Após tantos
sonhos ruins e pesadelos, acreditou numa vida onírica.
Voltando a
infância, via sapos se transformarem em príncipes.
E num final
feliz para sempre, depois do “era uma vez...”.
O que
pensara que era verdade, seu dogma, era somente um dogma.
E suas
palavras cruéis e sem sentido, lhe trouxeram a realidade.
Mordaz e
ferino, envolto e envolvido nas inverdades e maldades,
Levaste-a
para um mundo que já conhecia um déjà vu.
Alquebrada
pelo inesperado, pelo incompreendido,
Viu-se vagando
por campos desconhecidos... estéreis.
Sozinha,
maltrapilha de sentimentos, inerte as intrigas,
Introvertida
na sua dor, observava seus santos de barro.
Pouco a
pouco, irem ruindo numa pilha de pó amorfo.
Eram tantas
as perdas, tantos amores traiçoeiros.
Que o que
era uma pilha se transformou num monte e,
Este monte
numa montanha, até cobrirem toda sua visão.
Cega,
caminhava sem saber para onde ir, tateando esperanças.
Acordaria!
Fora só mais um desatino de um amor enlouquecedor.
Mas quando
acordou, o viu nos braços de outra e quis morrer.
Suas
lágrimas ainda corriam por sua face e ele já nem lembrava seu nome.
Era um
passado tão presente dentro de si, tão ardente na sua paixão,
Mas era só
um passado, sequer lembrado com palavras brandas.
Ria-se dela
com desdém, humilhava sua dor publicamente.
Tudo o que
fizera não fora o suficiente, queria destruí-la por completo.
E ela sem
conhecer o seu próprio pecado, olhava-o com compaixão.
Perguntava-se
o porquê, o que fizera para lhe causar tanto ódio?
Causava-lhe
pena vê-lo assim sem sentimentos, sem nunca ter amado.
Tal qual
Narciso, só via a própria imagem e por ela se apaixonou.
Toda sua
afeição era dirigida a si próprio, senão era descartada.
Pessoas e
amores eram facilmente substituíveis, quando lhe convinha.
Só conhecia
suas próprias dores, que sequer eram dores.
Tinha um
dicionário próprio aonde colocava e retirava palavras.
Considerava-se
um paradigma e como tal, tornara-se um tirano.
Ela, aos
longos dos anos, foi descobrindo tudo isso,
Mas,
paradoxalmente, ainda o amava intensamente.
E imagina-lo
em outros braços, outra cama, outro amor,
Torturava
lhe dia e noite, num contínuo sofrer desesperado.
Encolhida em
seu pesar, só pedia para despertar e vê-lo ao seu lado.
Aí, com
mansidão, tocaria seu corpo adormecido e o beijaria lentamente.
Sorriria
para si mesma lembrando-se de seu devaneio surreal.
E voltaria a
dormir aconchegada em seus braços.
Mas o seu
maior desespero era saber-se acordada.
Escrita por Carmen Mattos