Nunca procurastes saber.
Enquanto tu me chamas de Destino
E eu te respondo que sou a Desilusão.


Natália Mattos

Perda


Anos após anos venho resistindo as tuas facadas
Com malícia e crueldade me atacas sem piedade
É uma palavra, um olhar, um pequeno gesto.
Te sentes poderosa, vingada, a melhor
E eu mergulhada no teu ódio me pergunto: por quê?
Que te fiz de tão danoso, quantas lágrimas te fiz chorar?
Sempre estive ao teu lado mesmo quando ninguém te queria
Sei que pequei algumas vezes, mas meu maior pecado.
Foi o de não defender-me das calunias e mentiras
Que ouvistes por tantos anos de pessoas de má fé
Achava tudo tão evidente que não quis jogar o mesmo jogo
E hoje, quando todos se foram, não posso mais me defender
Como queria levar para bem longe teu sorriso de escarnio
Como queria ignorar o que mal falas de mim aos outros
Mas vejo ao teu redor, como uma redoma,
Algo que não posso ultrapassar
E assim fico aqui perdida
A te olhar de longe sem nunca poder toca-la
Meus braços, minhas mãos são impotentes.
Diante de tanto desquerer
Olho-te com a ternura, que se derrete,
Diante do teu descaso
Cansada e perdida
Volto-me a mim mesma
Na desilusão do tempo passado
Tão presente dentro de mim.

Carmen Mattos

domingo, 14 de dezembro de 2014

Morte em Vida



Ajoelhada sobre o chão pedregoso.
Sinto meus joelhos sangrarem.
Minhas unhas, cobertas de terra,
Cavam vorazmente mais uma vez.
As lágrimas que caem do meu rosto
Não cicatrizam as feridas e rachaduras
Das minhas mãos e da minha alma.
Sequer molham o chão,
Para tornar mais leve o meu penar.
Olho para os lados e vejo fileiras
De covas rasas e doloridas.
Quantas vezes já estive neste mesmo lugar?
Quantas vezes ainda hei de vir?
Reconheço cada pedacinho desse chão.
Cada um tem sua história de dor.
Foram ingratidões, traições, descaso,
Humilhações, palavras rudes, silêncios ensurdecedores,
Abraços não dados ou beijos negados.
Todos contam um pedacinho de mim.
Todos tem um pedacinho de mim.
Eu dei tanto, quis tanto, amei até o infinito.
Mas no fim do meu infinito
Encontro-me eu a cavar
Mais uma cova num cemitério virtual.
Em que podem entrar todos aqueles
Que um dia julgaram que me tinham nas mãos
Esquecendo-se que sou areia e não pedra
E posso escorrer por entre os dedos,
Antes que se deem conta onde estou.
Procuram-me sem saber
Que estou no seu funeral
Choro, lamento, sofro
Visto-me de preto
Entristeço-me no luto da perda
Resguardo meu coração
Tristonho na ladainha da morte
Aquieto-me por tempos
Em respeito ao que foram
Enterro, e não existem mais.
Essa é a última fase da vida
Quando eram, também, minha vida.
Levanto-me, trato minhas feridas.
E sigo em frente sem nunca mais
Pronunciar seus nomes ou lembrar-me
Que um dia os amei
Com tal intensidade
Que para sobreviver
Era necessário que morressem.
Fecho o portão.
Dou uma última olhada para dentro
E com toda a força que me resta,
Suspiro e vejo que estão no lugar que lhes pertence.
Onde jamais poderão alcançar-me novamente.
Estou livre.

Carmen Mattos

sábado, 13 de dezembro de 2014

VIDA EM PÓ



Por muitos anos eles te esperaram
Eras o desejo maior da vida deles
Enfim chegastes: forte, bonito e saudável.
Todo um mundo de alegria se formou.
Com o coração acelerado
E um largo sorriso nos lábios
Ouviram teu primeiro choro.
Sonharam para ti uma vida de venturas
Trabalharam duro, dia e noite
Encheram suas mãos de calos
Não escolhiam hora para sua lida
Tudo que faziam era para ti.
Os anos foram passando
O amor deles aumentando
E te querer se tornou imenso
Agora, eles choram e não veem.
Teu coração acelerar nem um sorriso teu
Os sonhos viraram papel picado
Jogado ao léu
Não existe mais dia ou noite
Existe somente: onde estás?
As mãos calosas, agora sangram.
E és tu que as fere com um punhal
De mentiras e desamor
Os olhos deles já não sabem
Viver sem lágrimas
E cada dia é uma jornada
De medos e angústias.
As esperanças pouco a pouco
Esvanecem-se nas trevas em que estás
A longa espera da tua chegada
Ainda existe, mas, agora é feita de dor.
Pouco a pouco, matas quem mais te ama.
Trocas ouro por bugigangas
E crês que podes ganhar
Mas a perda é inevitável
Porém não perderás sozinho
Levarás contigo tua mãe e teu pai
Para um mundo de ninguém.
Para um mundo onde
Não há ponto de retorno.

Carmen Mattos

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

... SIMPLESMENTE... MÃE


Abrace-a com força
 Enrosque-se em seu corpo, como uma cobra.
 Para que os de perto não possam tocá-la.
 Camufle-a de pássaros, flores,
 Pedras, rios ou mares.
 Para que os de longe não possam vê-la.
 Proteja-a de tudo e de todos
 Como se dentro do teu útero ainda estivesse
 Abdique de todos os teus sonhos e vontades
 Para tão somente poder amar
 Amor incondicional
 Amor irracional
 Amor sem sonhos e sem vontades
 Amor por ser parte e toda você
 Cale seu grito e seque seu leite
 Para que ninguém possa encontrar-te
 Não mostre tuas lágrimas
 Para não assustá-la
 Dê-lhe o mais lindo dos teus sorrisos
 Para assim aquecê-la
 Envolva-a nos teus cabelos
 Como se um manto fosse
 Mas acima de tudo
 Conscientize-se que desde que ela nasceu
 Tu és ela.

Carmen Mattos

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Até que um dia


Tranco a porta e na vitrola que jaz em cima do cômodo velho, coloco o refrão mais doce que posso encontrar. Danço comigo mesma na frente do espelho, entre caretas, sorrisos e lembranças do abraço que me acalmava. Invento passos, na medida em que a música enche o ar de vida, espalhando sentimentos bons dentre as paredes que me cercam. Enxergo uma multidão de mim mesma, compartilhando o momento que é meu, só meu, ou nosso.
Descubro o meu melhor sorriso e a cara triste que fazia quando brigava com você. Percebo que posso ser tudo e nada, nessa brincadeira de criança que me faz sorrir.
Brinco de esconde- esconde com o reflexo do espelho e me vejo flutuar nesse mar azul da saudade.
Penso em você e em mim, enquanto ainda éramos jovens e dançávamos essa música no meio de mil promessas de amor eterno.
Meu rosto se ilumina e mesmo assim continuo a dançar junto com o som que parece tão fresco e ao mesmo tempo antigo.
Faço as mesmas juras de amor que soava ao seu ouvido, todas as noites, antes de dormir.
Sonho com os dias em que ficamos juntos.
E assim, ao som que ainda toca na vitrola, agradeço por sua companhia nos muitos anos em que vivemos juntos, sem perceber os cabelos grisalhos que habitam meu rosto.
O tempo passou depressa demais!
E antes que a música acabe, imagino-lhe ali, comigo, como muitas vezes antes de você partir.
Os anos levaram-lhe de mim...
Mas mesmo assim, consigo sentir o frescor da sua pele rente a minha, ao dançar mais esse doce refrão que embalou as nossas vidas e que lhe faz vivo, todos os dias, até que um dia eu possa lhe encontrar. 

Natália Mattos


SÓ UMA LÁGRIMA, SÓ UMA VIDA


Uma lágrima saiu dos meus olhos
Escorreu pelos meus lábios, fechando meu sorriso
Caiu nos meus seios que um dia te amamentaram
Passou por meu ventre que te acolheu
Parou sobre meus punhos fechados que impediram
Que te abortasse, findando o amor que já sentia por ti
Dias de lutas, dias de medo, dias de esperanças
Todas as batalhas foram ganhas
Hoje é uma vitoriosa
Hoje é meu orgulho
E eu sou tua vergonha
Carrego nas costas a cruz de ter te feito infeliz
Cega na minha ingenuidade, não consigo ver a cruz
Mas sinto seu peso a ferir Minh ‘alma
Errei muitas vezes, acertei tantas outras
Imortal é teu ódio
Imortal é minha dor
De ver teu olhar a olhar o meu
Sem saber o que fazer
Vou partir devagarinho
Só para que possas
Ser feliz em toda a sua plenitude
Seco meu leite
Encolho meu ventre
E abro meus punhos
E que minhas lágrimas
Caiam no chão árido da minha vida.


Carmen Mattos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Uma nova melodia


Muito tempo se passou desde que pudesse escrever essas poucas linhas.
A conclusão a que cheguei foi que somente o tempo poderia transformar tudo aquilo que tinha em mente e tudo aquilo que tinha a dizer nessas palavras atiradas sobre o papel.
Quando eu percebi que tinha muito a lhe dizer, pedi calma e deixei a água lavar o gosto amargo que recairia sobre aquilo que nem és.
E assim, cansada de tanto pensar, prometi que não lhe julgaria e tampouco atiraria pedras em seu caminho.
Não lhe desejaria o mal.
Não lhe odiaria.
Fiz as pazes comigo mesma e inventei uma canção nova, uma nova forma de dançar essa melodia.
Optei por não brigar enquanto enxergava o futuro em minhas mãos.
Com a simplicidade de sentimentos e de momentos que foram em vão, a magia simplesmente não existe mais.
Percebi, então, que as poucas linhas que tenho agora para escrever sobre você são tão curtas quanto o seu temperamento ruim.
E de tanto pensar no que diria quando esse dia chegasse e quando já estivesse pronta para deletar tudo aquilo que um dia você representou, descobri que jamais houveram verdades.
Mas nunca houve mentiras.
Apenas um espaço em branco que nos unia, como a folha de papel que não consigo preencher para dizer tudo o que penso sobre você agora.
Pelo simples fato de ser vazia de melodia...


Natália Mattos

Sombra


Despida de vaidades
Maltrapilha de sentimentos
Segue o caminho em frente
Sem nunca chegar a lugar algum
Por muitas vezes seguiu atalhos
Cobertos de flores
Que rasgaram sua pele
Com seus implacáveis espinhos
Já não se arrisca a buscar
Outras direções
É seu destino andar esta estrada
 De desamores, desilusões e lágrimas.
Não, já não há mais lágrimas.
Já as chorou todas
Há um vale em seu rosto
Por onde elas passaram
Secadas pelo sol ardente
Que já não queima sua pele
Farrapos foi só o que restou
Restos de amores desamados
Sobras de carinhos fugazes
Olha para trás para ver se alguém a segue
Mas nem mesmo sua sobra lhe acompanha
Totalmente só em sua solidão
Deu tanto de si
E hoje cambaleia por entre vazios
Criou perspectivas,
Coloriu  mundos
Fez castelos e se fez princesa
Foi bondade, foi meiguice.
Foi em vão
É cinza seu céu, sua estrada e sua vida.
As cores se apagaram de seu olhar
O brilho, também, já não existe.
Com os pés sangrantes
Caminha em direção ao nada
Onde nem sua sombra ousa ir.


Carmen Mattos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

E de tanto esperar, ela, que tinha o sorriso tão lindo, apagou-o no meio da multidão e passou a desacreditar...

Tempo de Gestar



Faz tanto e tão pouco tempo, que já não sei medir em anos, dias ou horas. Tudo começou sem querer começar e já começado foi abençoado. Tantos contratempos, tantos senões e mesmo assim viestes. Devagarzinho, sem querer incomodar. Bem quietinha, quase não te mostravas. Assim chegastes. Chegaste diferente. Brigando, lutando, vivendo. Mas, sempre quietinha. Eu te via e via através de ti toda a força que emanavas. Enquanto todos te evitavam, eu ficava ali a te olhar. Sorria ao ver-te mexer as pequenas mãozinhas, balançar as perninhas. Sorria ao ver-te te rir dos que não criam em tua força. E hoje, sei lá quantos anos, horas ou dias depois. Encontras-te com aquilo que um dia foi dentro de ti Dividindo o mesmo sentimento que um dia tive De te proteger e de te agasalhar com meu corpo. Entendes, agora, a responsabilidade de se ter dentro de si. Entendes que nada que fizeres será o bastante. Entendes que és coadjuvante na história da vida. Mas, acima de tudo, entendes que nada nem ninguém. Poderá cortar este cordão umbilical invisível que os une, Nem mesmo tu.

Carmen Mattos

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Perdão



Quero te pedir perdão. 
Perdão pelas palavras ditas e não ditas 
Perdão pela falta de brincadeiras. 
Perdão por estar sempre cansada 
Perdão por ser tão dura 
Perdão por não entender os teus limites 
Perdão por te querer sempre vitoriosa 
Perdão por não entenderes o quanto eu te amava 
Perdão por não me fazer amar 
Perdão por sofrer por isso 
Perdão por ter ciúmes de teus outros amores 
Perdão por não ser aquela a quem querias 
Perdão por achar que fazia o melhor para ti 
Perdão por não perceber que sofrias 
Perdão por te fazer sofrer 
Perdão por te amar assim escondidinho 
Perdão pelo imenso amor que tinha por ti 
Perdão por ter tanto orgulho de ti 
Perdão por chorar escondido 
Perdão por não deixar que secasses minhas lágrimas 
Perdão por não secar as tuas 
Perdão por te amar cada dia mais 
Perdão pelas tuas lembranças 
Perdão por nem sempre crer nelas 
Perdão por não me defender 
Perdão por ter desistido de falar 
Perdão por te esconder as verdades 
Perdão por te deixar viver a mentira 
Perdão por tudo que fiz 
Perdão por tudo que deixei de fazer 
Perdão por achar que uma boneca substituiria um abraço 
Perdão pelas noites que passei fora 
Perdão pelas festas de colégio que faltei 
Perdão por te fazer sentir menor 
Perdão por não te dizer o quando eras importante 
Perdão por ter errado tanto 
Perdão, eu só queria acertar.

Carmen Mattos

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Algoz


Por vezes escutastes
No fundo do teu ouvido que não eras nada
E que nunca serias.
As palavras,
Ao passar dos anos,
Foram aos poucos se tornando realidade.
A tua realidade!
Convenceste-te da veracidade das palavras indignas
E assim passastes teus dias.
Fazias de tudo para agradar teu algoz
Como um cão morimbundo
No campo de batalha
Segurando as mãos daquele que te feria.
Sangrastes...
Derrubastes todos os teus sonhos
No meio da dor das noites mal dormidas.
Tiraram-te teu mundo,
Deixaram-te sem lar.
E mesmo depois de tanto tempo
As palavras ainda ecoam em teu ouvido
Que,
De tanto sofrer,
Pararam de ouvir
Escutando o vocabulário programado
Daquela que não vive,
Só existe...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Plenitude


Gosto de viver da forma que me faz livre.
Sem amarras 
E com o gosto de chuva nos meus lábios.
Gosto de experimentar o novo
E descobrir o que é vazio.
Gosto de explorar a felicidade em sua forma mais profunda
E viver com essa plenitude de bem estar.
Gosto do pouco
E crio expectativas.
Gosto do muito.
Sem meio termos
Ou mais ou menos.
Vivo na intensidade do segundo
E das horas que deixam marcas profundas em meu rosto
Trazendo à tona toda a sabedoria obtida com o passar dos anos. 
Tenho pressa,
Ao passo que busco calma.
Quero o mundo
Mas sei esperar...
Sei que,
Na minha vida,
Todos que se ausentaram 
Um dia hão de voltar.
E com essa certeza que move meus passos,
Aproveito cada manhã,
Cada pôr do Sol.
E vivo de uma forma louca,
Mas completamente real!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O que não posso


Perdoar.
Talvez seja a parte mais difícil do fim de ciclos.
Talvez você tenha que esquecer tudo o que aconteceu
E seguir em frente
Carregando toda uma decepção que jogaram em suas costas.
Perdoar pode ser um ato falho
Uma forma de dizer
"Tudo bem por tudo o que fizesses
Podemos seguir em frente".
Mas como perdoar
Quando não há explicações
Um pedido de desculpas
Ou um arrependimento?
Quando o perdão
Abre espaço para brigas
E a certeza que o outro errou.
Não sei,
Ainda,
Como oferecer o meu perdão.
Não sei
Ver você além do seu melhor
Aquilo que desses para mim
E que não consigo acreditar.
O seu melhor,
Talvez não seja o que esperava de você.
As justificativas para seus atos infantis
Talvez não seja a postura de um homem maduro
A qual julgava existir.
Talvez precisasse disso
Para descobrir o seu valor
Que de tão pouco
Tornou-se nulo.
Exigindo muito mais do que o meu perdão...

(Escrito por Natália Mattos)

Volta ao lar


Hoje fui dar meu adeus a uma pessoa que gostava muito.
Gostava por gostar, gostava sem motivos, sem porquês. 
Nunca fui tomar o cafezinho que sempre me convidava. 
Mas sempre bebi da sua alegria e de seu alto astral. 
Brincava comigo dizendo que só nos encontrávamos 
Na Igreja e no salão. 
Era um puxão de orelhas carinhoso. 
Hoje, pude mais uma vez, partilhar de sua serenidade. 
Hoje pude lamentar o café não bebido, as risadas não dadas. 
Mas, hoje pude também, dizer: 
Vá em paz, amiga. 
Pois nós nos encontraremos na saudade, 
Que é o lugar onde o amor se encontra com a ausência.

(Escrita por Carmen Mattos)

domingo, 30 de novembro de 2014

Para Carolina

Com o coração em frangalhos e apertado
Eu te disse: tchau 
Tu choravas e eu segurava meu pranto 
Para que não te sentisses mais sozinha ainda. 
Lembrei-me das inúmeras vezes, que quando criança 
Procuravas meu colo para te proteger 
E eu te abraçava apertado até teu medo passar. 
Hoje, não pude esperar o teu tempo de cura 
E te deixei ali parada, me vendo partir 
Já dentro do carro, dei vazão as minhas lágrimas 
Porque minha pequena estava sozinha 
Minha pequena com sua pequena 
Dividida, queria ficar mais um pouco 
Queria guiar seus passos 
Enquanto ela guiava novos passos 
Mas nossos caminhos seguiam 
Direções diferentes 
Muito embora, meu coração 
Estivesse junto ao seu 
Minha pequena agora era mãe 
Minha pequena agora era o colo que um dia eu fora 
E de colos em colos, 
De abraços em abraços 
De lágrimas em lágrimas 
Nosso destino se cruzava 
Eu te deixei sozinha 
Mas não te abandonei 
Caminhamos pela mesma estrada 
E fico dois passos para trás 
Para te erguer, se vieres a cair. 
Mas não cairás, pois és forte 
És guerreira, és mãe 
E por isso, dois passos atrás 
Não precisando te apoiar 
Resta-me olhar a frente 
Com orgulho da minha pequena 
Que leva em seu colo 
A sua pequena.

(Escrita por Carmen Mattos)

Depois da tempestade


Dividida entre razão e emoção,
Flagrei-me a um segundo de desmoronar. 
Enquanto guardava as lembranças no fundo do peito
E lembrava dos momentos bons desde que você partiu.
Assim, 
Sem querer, 
Fechei os olhos e pedi, 
Rezando baixinho, 
Que a dor que sentia desaparecesse.
O arco-íris depois da tempestade.
Foi assim que me senti
Depois que me livrei
Das lembranças que tinha de você.
Como doía sempre que sabia 
Que você me ignorava
Porque eu simplesmente não era ela.
Jamais saberás a confusão travada pelas suas atitudes.
Gritei o mais alto que podia.
E dessa vez você não estava aqui para me dizer que tudo ficaria bem.
Será que em algum momento você realmente esteve?
Deixe a água apagar qualquer marca
De que algum dia você estava aqui
De que algum dia você existiu
De que algum dia eu gritei 
E você não pôde me ouvir...

(Escrita por Natália Mattos)

sábado, 29 de novembro de 2014

Ame-se


O que é o amor? Durante muito tempo vagava achando que o Amor era uma criação de dependência. E com esse pensamento ruim sempre atraí os tipos errados que achava serem "os certos". Acreditei que pudesse ter o mundo através deles e, com esses pensamentos que me acorrentavam, via-me sendo sugada de emoções todos os dias, até que o jogo me entediava. E assim passei meus dias...
Aos poucos, no decorrer da vida, percebi que antes de amar o outro, é necessário se descobrir, amar-se com toda a plenitude do universo e ser feliz assim.
Descobri, com passos tortos, que é possível ganhar o mundo, sem que alguém jogue teu mundo aos teus pés, com mentiras.
E agora?
Estou apaixonada por mim mesma.
Com todo o coração e alma.
Pelo aquele ser que paira em frente ao espelho e por tudo aquilo que o Universo tem me dado de volta desde que aprendi o segredo do Amor. 
Ame-se, cuide-se, seja um reflexo de tudo aquilo que sempre quisestes ser. 
E, acima de tudo, seja grato.
Seja grato por tudo aquilo que te fez mais forte, mesmo que não o recebas de volta. 
Afinal, é a Lei do Universo: tudo que você faz volta com a mesma intensidade para você.
Então mesmo que haja mil corações partidos, rir ainda é o melhor remédio.
E seja grato...

(Escrita por Natália Mattos)

Outra vez




Hoje não tenho com quem falar e vou te usar como meu silencioso e compreensivo ouvinte. Aliás, acho que nunca tive com quem falar. Todas minhas angústias, medos, tristezas e aflições sempre foram compartilhadas com a morna água do chuveiro. Sem uma palavra, ela me abraçava misturando se as minhas lágrimas num processo que não sei se aumentava meu pranto ou se o diluía enquanto desciam pelo meu corpo nu em direção ralo. Hoje, mais uma vez vi a materialização da minha dor se encontrar, silenciosamente com sua velha companheira e vagarosamente ser expulsa pelos minúsculos buracos plásticos do chão no Box. Não foi diferente do que ocorria anos atrás quando tinha mil decisões a tomar sobre o futuro das meninas. Como Salomão, eu era a ordem, o deus, o poder. E para exercer tamanha força somente com a sabedoria que só a dor e o medo ensinam. Hoje a dor doeu muito. Foi diferente no seu sentir, mas não no seu doer. Já na rua sentia as chagas me destruindo alma, corpo, dignidade, orgulho, pudor, luz e sombra. Procurava um lugar para me esconder, mas tudo estava aberto. As pessoas olhavam discretamente, minhas mãos que subiam aos olhos e secavam a dor que teimava em se fazer sentir.

(Escrita por Carmen Mattos)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Insônia

São 02:12h e hoje está fazendo 32 dias que não escuto tua voz. Hás de dizer que não fiz tudo que pude e, eu te responderei que dei o melhor de mim. Hás de dizer que foi pouco e, eu te responderei que era tudo que tinha. Minha bagagem era de desamor, era de vergonhas, de humilhações e, assim tive que buscar, em exemplos que não tinha, uma forma de aprender. Não queria que meu passado fosse teu presente. Não queria que sofresses além do necessário exigido pela vida. Não queria que por falta de exemplos, seguisses os exemplos que te cercavam. Assim sendo fui, muitas vezes, dura, muitas vezes exigente, muitas vezes impaciente e, muitas vezes somente estava cansada. O que entendias por descaso e por rigidez, era somente medo. Medo de errar; medo de não seres a pessoa que hoje, és; medo de falhar. Anos se passaram, entre meus acertos e erros, te tornastes uma vencedora e como me orgulho disso! Hoje, na insônia de minhas noites, sinto falta dos dias em que te carregava no colo e escovava teus dentinhos enquanto ainda dormias no frio inverno do sul. Sinto falta de colocar teu uniforme, erguendo com esforço, cada membro teu ainda adormecido. Sinto falta de, depois de um dia inteiro de exaustivo trabalho, te cobrar a tabuada que dizias que nunca irias aprender. Aprendestes. Sinto falta de brigar por causa das amizades que fazias. Sinto falta dos tempos em que ficavas de castigo por causa das notas escolares. Sinto falta de quando me olhavas com ódio porque te achavas preterida. Eu sabia, ou pensava que sabia que, um dia entenderias que só te queria no caminho certo, te queria vencedora, te queria fazendo a diferença. E, hoje, és tudo isso, só que não faço parte das tuas conquistas, mesmo assim tenho muito orgulho de ti. A morte canoniza. Na morte as coisas ruins são esquecidas e lembra-se somente do que era bom, do que era engraçado, do que era bizarro. Todas as fraquezas, todas as maledicências, todas as feridas abertas são, escondidas num lugar escuro da nossa memória e assim tornamo-nos quase santos. Então, sei que um dia, terei teu amor, teu carinho e teu reconhecimento. Sei que um dia me defenderás das pessoas que me criticam. Sei que um dia um dia dirás: mãe eu venci, obrigada!

(Escrita por Carmen Mattos)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

FAXINA D’ALMA

Gosto de escrever para limpar minha alma. De outra forma não consigo vencer meus fantasmas, matar meus medos ou enxugar meu pranto. É ditando os meus sentimentos para o papel que consigo nocautear minhas mágoas. E já foram tantas! Tantas coisas abriram chagas profundas, crônicas, incuráveis, fétidas e dolorosas por muito tempo ou por todo o tempo. Assim vou passando para o papel o que sai das feridas nunca cicatrizadas, sempre latentes que, vez por outra, teimam em re-sangrar. Sei que isso não mudará meu mundo, minha vida, mas sei que isso me dará alívio no instante em que permito que toda a dor de minha alma purgue para meus escritos. Escritos vagos, escritos pagãos, escritos analgésicos. Não tenho a pretensão de ser lida ou mesmo entendida. Não, meu objetivo é falar o que está preso dentro de mim. Falar o desconhecido de todos. Falar para eu mesma ouvir. A lógica e o entendimento, não constam no dicionário de vida do qual me utilizo. Na verdade, nada consta em lugar algum exceto em algum lugar dentro de mim, que eu mesma custo a localizar. Por vezes se encontra no coração, noutras na alma, também pode ser encontrada nas palavras não ditas, no abraço não dado ou no telefonema nunca recebido. É engraçado esse meu doer. Ele dói e é só isso. Não escolhe lugar, hora ou momento certo para se apossar de mim. Ele vem dominador e faz-se presente sem que eu menos espere. É um doer doído em que a dor, como é conhecida, não está presente. E é com esse caos chamado sofrer que tenho convivido por tanto tempo e, que me derrota e eu a derroto, vezes sem fim. Como num jogo de xadrez, vence quem olha o horizonte. Inúmeras são às vezes em que sou feliz porque estás feliz, mas a tua felicidade me deixa infeliz. Como é difícil dirigir a vida quando a estrada é tortuosa e, por melhor que faças, sempre há de surgir uma curva súbita ou uma sinalização errada. Como é difícil, curar dores que desconheces a causa. Como é difícil te fazeres entender quando caminhas por uma Torre de Babel. Como é difícil implorares o que é teu por direito.

(Escrita por Carmen Mattos)

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Eu só tenho pena de ti


Eu tinha 11 anos quando nascestes. Asilada por causa de um amor traiçoeiro, Não tinha casa nem lar. Tu tinhas casa, mas não tinhas lar. Teu enxoval era de roupas encardidas pelo uso As únicas coisas novas que tinhas, eram os casaquinhos de lã feitos pela tua avó, nas longas noites de frio e sofrimento. Teu berço ficava entre a parede e o peito da tua avó, que mal se mexia por medo de machucá-lo. Não fostes amamentado, e era eu quem fazia tuas mamadeiras e depois tuas papinhas Tu me ensinaste a trocar fraldas, a testar a temperatura do leite na mão, a embalar para ninar. Contigo dei meus primeiros passos na minha história de mãe. Quando estavas com oito meses, fomos embora, em busca da felicidade que nunca veio. Depois teus pais nos seguiram, mas, tu ficaste com a outra avó, tão carinhosa, como a primeira. Quatro anos se passaram, até que novamente te tive nos braços. Eras tão carinhoso! Adorava, quando chegava da escola e vinhas correndo ao meu alcance e enlaçavas minhas pernas. Adoravas ficar no meu quarto enquanto eu estudava. Ficavas quietinho na minha cama, me olhando com adoração. E eu te olhava com adoração! Eras o meu pequeno príncipe. Assim, passaram-se seis anos. Brincávamos, ríamos, jogávamos, rolávamos no chão e eu te abraçava apertado e tu te aconchegavas no meu abraço. Depois disso, partistes e só te via eventualmente, mas, o meu amor era o mesmo. Aos 17 anos, sem nunca ter tido um lar na tua casa, perdestes a casa também. Já não te queriam. Eu te abriguei. Dei-te tudo que te fora negado. Dei-te carinho, dei-te amor, dei-te uma família. Durante um ano, voltastes a ser o menininho que me esperava no portão todos os dias e enlaçava minhas pernas num abraço amoroso. Voltastes a sorrir, brincavas como o menino de outrora, eras feliz. Nos teus 18 anos, ganhastes a carteira de motorista. Como ficaste feliz. Sentias-te um homem! Mas, novamente, tivestes que partir. E depois desta derradeira partida, não sei em que momento te perdi. Esquecestes todo um mundo de afeto e te apegastes a ídolos pagãos. Pessoas que nunca te quiseram nunca te acarinharam nunca te deram um lar. Tua avó que já não podia fazer casaquinhos de tricô para te agasalhar do frio que a vida te oferecia, morreu tendo tua foto a sua frente. Nunca entendendo o porquê de já não estares ali, deitadinho entre a parede e seu corpo, com o único calor que conhecestes nos teus primeiros meses. Eu, mais feliz que ela, pude chorar a tua morte no meu coração mesmo sem entendê-la. Todas as palavras que te disse com carinho, todo o amor que te doei ao longo dos anos, tu me devolvestes em forma de injúrias, calúnias e desapego. Com o beijo de Judas, traístes quem mais te amou. Por isso, eu não tenho pena dos Josés, dos Joaquins nem das Marias. Eu só tenho pena de ti!

(Escrita por Carmen Mattos)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Liberdade


Quisera eu
Sentir muito pelas tuas palavras vazias
Em um momento sóbrio de honestidade.
Quisera eu
Lamentar por tudo aquilo que deixou de existir,
Subitamente.
Quisera eu
Não tecer breves palavras para descrever o que sinto agora.
Porque o que sinto,
Jamais compreenderás.
Jamais entenderás o peso
Que abandonou o meu peito
Em um momento raro de honestidade.
Quisera eu
Que você pudesse achar que minhas palavras,
Agora,
Não são de brincadeira
E não se desmancham como o papel sob a chuva.
Quisera eu
Que o tão pouco
Fosse muito.
E assim,
De tanto querer,
De tanto pensar,
De tanto indagar,
Percebo que nada quisera eu
Além de tuas palavras vazias em um momento brusco de honestidade!

(Escrita por Versos Ditos)

Saber



Sabes, quantas vezes ela perguntava por ti, todos os dias? Dezenas.
Sabes, quantas vezes ela perguntava por ti, no mês?
Centenas.
Sabes, quantas vezes ela perguntava por ti, por ano?
Milhares.
Sabes por quantos anos isso se repetiu?
Não, não sabes.
Sabes, quantas vezes ouvi as mesmas histórias: da tua infância, da tua adolescência, do teu casamento, dos teus filhos, da tua infelicidade que tanto a fez chorar, da tua maturidade imatura}? Não, não sabes.
Sabes, quantas vezes ela me chamou de madrugada, perguntando se havias chegado porque, já estavas escuro e teu pai iria brigar? Não, não sabes.
Sabes, quanto seus olhos brilhavam quando me falava que fazia vestidos iguais para as duas, quando eras criança?
Não, não sabes.
Sabes, como ela se orgulhava de ti?
Não, não sabes.
Sabes, a única coisa que ela esperava de ti?
Não, não sabes.
Sabes, como era reconfortante mentir-lhe dizendo que estivestes aqui semana passada e, ela meio envergonhada, respondia: “Minha cabeça já não está valendo nada”?
Não, não sabes.
Sabes, que inúmeras vezes o telefone tocava e, quando eu desligava, dizia que eras tu querendo saber dela. Sabes como ela ficava feliz?
Não, não sabes.
Sabes, o que era mais doloroso?
Não, não sabes.
O mais doloroso, era os pequenos instantes de lucidez, quando ela se dava conta que de nada sabias e me olhava com um olhar perdido como se perguntasse: por quê?
Duas lágrimas silenciosas escorriam de seus olhos e, ela voltava para seu mundo de faz de conta.
Sabes, o quanto era bom quando ela, também, não sabia o que não sabes?
Mas tudo isso que não sabes, nunca irás saber, porque, o tempo passou para ti e para ela.
Sabes o que resta agora?
Não, eu também, não sei.

(Escrita por Carmen Mattos)

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Desalento


Ela veio por entre a neblina
Via vultos disformes
Com seu olhar embaçado
Tropeçava em pedras desnudas
Que faziam de seu corpo
Um emaranhado de cicatrizes
Por vezes rastejava sem forças
Perdidas após tantas batalhas
Quando avistava uma mão estendida
Erguia a sua para então sentir
O gélido orvalho de uma noite de inverno
Assustada, dava um passo atrás.
E sucumbia no abismo de si mesma
Não lembrava ter vivido de outra forma
Não conhecia o calor de um amor verdadeiro
Já não acreditava haver outro caminho
Assim seguia em frente
Caminhando, caindo, rastejando
Em direção à escuridão
Que, enfim, traria cura.
Para seus desalentos.

(Escrita por Carmen Mattos)

domingo, 23 de novembro de 2014

Porta Fechada


Ficar só não é triste.
Triste é esperar o que nunca chega.
Ouvir passos que vão a outra direção.
É a porta do elevador que se abre, mas a campainha não toca.
É ver a manhã se transformar em tarde, e esta em noite.
E ali,
Sentada,
Olhando a porta que nunca será aberta.
O balanço da cadeira embala minhas dores.
Mágoas, tristezas, solidão e vazio são minha companhia.
Pensar no que poderia ter feito e não fiz.
Neste tempo que, parada, olhei para o que não veio.
E o que não veio é fruto do que não fiz.
Ou será que fiz,
De forma tão singela,
Que não foi notado?
E o que fazer com o tempo que ainda me resta?
E o que fazer com o olhar que não sai do lugar?
E o que fazer para que a campainha toque e a porta se abra?
Preparo bolos,
Preparo biscoitos,
Preparo amor.
Mas a porta não se abre e,
Embolorados,
Jogo-os no lixo.
Tanto amor e tanta dor misturadas
Aos restos de esperanças que guardava em mim.
No fundo de um saco de plástico preto
Que alguém vai,
De forma descuidada,
Jogar ao relento de um lugar abandonado.
Assim passam-se os dias de uma vida sem vida.
Assim,
Talvez,
Pague os pecados que nunca cometi.
Assim espero pelo dia,
Em que seja eu a passar pela porta,
Que nunca se abriu para ninguém a não ser eu mesma...

(Escrita por Carmen Mattos)

sábado, 22 de novembro de 2014

Guerreira não chora




Era um desenho de linhas fortes

De traços delicados e coloridos

Apagastes tudo e hoje

Só se vê a marca no papel branco

Os borrões deixados não permitem

Que se veja, quem um dia fora.

Não há mais aquela imagem

Delicada e guerreira da mulher

Que só queria ser feliz

E quando olhas o papel,

Por vezes de causa riso

Por vezes tens vontade de amassa-lo

Mas o deixas ali numa mostra

Vil de tua valentia

Agrada-te saber do teu poder

Agradar-te pensar que podes

Fazer dele o que quiseres.

E na tua prepotência de homem forte

Não percebes que ela vai se redesenhando

Pouco a pouco, com traços firmes.

Não há colorido nesta nova imagem

Mas os tons de cinza vão se espalhando

Formando a sombra do que um dia

Voltará a ser o que fora outrora.

Ficarás espantado, olharás para os lados.

Procurarás onde errastes

Sem perceber, que fora do papel.

Eu enxergava a bolha em que estavas

 E enxergava o teu avesso

Entendia teus pensamentos

Ouvia teus sentimentos

Pois mesmo apagada

Eu era muito mais

Do que acreditavas

E te esquecestes, na tua ousadia.

Que uma guerreira não chora.

(Escrita por Carmen Mattos)


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