Ela
lembrava-se, nitidamente, das suas mãos tão grandes.
Sentia-as
deslizando, carinhosamente, pelas suas costas.
Não eram
macias, nem mesmo bonitas, mas muito suaves.
Ela fechava
os olhos e saboreava extasiada aqueles abraços.
Eram
momentos únicos, lúdicos, que queria ser infinitos.
Aos poucos,
sem que ela soubesse a causa, foram rareando.
E ela foi se
sentindo perdida, sem respostas as suas perguntas.
Sua alegria
foi se esvaindo, esqueceu como era sorrir e brilhar.
Já não ouvia
música, nem apreciava as coisas belas a sua volta.
Não via mais
o corpo dele como fazendo parte de seu corpo.
Assim ela
foi se afastando mais e mais daquele a quem amava.
E tudo
começara pela falta do toque das rudes mãos dele.
Mesmo assim,
ela tentara desesperadamente, tê-lo de volta.
Foi sua
companheira, solidária em seus medos e sofrimentos.
Sonhou seus
sonhos e fez com que tivesse coragem de sonhar.
Envolvia as
grandes mãos com as suas mãos de forma suave.
Em forma de
concha e elas se alinhavam em total perfeição.
Toda a
felicidade ali contida e não fugiam por entre os dedos.
Palavras
ríspidas, críticas irônicas e o desmazelo com o amor,
Faziam com
ela se sentisse a cada dia menor e mais distante.
Por vezes
queria ser invisível, mas nada falava e só o olhava.
Chorava no
chuveiro e deixava suas paixões irem-se pelo ralo.
Todo o
abandono em que se encontrava, com ninguém dividia.
Sofria
sozinha no descaso da ausência daquele a quem amava.
Um dia, ele
afastou suas mãos da dele e ela tropeçou na dor.
Desconcertada
com o paradoxo daquilo tudo, calou-se de novo.
Poucos dias
antes, dissera-lhe que iria mudar e viver de amor.
Olhou-o sem
entender nada e nada ele lhe disse nessa hora.
Foram dias intermináveis
e noites com a alma desassossegada.
Então, virou
as costas e saiu regando a terra seca com seu pranto.
Não olhou
para trás, para todas as ilusões e esperanças ali deixadas.
Seguiu em
frente, trôpega e vacilante por um caminho de pedras.
Levou
consigo as mãos que envolviam mãos, agora, desprotegidas.
E assim,
pouco a pouco, tudo foi caindo pelo vão dos rudes dedos.
A cada dia,
algo se perdia para sempre como perdera o amor dela.
Sozinho, no
meio do nada, via seu mundo se despedaçar lentamente.
Já não havia
mais cor ou perfume, até sua sombra o abandonara.
Pensara em
ter uma vida inesquecível ao lado de outras pessoas.
Mas
inesquecível, foi somente a ausência daquela que lhe dava luz.