Lá, estava, imaculadamente pendurado, meu vestido cor de rosa e ao lado, exatamente igual, o vestido azul de minha irmãzinha.
Suspirei de alívio. Fui passo a passo para a cozinha, passei pelo quarto de minha mãe e a vi dormindo encolhida na enorme cama de casal. Mais uma vez, meu pai não viera para casa.
Já era o quarto dia. Mas hoje, ele viria, era meu aniversário.
Fechei cuidadosamente a porta da cozinha para não acordar ninguém e vi as travessas de doces para serem enrolados, que minha mãe deixara na noite anterior. Pus-me a separar as forminhas de papel, no mesmo ritmo que batia meu coração.
Foram dezenas até que minha mãe chegasse para preparar o café da manhã.
Assustamo-nos uma com a outra. Mas eu estava tão feliz que nem percebi a melancolia que pairava no ar.
Não sabia como ela tinha conseguido fazer aquilo tudo e ainda comprar refrigerantes para a minha festa, mas estava perfeito.
Almocei engolindo a comida. Tinha pressa de tudo. Olhava a volta inúmeras vezes e sorria satisfeita.
A Toalha de linho bordada estava na mesa, os brigadeiros, cajuzinhos, olhos de sogra e docinhos de coco, estavam meticulosamente distribuídos. Até a luz que entrava pela varanda conspirava comigo, dando um ar dourado a toda a cena.
Tomei banho, minha mãe fez uma longa trança em meus cabelos molhados e me vesti de rosa. Faltavam duas horas para os convidados chegarem e eu nem me sentava para não amarrotar o vestido.
A todo minuto olhava pela varanda e o tempo não passava. E então o tempo foi passando.
Fiquei perto da porta esperando ansiosa a campainha tocar. Mas ela não tocou.
Pensei ouvir passos, mas era ilusão.
Anoiteceu e eu permanecia parada ao lado da porta.
Minha mãe com toda a sua amargura me disse: não vai vir ninguém mais há esta hora. E eu concordei.
Mas não chorei, abri um sorriso e chamei minha irmã para comermos os doces.
Nesta noite não houve jantar, nem velinhas acessas e muito menos parabéns.
Éramos três a volta da mesa com sua toalha de linho, comendo silenciosamente a minha festa de 11 anos. Também em silencio fomos deitar.
Mais tarde, quando nem os pensamentos estavam acordados, permiti que lágrimas rolassem pelo meu rosto, até que a lua cedesse lugar ao sol.
A tristeza foi minha única companhia por todo esse tempo.
Perto do meio dia, meu pai chegou trazendo uma caixinha de presente e desculpas esfarrapadas.
Abriu um largo sorriso para me encantar e disse:
-Desculpa filha, não pude vir ontem.
E eu lhe respondi:
- Não faz mal, ninguém veio.
(Escrita por Carmen Mattos)
(Escrita por Carmen Mattos)
Linda! Apesar da tristeza da realidade das palavras, a emoção transcende essa página. De uma beleza singular.
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