domingo, 14 de dezembro de 2014

Morte em Vida



Ajoelhada sobre o chão pedregoso.
Sinto meus joelhos sangrarem.
Minhas unhas, cobertas de terra,
Cavam vorazmente mais uma vez.
As lágrimas que caem do meu rosto
Não cicatrizam as feridas e rachaduras
Das minhas mãos e da minha alma.
Sequer molham o chão,
Para tornar mais leve o meu penar.
Olho para os lados e vejo fileiras
De covas rasas e doloridas.
Quantas vezes já estive neste mesmo lugar?
Quantas vezes ainda hei de vir?
Reconheço cada pedacinho desse chão.
Cada um tem sua história de dor.
Foram ingratidões, traições, descaso,
Humilhações, palavras rudes, silêncios ensurdecedores,
Abraços não dados ou beijos negados.
Todos contam um pedacinho de mim.
Todos tem um pedacinho de mim.
Eu dei tanto, quis tanto, amei até o infinito.
Mas no fim do meu infinito
Encontro-me eu a cavar
Mais uma cova num cemitério virtual.
Em que podem entrar todos aqueles
Que um dia julgaram que me tinham nas mãos
Esquecendo-se que sou areia e não pedra
E posso escorrer por entre os dedos,
Antes que se deem conta onde estou.
Procuram-me sem saber
Que estou no seu funeral
Choro, lamento, sofro
Visto-me de preto
Entristeço-me no luto da perda
Resguardo meu coração
Tristonho na ladainha da morte
Aquieto-me por tempos
Em respeito ao que foram
Enterro, e não existem mais.
Essa é a última fase da vida
Quando eram, também, minha vida.
Levanto-me, trato minhas feridas.
E sigo em frente sem nunca mais
Pronunciar seus nomes ou lembrar-me
Que um dia os amei
Com tal intensidade
Que para sobreviver
Era necessário que morressem.
Fecho o portão.
Dou uma última olhada para dentro
E com toda a força que me resta,
Suspiro e vejo que estão no lugar que lhes pertence.
Onde jamais poderão alcançar-me novamente.
Estou livre.

Carmen Mattos

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