quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo



Ano novo, vida nova, novos planos, sonhos e conquistas.
A virada que pode definir tua vida, ou não.
Pode ser que neste ano que se aproxima, faças mil promessas e as veja morrer no primeiro raiar do dia.
Pode ser que faças mil promessas e as cumpra.
Tanta coisa pode acontecer nestes 365 dias que virão, sem que nem ao menos esteja em teu cronograma de vida.
Podes te surpreender...
Entretanto, o que importa no final de todo o ciclo é a esperança na renovação, é a coragem de acreditar no novo e ter ambição para fazer tudo valer a pena.
Que 2015 traga a todos muitas felicidades e muitos sonhos que, por mais impossíveis que pareçam, detém magia por simplesmente existirem.
Que o ano que se aproxima te pegue de peito aberto, pronto para novas possibilidades, novas oportunidades, sem medo de andar no escuro ou voar alto.
Que a felicidade vire rotina e pensamentos bons façam parte do cotidiano.
Que seja um ano abençoado para mim, para ti e para todos nós.
Feliz 2015!!!

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Mariposas


Há pouco abraçamo-nos, era Natal.
Agora, enquanto todos dormem,
Vejo-me sentada, olhando.
Pequenas mariposas 
A dançarem pelas lâmpadas
Que piscam no seu bailar.
Pensamentos distantes
Remontam tantos Natais
E sempre a mesma imagem
De desconsolo, de solidão.
Esforço-me para lembrar
Se houve algum sem sombra
Se houve algum pleno
Mas só encontro
Taças quebradas e vazias
As mariposas vão e vem
Hipnotizando meu pensar
Penas, dores, mágoas.
Tudo gira no ritmo da luz que pisca
E elas se divertem na brincadeira
Do pisca pisca,
As lágrimas escorrem no mesmo passo
O silencio é total
A noite segue adiante
E eu insone, invejo o vai e vem.
Das mariposas nas lâmpadas
Queria saber sua dança
Que termina quando a luz se apaga
E depois, caem mortas no chão frio.
Cansadas e imersas no seu destino
Não tenho destino
Sigo em frente, por não ter aonde ir.
Absorta na aparente felicidade
Onde sorrisos são obrigatórios
Levanto-me e caminho lentamente
Para uma morte sem final.
Outro dia, conversas coloridas.
Numa alma sem cor.
Olho as mariposas caídas no chão
E percebo a beleza da morte bailante
Mortas são mais belas
Que ficar sozinha olhando-as
A rodopiar incessantemente
Até a exaustão de seu corpo frágil
Nosso caminho será o mesmo
Mas não terei toda a gloria 
De ser feliz pelo menos por uma noite:
A noite de Natal, com suas luzes.
Seus brindes e alegrias fugazes
Sinto-me só
Sinto-me a rodopiar
Na dança fúnebre
De todo o meu viver.


Escrita por Carmen Mattos

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Porto Seguro


A felicidade se faz no silêncio quando as palavras já não servem para demonstrar o valor que se perdeu.
Com as luzes acesas do quarto até então escuro pela neblina que pairava sobre os intermináveis pensamentos que conduziam a alma, abre-se espaço para sorrisos soltos.
Os olhos brilham com a emoção do momento em que a alma engrandece, agradecendo por tudo aquilo que aconteceu, até então.
E assim, com o raiar do Sol que ilumina a mente, vislumbra-se mais um dia bom, onde aquilo que era pouco se quebrou e já não há lugar para a tristeza.
A vida continua, em sua melhor forma, com o brilho nos olhos que até então estava perdido, ao procurar um porto seguro, sem perceber que o porto seguro tanto esperado estava escondido em seu próprio ser.

Vinte e Nove


Divago sobre coisas sem sentido enquanto, sentada, sobre a grama ainda úmida da chuva que castigava a terra há meses, percebo tudo o que havia vivido até então. 
Por muitos momentos havia até pensado em desistir, cerrando as cerdas douradas rente a meus pulsos que teimavam em não se romper.
Questiono-me se algo faria sentido então ou se apenas deixaria mais feridas naqueles que, em algum momento, acolheram-me na longa jornada de anos.
Lembro subitamente do 21 de março, a data de hoje, em que completava 29 anos.
Já haviam rugas que riscavam minha face, ameaçando denunciar minha idade que, até então, era de uma menina.
Olhava-me ao espelho e gostava daquilo que via. 
Eu era bonita, cobiçada, mas de uma forma tão sutil, colecionava amores e os via partir. 
Nunca fui de me apaixonar perdidamente, mas sofria toda a vez que a porta fechava deixando passos na escuridão.
Sempre vivi sozinha e gostava daquele aconchego com gosto de liberdade que isto me trazia, gostava do poder de controlar minha própria existência.
Havia um medo e um espanto toda a vez que alguém invadia aquele universo só meu.
Era meu e ninguém poderia tomar conta dele, não até o momento em que quisesse realmente ficar.
Tive namorados loucos, ciumentos, preguiçosos e possessivos...
Mas também tive aqueles que faziam o mundo ter sentido e enchiam o ar de graça por onde caminhavam.
Todos eles, cedo ou tarde, partiam, abrindo espaço para o sentimento mais nobre que podia sentir, a amizade.
Não poderia esquecer também daqueles que me cercavam e que arrancavam meus sorrisos pelo simples fato de existirem. 
Nunca tive muita paciência para consertos ou para esperar do outro um gesto delicado de bem querer sem que antes disto viesse uma tempestade.
Já tinha experiência farta com tormentas e furacões...
Conhecia o mundo a meus olhos, e sentia ciúmes...
Queria me mudar, mudar de emprego, carregar o mundo dentro do peito.
Ou talvez ficar e ver mais primaveras e verões da janela do meu quarto.
Casar e ter filhos era uma opção, ou não.
Poucos entendiam que tudo o que precisava era de alguém que me colocasse no topo do mundo com os pés no chão. 
Alguém que não fosse tão ruim e nem tão perfeito como tudo o que tive até então.
Alguém de verdade!
E enquanto isso, em um flashback de emoções, enquanto a grama salpicava a minha pele clara como a neve, vislumbrava um novo começo, um novo caminho, uma nova era.
E divagava sobre tudo o que vivi até então, em longos versos que condiziam com os meus mais íntimos segredos.
Segredos estes que carregava no peito no dia 21 de março, no auge dos meus 29 anos tão cheios de vida e tão cheios de histórias para contar...

domingo, 28 de dezembro de 2014

Em vão


Peço desculpas
Mesmo sabendo que quem mais errou não fui eu.
Peço desculpas
Mesmo sabendo que minhas palavras ecoam ao teu ouvido
Sem que façam qualquer ruído.
Peço desculpas
Porque reconheço o ser falho que sou
E reconheço que sempre há uma folha em branco
Por detrás do caderno rabiscado
Pelas palavras ferozes.
Peço desculpas
Porque o querer bem
Foi-me dado como meta de vida.
Peço desculpas
Mesmo diante do teu olhar turvo de desprezo.
E assim,
Enquanto peço desculpas a ti,
Desculpo-me a mim mesma
E prossigo tentando,
Mais uma vez,
Não errar em vão!

Linda Flor



Que belas asas que tu tens,
Minha linda flor.
Nascida na areia
Na beira do mar
No frio do inverno.
Lembro dos teus passos exuberantes
Chutando o mar que molhava teus dedos
E que te fazia dançar a canção de ninar que cantava para ti.
Minha linda flor
Que já não tem nome
E se confunde com o horizonte entre céu e mar.
Com o canto de sereia
Com o esplendor de bondade
O encantamento que causas é inexplicável.
Minha linda flor
Nunca deixe de caminhar com estes passos
Que no seu rebolado
Compõe mais uma canção de amor.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Tudo ou Nada


Depois de tudo o que passei, depois de tantas desilusões, meu pensamento poderia estar em mil lugares, ou em nenhum. 
Eu poderia viver no encantamento de minha própria existência e me dedicar tão somente a isso.
Eu poderia ser feliz assim.
Entretanto, no meio de mil possibilidades, escolhi abarcar meus pensamentos em ti, aquele que tão pouco fala, deixando um ar de mistério e impotência por onde passa.
Dou-me conta, finalmente, que muito poderia, se não tivesse te conhecido.
Agora meus pensamentos contemplam um cantinho bom dentre os teus braços e percebo que  o tudo nada valeria, se não existisse o pouco que me dás! 

domingo, 21 de dezembro de 2014

O que eu não posso te dizer


Eu queria te dizer
Quantas vezes fizeste-me sorrir ao longo do dia
Com piadas sem graça
E tua genuína implicância. 
Eu queria te contar
Quantas vezes tu te tornastes 
Meu momento de lazer
Enquanto estava no trabalho
E preferia tu
Àqueles papéis tão sem vida.
Eu queria te contar
Que tu me entendes como jamais alguém entendeu
E que fui feliz nos poucos momentos que compartilhamos juntos.
Eu queria te perguntar
Se tu lembras quando eu disse
Que minha paciência tão escassa
Levava-me para longe
Sempre que sentia o pulso apertar
E o coração se despedaçar.
Eu queria te dizer,
Agora,
Que não preciso destas respostas.
Porque tudo o que queria
Eu já não posso ter
E já não posso mais rir das tuas brincadeiras ruins
Quando percebo que elas não eram só minhas
E aí o jogo perdeu o graça.
Eu só queria te dizer
Que mesmo sentindo tua falta
Não tenho mais nada a dizer
Porque tudo o que pudesse dizer
Estragaria as lembranças tão boas
Do pouco tempo em que nos conhecemos.
Assim,
Desisto de tudo aquilo que queria te dizer
Guardando no fundo do peito
Aquilo que jamais escutarás de mim. 
E que era tudo o que eu queria te dizer
Agora,
Neste momento
E que já não posso mais...

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Espelho Coberto - Divagação



Você já parou para pensar que não é tão maravilhoso quanto pensa ser? Alguns defeitos nossos, na nossa inconsciente vaidade, não conseguimos perceber. As pessoas a nossa volta, por vezes, os veem. E como ficamos chateados, quando nos dizem! As pessoas são chatas ou você está intolerante? Imagine se pudesse olhar no espelho e ver como você realmente é, e essa imagem fosse monstruosa? Não estou falando sobre o que demonstramos como agimos como falamos; estou me referindo ao seu inconsciente, ao seu eu verdadeiro. Com certeza, taparias esse espelho de forma definitiva. Ninguém aceita se ver como algo que não gosta. Somos perfeitos na nossa infinita benevolência com nós mesmos. Mas as outras pessoas nos enxergam de forma diferente daquela que acreditamos ser. Alguns não gostam, outros adoram nosso modo de ser, mas esse modo não é o nosso verdadeiro eu. E qual seria? Não sei. É algo tão entranhado no nosso interior que se torna uma sombra invisível até para nós mesmos. É a crítica que fazemos aos outros, é a inveja, nunca boa, que temos de alguém, é o desejo de ser algo que nunca seremos de verdade. Aí vem o questionamento: quem sou eu? Quem é você? Somos seres sociais que vivem segundo a ética e moral vigente. Não, esse não sou eu nem é você. Essas são pessoas que não se olham no espelho e não veem o seu interior. Nós, você e eu, somos a repressão dos nossos sentidos que foram educados para sermos o que devemos ser. E quando nos cansamos dessa máscara que usamos no dia a dia? Como fazer para arranca-la visto que ela já está tão presa aos nossos sentidos que nem a sentimos mais? Seria como arrancar o corpo que está preso a nossa alma. E como agiria nossa alma sem essa máscara? Não sei. Como, entre dezenas de pessoas que convivem conosco, cada uma nos ver de uma forma diferente? Qual dessas pessoas nós somos? Ou somos como achamos ser? O ego, o superego, o consciente e o inconsciente, somos a soma de tudo isso? E o que vem primeiro? O que é mais importante? O que eu vejo de mim? O que você vê de mim? Existem mil teorias e mais estudos sobre isso, mas eu questiono o meu espelho de bruxa e as teorias ficam no vazio. Queria saber quem sou e queria saber quem você é, mas o pano já encardido pelo tempo, cobre o espelho de nossa alma e nos deixa a deriva de sentimentos paradoxais. Sou tudo aquilo que odeio em você e por isso comporto-me de forma antagônica a sua, ou sou tudo aquilo que odeio em você e comporto-me de forma igual, mas não reconheço isso em mim? Sou perfeita diante do espelho ou o espelho reflete somente o que quero ver? Em qual dos espelhos você me vê? E quantos espelhos me refletem? Cada pessoa tem um espelho para refletir cada pessoa? Em qual dessas imagens eu estou?
Descobri que não sei quem sou e não sei quem você é, porque não sei qual o espelho que reflete a imagem verdadeira. Se somos a soma do ego e superego, consciente e inconsciente, somos o infinito de pensamentos e sentimentos modulados pela argila da vida. Sendo assim, não somos ninguém, pois não é possível quantificarmos todas as facetas que fazem de nós meros reflexos de espelhos sem fim.

Carmen Mattos

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Meu nome


Escolhas erradas
Caminhos tortos
Um novo começo de dia.
Tropeças na solidão
Enquanto o Sol ilumina teu rosto
Com o tempo exato de recomeçar.
Fazes descaso com o acaso.
Duvidas das oportunidades
E freias bruscamente em frente às possibilidades.
Faço de ti mais um brinquedo
E ilumino tua mente
Com pensamentos ruins.
Firo o teu peito
E sem notares,
Tomo conta de ti. 
Chamas-me de Destino
E brigas comigo enquanto tu és o meu fantoche.
Rio de ti por não saberes quem eu sou.
E assim,
Não tentas desfazer as amarras que plantei em tua mente.
Para não tentar,
Deixas de lutar.
Não sabes meu nome
Nunca procurastes saber.
Enquanto tu me chamas de Destino
E eu te respondo que sou a Desilusão.


Natália Mattos

Perda


Anos após anos venho resistindo as tuas facadas
Com malícia e crueldade me atacas sem piedade
É uma palavra, um olhar, um pequeno gesto.
Te sentes poderosa, vingada, a melhor
E eu mergulhada no teu ódio me pergunto: por quê?
Que te fiz de tão danoso, quantas lágrimas te fiz chorar?
Sempre estive ao teu lado mesmo quando ninguém te queria
Sei que pequei algumas vezes, mas meu maior pecado.
Foi o de não defender-me das calunias e mentiras
Que ouvistes por tantos anos de pessoas de má fé
Achava tudo tão evidente que não quis jogar o mesmo jogo
E hoje, quando todos se foram, não posso mais me defender
Como queria levar para bem longe teu sorriso de escarnio
Como queria ignorar o que mal falas de mim aos outros
Mas vejo ao teu redor, como uma redoma,
Algo que não posso ultrapassar
E assim fico aqui perdida
A te olhar de longe sem nunca poder toca-la
Meus braços, minhas mãos são impotentes.
Diante de tanto desquerer
Olho-te com a ternura, que se derrete,
Diante do teu descaso
Cansada e perdida
Volto-me a mim mesma
Na desilusão do tempo passado
Tão presente dentro de mim.

Carmen Mattos

domingo, 14 de dezembro de 2014

Morte em Vida



Ajoelhada sobre o chão pedregoso.
Sinto meus joelhos sangrarem.
Minhas unhas, cobertas de terra,
Cavam vorazmente mais uma vez.
As lágrimas que caem do meu rosto
Não cicatrizam as feridas e rachaduras
Das minhas mãos e da minha alma.
Sequer molham o chão,
Para tornar mais leve o meu penar.
Olho para os lados e vejo fileiras
De covas rasas e doloridas.
Quantas vezes já estive neste mesmo lugar?
Quantas vezes ainda hei de vir?
Reconheço cada pedacinho desse chão.
Cada um tem sua história de dor.
Foram ingratidões, traições, descaso,
Humilhações, palavras rudes, silêncios ensurdecedores,
Abraços não dados ou beijos negados.
Todos contam um pedacinho de mim.
Todos tem um pedacinho de mim.
Eu dei tanto, quis tanto, amei até o infinito.
Mas no fim do meu infinito
Encontro-me eu a cavar
Mais uma cova num cemitério virtual.
Em que podem entrar todos aqueles
Que um dia julgaram que me tinham nas mãos
Esquecendo-se que sou areia e não pedra
E posso escorrer por entre os dedos,
Antes que se deem conta onde estou.
Procuram-me sem saber
Que estou no seu funeral
Choro, lamento, sofro
Visto-me de preto
Entristeço-me no luto da perda
Resguardo meu coração
Tristonho na ladainha da morte
Aquieto-me por tempos
Em respeito ao que foram
Enterro, e não existem mais.
Essa é a última fase da vida
Quando eram, também, minha vida.
Levanto-me, trato minhas feridas.
E sigo em frente sem nunca mais
Pronunciar seus nomes ou lembrar-me
Que um dia os amei
Com tal intensidade
Que para sobreviver
Era necessário que morressem.
Fecho o portão.
Dou uma última olhada para dentro
E com toda a força que me resta,
Suspiro e vejo que estão no lugar que lhes pertence.
Onde jamais poderão alcançar-me novamente.
Estou livre.

Carmen Mattos

sábado, 13 de dezembro de 2014

VIDA EM PÓ



Por muitos anos eles te esperaram
Eras o desejo maior da vida deles
Enfim chegastes: forte, bonito e saudável.
Todo um mundo de alegria se formou.
Com o coração acelerado
E um largo sorriso nos lábios
Ouviram teu primeiro choro.
Sonharam para ti uma vida de venturas
Trabalharam duro, dia e noite
Encheram suas mãos de calos
Não escolhiam hora para sua lida
Tudo que faziam era para ti.
Os anos foram passando
O amor deles aumentando
E te querer se tornou imenso
Agora, eles choram e não veem.
Teu coração acelerar nem um sorriso teu
Os sonhos viraram papel picado
Jogado ao léu
Não existe mais dia ou noite
Existe somente: onde estás?
As mãos calosas, agora sangram.
E és tu que as fere com um punhal
De mentiras e desamor
Os olhos deles já não sabem
Viver sem lágrimas
E cada dia é uma jornada
De medos e angústias.
As esperanças pouco a pouco
Esvanecem-se nas trevas em que estás
A longa espera da tua chegada
Ainda existe, mas, agora é feita de dor.
Pouco a pouco, matas quem mais te ama.
Trocas ouro por bugigangas
E crês que podes ganhar
Mas a perda é inevitável
Porém não perderás sozinho
Levarás contigo tua mãe e teu pai
Para um mundo de ninguém.
Para um mundo onde
Não há ponto de retorno.

Carmen Mattos

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

... SIMPLESMENTE... MÃE


Abrace-a com força
 Enrosque-se em seu corpo, como uma cobra.
 Para que os de perto não possam tocá-la.
 Camufle-a de pássaros, flores,
 Pedras, rios ou mares.
 Para que os de longe não possam vê-la.
 Proteja-a de tudo e de todos
 Como se dentro do teu útero ainda estivesse
 Abdique de todos os teus sonhos e vontades
 Para tão somente poder amar
 Amor incondicional
 Amor irracional
 Amor sem sonhos e sem vontades
 Amor por ser parte e toda você
 Cale seu grito e seque seu leite
 Para que ninguém possa encontrar-te
 Não mostre tuas lágrimas
 Para não assustá-la
 Dê-lhe o mais lindo dos teus sorrisos
 Para assim aquecê-la
 Envolva-a nos teus cabelos
 Como se um manto fosse
 Mas acima de tudo
 Conscientize-se que desde que ela nasceu
 Tu és ela.

Carmen Mattos

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Até que um dia


Tranco a porta e na vitrola que jaz em cima do cômodo velho, coloco o refrão mais doce que posso encontrar. Danço comigo mesma na frente do espelho, entre caretas, sorrisos e lembranças do abraço que me acalmava. Invento passos, na medida em que a música enche o ar de vida, espalhando sentimentos bons dentre as paredes que me cercam. Enxergo uma multidão de mim mesma, compartilhando o momento que é meu, só meu, ou nosso.
Descubro o meu melhor sorriso e a cara triste que fazia quando brigava com você. Percebo que posso ser tudo e nada, nessa brincadeira de criança que me faz sorrir.
Brinco de esconde- esconde com o reflexo do espelho e me vejo flutuar nesse mar azul da saudade.
Penso em você e em mim, enquanto ainda éramos jovens e dançávamos essa música no meio de mil promessas de amor eterno.
Meu rosto se ilumina e mesmo assim continuo a dançar junto com o som que parece tão fresco e ao mesmo tempo antigo.
Faço as mesmas juras de amor que soava ao seu ouvido, todas as noites, antes de dormir.
Sonho com os dias em que ficamos juntos.
E assim, ao som que ainda toca na vitrola, agradeço por sua companhia nos muitos anos em que vivemos juntos, sem perceber os cabelos grisalhos que habitam meu rosto.
O tempo passou depressa demais!
E antes que a música acabe, imagino-lhe ali, comigo, como muitas vezes antes de você partir.
Os anos levaram-lhe de mim...
Mas mesmo assim, consigo sentir o frescor da sua pele rente a minha, ao dançar mais esse doce refrão que embalou as nossas vidas e que lhe faz vivo, todos os dias, até que um dia eu possa lhe encontrar. 

Natália Mattos


SÓ UMA LÁGRIMA, SÓ UMA VIDA


Uma lágrima saiu dos meus olhos
Escorreu pelos meus lábios, fechando meu sorriso
Caiu nos meus seios que um dia te amamentaram
Passou por meu ventre que te acolheu
Parou sobre meus punhos fechados que impediram
Que te abortasse, findando o amor que já sentia por ti
Dias de lutas, dias de medo, dias de esperanças
Todas as batalhas foram ganhas
Hoje é uma vitoriosa
Hoje é meu orgulho
E eu sou tua vergonha
Carrego nas costas a cruz de ter te feito infeliz
Cega na minha ingenuidade, não consigo ver a cruz
Mas sinto seu peso a ferir Minh ‘alma
Errei muitas vezes, acertei tantas outras
Imortal é teu ódio
Imortal é minha dor
De ver teu olhar a olhar o meu
Sem saber o que fazer
Vou partir devagarinho
Só para que possas
Ser feliz em toda a sua plenitude
Seco meu leite
Encolho meu ventre
E abro meus punhos
E que minhas lágrimas
Caiam no chão árido da minha vida.


Carmen Mattos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Uma nova melodia


Muito tempo se passou desde que pudesse escrever essas poucas linhas.
A conclusão a que cheguei foi que somente o tempo poderia transformar tudo aquilo que tinha em mente e tudo aquilo que tinha a dizer nessas palavras atiradas sobre o papel.
Quando eu percebi que tinha muito a lhe dizer, pedi calma e deixei a água lavar o gosto amargo que recairia sobre aquilo que nem és.
E assim, cansada de tanto pensar, prometi que não lhe julgaria e tampouco atiraria pedras em seu caminho.
Não lhe desejaria o mal.
Não lhe odiaria.
Fiz as pazes comigo mesma e inventei uma canção nova, uma nova forma de dançar essa melodia.
Optei por não brigar enquanto enxergava o futuro em minhas mãos.
Com a simplicidade de sentimentos e de momentos que foram em vão, a magia simplesmente não existe mais.
Percebi, então, que as poucas linhas que tenho agora para escrever sobre você são tão curtas quanto o seu temperamento ruim.
E de tanto pensar no que diria quando esse dia chegasse e quando já estivesse pronta para deletar tudo aquilo que um dia você representou, descobri que jamais houveram verdades.
Mas nunca houve mentiras.
Apenas um espaço em branco que nos unia, como a folha de papel que não consigo preencher para dizer tudo o que penso sobre você agora.
Pelo simples fato de ser vazia de melodia...


Natália Mattos

Sombra


Despida de vaidades
Maltrapilha de sentimentos
Segue o caminho em frente
Sem nunca chegar a lugar algum
Por muitas vezes seguiu atalhos
Cobertos de flores
Que rasgaram sua pele
Com seus implacáveis espinhos
Já não se arrisca a buscar
Outras direções
É seu destino andar esta estrada
 De desamores, desilusões e lágrimas.
Não, já não há mais lágrimas.
Já as chorou todas
Há um vale em seu rosto
Por onde elas passaram
Secadas pelo sol ardente
Que já não queima sua pele
Farrapos foi só o que restou
Restos de amores desamados
Sobras de carinhos fugazes
Olha para trás para ver se alguém a segue
Mas nem mesmo sua sobra lhe acompanha
Totalmente só em sua solidão
Deu tanto de si
E hoje cambaleia por entre vazios
Criou perspectivas,
Coloriu  mundos
Fez castelos e se fez princesa
Foi bondade, foi meiguice.
Foi em vão
É cinza seu céu, sua estrada e sua vida.
As cores se apagaram de seu olhar
O brilho, também, já não existe.
Com os pés sangrantes
Caminha em direção ao nada
Onde nem sua sombra ousa ir.


Carmen Mattos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

E de tanto esperar, ela, que tinha o sorriso tão lindo, apagou-o no meio da multidão e passou a desacreditar...

Tempo de Gestar



Faz tanto e tão pouco tempo, que já não sei medir em anos, dias ou horas. Tudo começou sem querer começar e já começado foi abençoado. Tantos contratempos, tantos senões e mesmo assim viestes. Devagarzinho, sem querer incomodar. Bem quietinha, quase não te mostravas. Assim chegastes. Chegaste diferente. Brigando, lutando, vivendo. Mas, sempre quietinha. Eu te via e via através de ti toda a força que emanavas. Enquanto todos te evitavam, eu ficava ali a te olhar. Sorria ao ver-te mexer as pequenas mãozinhas, balançar as perninhas. Sorria ao ver-te te rir dos que não criam em tua força. E hoje, sei lá quantos anos, horas ou dias depois. Encontras-te com aquilo que um dia foi dentro de ti Dividindo o mesmo sentimento que um dia tive De te proteger e de te agasalhar com meu corpo. Entendes, agora, a responsabilidade de se ter dentro de si. Entendes que nada que fizeres será o bastante. Entendes que és coadjuvante na história da vida. Mas, acima de tudo, entendes que nada nem ninguém. Poderá cortar este cordão umbilical invisível que os une, Nem mesmo tu.

Carmen Mattos

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Perdão



Quero te pedir perdão. 
Perdão pelas palavras ditas e não ditas 
Perdão pela falta de brincadeiras. 
Perdão por estar sempre cansada 
Perdão por ser tão dura 
Perdão por não entender os teus limites 
Perdão por te querer sempre vitoriosa 
Perdão por não entenderes o quanto eu te amava 
Perdão por não me fazer amar 
Perdão por sofrer por isso 
Perdão por ter ciúmes de teus outros amores 
Perdão por não ser aquela a quem querias 
Perdão por achar que fazia o melhor para ti 
Perdão por não perceber que sofrias 
Perdão por te fazer sofrer 
Perdão por te amar assim escondidinho 
Perdão pelo imenso amor que tinha por ti 
Perdão por ter tanto orgulho de ti 
Perdão por chorar escondido 
Perdão por não deixar que secasses minhas lágrimas 
Perdão por não secar as tuas 
Perdão por te amar cada dia mais 
Perdão pelas tuas lembranças 
Perdão por nem sempre crer nelas 
Perdão por não me defender 
Perdão por ter desistido de falar 
Perdão por te esconder as verdades 
Perdão por te deixar viver a mentira 
Perdão por tudo que fiz 
Perdão por tudo que deixei de fazer 
Perdão por achar que uma boneca substituiria um abraço 
Perdão pelas noites que passei fora 
Perdão pelas festas de colégio que faltei 
Perdão por te fazer sentir menor 
Perdão por não te dizer o quando eras importante 
Perdão por ter errado tanto 
Perdão, eu só queria acertar.

Carmen Mattos

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Algoz


Por vezes escutastes
No fundo do teu ouvido que não eras nada
E que nunca serias.
As palavras,
Ao passar dos anos,
Foram aos poucos se tornando realidade.
A tua realidade!
Convenceste-te da veracidade das palavras indignas
E assim passastes teus dias.
Fazias de tudo para agradar teu algoz
Como um cão morimbundo
No campo de batalha
Segurando as mãos daquele que te feria.
Sangrastes...
Derrubastes todos os teus sonhos
No meio da dor das noites mal dormidas.
Tiraram-te teu mundo,
Deixaram-te sem lar.
E mesmo depois de tanto tempo
As palavras ainda ecoam em teu ouvido
Que,
De tanto sofrer,
Pararam de ouvir
Escutando o vocabulário programado
Daquela que não vive,
Só existe...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Plenitude


Gosto de viver da forma que me faz livre.
Sem amarras 
E com o gosto de chuva nos meus lábios.
Gosto de experimentar o novo
E descobrir o que é vazio.
Gosto de explorar a felicidade em sua forma mais profunda
E viver com essa plenitude de bem estar.
Gosto do pouco
E crio expectativas.
Gosto do muito.
Sem meio termos
Ou mais ou menos.
Vivo na intensidade do segundo
E das horas que deixam marcas profundas em meu rosto
Trazendo à tona toda a sabedoria obtida com o passar dos anos. 
Tenho pressa,
Ao passo que busco calma.
Quero o mundo
Mas sei esperar...
Sei que,
Na minha vida,
Todos que se ausentaram 
Um dia hão de voltar.
E com essa certeza que move meus passos,
Aproveito cada manhã,
Cada pôr do Sol.
E vivo de uma forma louca,
Mas completamente real!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O que não posso


Perdoar.
Talvez seja a parte mais difícil do fim de ciclos.
Talvez você tenha que esquecer tudo o que aconteceu
E seguir em frente
Carregando toda uma decepção que jogaram em suas costas.
Perdoar pode ser um ato falho
Uma forma de dizer
"Tudo bem por tudo o que fizesses
Podemos seguir em frente".
Mas como perdoar
Quando não há explicações
Um pedido de desculpas
Ou um arrependimento?
Quando o perdão
Abre espaço para brigas
E a certeza que o outro errou.
Não sei,
Ainda,
Como oferecer o meu perdão.
Não sei
Ver você além do seu melhor
Aquilo que desses para mim
E que não consigo acreditar.
O seu melhor,
Talvez não seja o que esperava de você.
As justificativas para seus atos infantis
Talvez não seja a postura de um homem maduro
A qual julgava existir.
Talvez precisasse disso
Para descobrir o seu valor
Que de tão pouco
Tornou-se nulo.
Exigindo muito mais do que o meu perdão...

(Escrito por Natália Mattos)

Volta ao lar


Hoje fui dar meu adeus a uma pessoa que gostava muito.
Gostava por gostar, gostava sem motivos, sem porquês. 
Nunca fui tomar o cafezinho que sempre me convidava. 
Mas sempre bebi da sua alegria e de seu alto astral. 
Brincava comigo dizendo que só nos encontrávamos 
Na Igreja e no salão. 
Era um puxão de orelhas carinhoso. 
Hoje, pude mais uma vez, partilhar de sua serenidade. 
Hoje pude lamentar o café não bebido, as risadas não dadas. 
Mas, hoje pude também, dizer: 
Vá em paz, amiga. 
Pois nós nos encontraremos na saudade, 
Que é o lugar onde o amor se encontra com a ausência.

(Escrita por Carmen Mattos)
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