sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Amigos








Andava altiva pela estrada de pedras pontiagudas.
Os pés descalços não sentiam mais dor.
Cicatrizes profundas os havia libertado.
Um leve sorriso de paz, lembrou-a de outras caminhadas.
Quando a morte seria uma bem vinda companhia.
Então, vindo dos céus ou vindo de Deus,
Mãos bondosas lavaram-na com as águas da Jacuba.
Flores dos jardins de Blumenau a enfeitaram.
E águas salgadas de Camboriú fecharam as feridas.
Ainda podia ouvir as cantigas com que embalaram seu sono.
Ombros amigos, fortes, que a ampararam quando caia.
Podia sentir o toque leve e macio com que a confortavam.
E os sussurros de doces palavras a alimentar sua alma.
Por vezes secaram suas lágrimas, por vezes choraram juntos.
Fizeram-na rir em meio a escuridão de sua alegria perdida.
Fizeram-na forte quando só queria perder-se de si mesma.
E assim, hoje, era um retalho costurado com fio de amor
Por todos aqueles que a retiraram dos escombros da vida.
E em sua pele estava tatuada a imagem daqueles rostos
A lhe mostrar que anjos existem e nós os chamamos de...
AMIGOS.




quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Renascer


Aos poucos ela ia desnudando-se das restrições impostas pelas verdades absolutas. Não precisava mais de regras de quando sorrir e quando calar.


Aos poucos ela ia reaprendendo a dançar e cantar, desafinadoramente, alto e rir-se disso. Não precisava mais de motivos para gargalhar e rodar.

Aos poucos ela ia revendo seus valores espiritais e não questionando sua sufocada fé. Não precisava mais sofrer e chorar para ir em busca do seu Deus.

Aos poucos ela ia revivendo seus momentos de andar de pé no chão e cabelos desalinhados. Não precisava mais de autorização
para sentir na pele a força da terra e do vento.

Aos poucos ela ia desfrutando do já esquecido prazer de ter prazer com aqueles a quem amava, a sua volta. Não precisava mais esconder a alegria da generosidade e doação.

Aos poucos ela ia olhando-se no espelho sem medo das marcas deixadas pelo tempo vivido. Não precisava mais temer as palavras rudes e grosseiras acerca das bobagens de seu coração criança.

Aos poucos ela ia declarando todo seu amor a vida e as venturas de uma noite estrelada. Não precisava mais de outros olhos para ver a beleza escondida por trás do sol e da lua.

Aos poucos ela ia sonhando seus sonhos: reais ou absurdos, mas tão somente sonhos seus. Não precisava mais encolher-se da sua verdadeira identidade.

Aos poucos ela ia limpando-se de todo o limo que sufocava sua alma, tirando-lhe a leveza. Não precisava mais de asas para voar pelo céu da imaginação.

Aos poucos ela ia reconhecendo-se naquela que um dia fora e que caminhava lentamente em sua direção. Não precisava mais pranteá-la como se morta para sempre estivesse.

Aos poucos, bem aos poucos, ela vestia-se e perfumava-se para reverenciar mais um dia vivido. Não precisava mais de razões para ser feliz.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Assim...

Escondida atrás de cortinas abertas,
Faço, desfaço, refaço e...  disfarço.
Nas noites inexoravelmente iguais,
O medo enclausura a vida a ser vivida.
O coração majestosamente inundado,
Para o amanhã que não me amanhece.
E no paradoxo do meu sonhar teimoso,
Vejo flores a cortar o chão endurecido.
Desvendo-me para o que um dia fora,
Na nudez das esperanças ressuscitadas.
O reflexo no espelho é daquela que sorri,
Um riso de brandura que caçoa de mim.
Com a paz das ilusões perdidas, me olho,
E meu olhar tem um cheiro de alecrim.
As lágrimas já cansadas, tardam em cair.
E os sulcos por elas feitos em meu rosto,
Hoje servem de caminho para o gracejar.
A musicalidade que há no existir finito,
Liberta os pés do frio aço que me detém.
Alada tal libélula que voa sobre as águas,
Danço a dança da liberdade recuperada.
Assim...
Escondida atrás de cortinas abertas
Faço, desfaço, refaço e... disfarço
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