domingo, 30 de novembro de 2014

Para Carolina

Com o coração em frangalhos e apertado
Eu te disse: tchau 
Tu choravas e eu segurava meu pranto 
Para que não te sentisses mais sozinha ainda. 
Lembrei-me das inúmeras vezes, que quando criança 
Procuravas meu colo para te proteger 
E eu te abraçava apertado até teu medo passar. 
Hoje, não pude esperar o teu tempo de cura 
E te deixei ali parada, me vendo partir 
Já dentro do carro, dei vazão as minhas lágrimas 
Porque minha pequena estava sozinha 
Minha pequena com sua pequena 
Dividida, queria ficar mais um pouco 
Queria guiar seus passos 
Enquanto ela guiava novos passos 
Mas nossos caminhos seguiam 
Direções diferentes 
Muito embora, meu coração 
Estivesse junto ao seu 
Minha pequena agora era mãe 
Minha pequena agora era o colo que um dia eu fora 
E de colos em colos, 
De abraços em abraços 
De lágrimas em lágrimas 
Nosso destino se cruzava 
Eu te deixei sozinha 
Mas não te abandonei 
Caminhamos pela mesma estrada 
E fico dois passos para trás 
Para te erguer, se vieres a cair. 
Mas não cairás, pois és forte 
És guerreira, és mãe 
E por isso, dois passos atrás 
Não precisando te apoiar 
Resta-me olhar a frente 
Com orgulho da minha pequena 
Que leva em seu colo 
A sua pequena.

(Escrita por Carmen Mattos)

Depois da tempestade


Dividida entre razão e emoção,
Flagrei-me a um segundo de desmoronar. 
Enquanto guardava as lembranças no fundo do peito
E lembrava dos momentos bons desde que você partiu.
Assim, 
Sem querer, 
Fechei os olhos e pedi, 
Rezando baixinho, 
Que a dor que sentia desaparecesse.
O arco-íris depois da tempestade.
Foi assim que me senti
Depois que me livrei
Das lembranças que tinha de você.
Como doía sempre que sabia 
Que você me ignorava
Porque eu simplesmente não era ela.
Jamais saberás a confusão travada pelas suas atitudes.
Gritei o mais alto que podia.
E dessa vez você não estava aqui para me dizer que tudo ficaria bem.
Será que em algum momento você realmente esteve?
Deixe a água apagar qualquer marca
De que algum dia você estava aqui
De que algum dia você existiu
De que algum dia eu gritei 
E você não pôde me ouvir...

(Escrita por Natália Mattos)

sábado, 29 de novembro de 2014

Ame-se


O que é o amor? Durante muito tempo vagava achando que o Amor era uma criação de dependência. E com esse pensamento ruim sempre atraí os tipos errados que achava serem "os certos". Acreditei que pudesse ter o mundo através deles e, com esses pensamentos que me acorrentavam, via-me sendo sugada de emoções todos os dias, até que o jogo me entediava. E assim passei meus dias...
Aos poucos, no decorrer da vida, percebi que antes de amar o outro, é necessário se descobrir, amar-se com toda a plenitude do universo e ser feliz assim.
Descobri, com passos tortos, que é possível ganhar o mundo, sem que alguém jogue teu mundo aos teus pés, com mentiras.
E agora?
Estou apaixonada por mim mesma.
Com todo o coração e alma.
Pelo aquele ser que paira em frente ao espelho e por tudo aquilo que o Universo tem me dado de volta desde que aprendi o segredo do Amor. 
Ame-se, cuide-se, seja um reflexo de tudo aquilo que sempre quisestes ser. 
E, acima de tudo, seja grato.
Seja grato por tudo aquilo que te fez mais forte, mesmo que não o recebas de volta. 
Afinal, é a Lei do Universo: tudo que você faz volta com a mesma intensidade para você.
Então mesmo que haja mil corações partidos, rir ainda é o melhor remédio.
E seja grato...

(Escrita por Natália Mattos)

Outra vez




Hoje não tenho com quem falar e vou te usar como meu silencioso e compreensivo ouvinte. Aliás, acho que nunca tive com quem falar. Todas minhas angústias, medos, tristezas e aflições sempre foram compartilhadas com a morna água do chuveiro. Sem uma palavra, ela me abraçava misturando se as minhas lágrimas num processo que não sei se aumentava meu pranto ou se o diluía enquanto desciam pelo meu corpo nu em direção ralo. Hoje, mais uma vez vi a materialização da minha dor se encontrar, silenciosamente com sua velha companheira e vagarosamente ser expulsa pelos minúsculos buracos plásticos do chão no Box. Não foi diferente do que ocorria anos atrás quando tinha mil decisões a tomar sobre o futuro das meninas. Como Salomão, eu era a ordem, o deus, o poder. E para exercer tamanha força somente com a sabedoria que só a dor e o medo ensinam. Hoje a dor doeu muito. Foi diferente no seu sentir, mas não no seu doer. Já na rua sentia as chagas me destruindo alma, corpo, dignidade, orgulho, pudor, luz e sombra. Procurava um lugar para me esconder, mas tudo estava aberto. As pessoas olhavam discretamente, minhas mãos que subiam aos olhos e secavam a dor que teimava em se fazer sentir.

(Escrita por Carmen Mattos)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Insônia

São 02:12h e hoje está fazendo 32 dias que não escuto tua voz. Hás de dizer que não fiz tudo que pude e, eu te responderei que dei o melhor de mim. Hás de dizer que foi pouco e, eu te responderei que era tudo que tinha. Minha bagagem era de desamor, era de vergonhas, de humilhações e, assim tive que buscar, em exemplos que não tinha, uma forma de aprender. Não queria que meu passado fosse teu presente. Não queria que sofresses além do necessário exigido pela vida. Não queria que por falta de exemplos, seguisses os exemplos que te cercavam. Assim sendo fui, muitas vezes, dura, muitas vezes exigente, muitas vezes impaciente e, muitas vezes somente estava cansada. O que entendias por descaso e por rigidez, era somente medo. Medo de errar; medo de não seres a pessoa que hoje, és; medo de falhar. Anos se passaram, entre meus acertos e erros, te tornastes uma vencedora e como me orgulho disso! Hoje, na insônia de minhas noites, sinto falta dos dias em que te carregava no colo e escovava teus dentinhos enquanto ainda dormias no frio inverno do sul. Sinto falta de colocar teu uniforme, erguendo com esforço, cada membro teu ainda adormecido. Sinto falta de, depois de um dia inteiro de exaustivo trabalho, te cobrar a tabuada que dizias que nunca irias aprender. Aprendestes. Sinto falta de brigar por causa das amizades que fazias. Sinto falta dos tempos em que ficavas de castigo por causa das notas escolares. Sinto falta de quando me olhavas com ódio porque te achavas preterida. Eu sabia, ou pensava que sabia que, um dia entenderias que só te queria no caminho certo, te queria vencedora, te queria fazendo a diferença. E, hoje, és tudo isso, só que não faço parte das tuas conquistas, mesmo assim tenho muito orgulho de ti. A morte canoniza. Na morte as coisas ruins são esquecidas e lembra-se somente do que era bom, do que era engraçado, do que era bizarro. Todas as fraquezas, todas as maledicências, todas as feridas abertas são, escondidas num lugar escuro da nossa memória e assim tornamo-nos quase santos. Então, sei que um dia, terei teu amor, teu carinho e teu reconhecimento. Sei que um dia me defenderás das pessoas que me criticam. Sei que um dia um dia dirás: mãe eu venci, obrigada!

(Escrita por Carmen Mattos)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

FAXINA D’ALMA

Gosto de escrever para limpar minha alma. De outra forma não consigo vencer meus fantasmas, matar meus medos ou enxugar meu pranto. É ditando os meus sentimentos para o papel que consigo nocautear minhas mágoas. E já foram tantas! Tantas coisas abriram chagas profundas, crônicas, incuráveis, fétidas e dolorosas por muito tempo ou por todo o tempo. Assim vou passando para o papel o que sai das feridas nunca cicatrizadas, sempre latentes que, vez por outra, teimam em re-sangrar. Sei que isso não mudará meu mundo, minha vida, mas sei que isso me dará alívio no instante em que permito que toda a dor de minha alma purgue para meus escritos. Escritos vagos, escritos pagãos, escritos analgésicos. Não tenho a pretensão de ser lida ou mesmo entendida. Não, meu objetivo é falar o que está preso dentro de mim. Falar o desconhecido de todos. Falar para eu mesma ouvir. A lógica e o entendimento, não constam no dicionário de vida do qual me utilizo. Na verdade, nada consta em lugar algum exceto em algum lugar dentro de mim, que eu mesma custo a localizar. Por vezes se encontra no coração, noutras na alma, também pode ser encontrada nas palavras não ditas, no abraço não dado ou no telefonema nunca recebido. É engraçado esse meu doer. Ele dói e é só isso. Não escolhe lugar, hora ou momento certo para se apossar de mim. Ele vem dominador e faz-se presente sem que eu menos espere. É um doer doído em que a dor, como é conhecida, não está presente. E é com esse caos chamado sofrer que tenho convivido por tanto tempo e, que me derrota e eu a derroto, vezes sem fim. Como num jogo de xadrez, vence quem olha o horizonte. Inúmeras são às vezes em que sou feliz porque estás feliz, mas a tua felicidade me deixa infeliz. Como é difícil dirigir a vida quando a estrada é tortuosa e, por melhor que faças, sempre há de surgir uma curva súbita ou uma sinalização errada. Como é difícil, curar dores que desconheces a causa. Como é difícil te fazeres entender quando caminhas por uma Torre de Babel. Como é difícil implorares o que é teu por direito.

(Escrita por Carmen Mattos)

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Eu só tenho pena de ti


Eu tinha 11 anos quando nascestes. Asilada por causa de um amor traiçoeiro, Não tinha casa nem lar. Tu tinhas casa, mas não tinhas lar. Teu enxoval era de roupas encardidas pelo uso As únicas coisas novas que tinhas, eram os casaquinhos de lã feitos pela tua avó, nas longas noites de frio e sofrimento. Teu berço ficava entre a parede e o peito da tua avó, que mal se mexia por medo de machucá-lo. Não fostes amamentado, e era eu quem fazia tuas mamadeiras e depois tuas papinhas Tu me ensinaste a trocar fraldas, a testar a temperatura do leite na mão, a embalar para ninar. Contigo dei meus primeiros passos na minha história de mãe. Quando estavas com oito meses, fomos embora, em busca da felicidade que nunca veio. Depois teus pais nos seguiram, mas, tu ficaste com a outra avó, tão carinhosa, como a primeira. Quatro anos se passaram, até que novamente te tive nos braços. Eras tão carinhoso! Adorava, quando chegava da escola e vinhas correndo ao meu alcance e enlaçavas minhas pernas. Adoravas ficar no meu quarto enquanto eu estudava. Ficavas quietinho na minha cama, me olhando com adoração. E eu te olhava com adoração! Eras o meu pequeno príncipe. Assim, passaram-se seis anos. Brincávamos, ríamos, jogávamos, rolávamos no chão e eu te abraçava apertado e tu te aconchegavas no meu abraço. Depois disso, partistes e só te via eventualmente, mas, o meu amor era o mesmo. Aos 17 anos, sem nunca ter tido um lar na tua casa, perdestes a casa também. Já não te queriam. Eu te abriguei. Dei-te tudo que te fora negado. Dei-te carinho, dei-te amor, dei-te uma família. Durante um ano, voltastes a ser o menininho que me esperava no portão todos os dias e enlaçava minhas pernas num abraço amoroso. Voltastes a sorrir, brincavas como o menino de outrora, eras feliz. Nos teus 18 anos, ganhastes a carteira de motorista. Como ficaste feliz. Sentias-te um homem! Mas, novamente, tivestes que partir. E depois desta derradeira partida, não sei em que momento te perdi. Esquecestes todo um mundo de afeto e te apegastes a ídolos pagãos. Pessoas que nunca te quiseram nunca te acarinharam nunca te deram um lar. Tua avó que já não podia fazer casaquinhos de tricô para te agasalhar do frio que a vida te oferecia, morreu tendo tua foto a sua frente. Nunca entendendo o porquê de já não estares ali, deitadinho entre a parede e seu corpo, com o único calor que conhecestes nos teus primeiros meses. Eu, mais feliz que ela, pude chorar a tua morte no meu coração mesmo sem entendê-la. Todas as palavras que te disse com carinho, todo o amor que te doei ao longo dos anos, tu me devolvestes em forma de injúrias, calúnias e desapego. Com o beijo de Judas, traístes quem mais te amou. Por isso, eu não tenho pena dos Josés, dos Joaquins nem das Marias. Eu só tenho pena de ti!

(Escrita por Carmen Mattos)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Liberdade


Quisera eu
Sentir muito pelas tuas palavras vazias
Em um momento sóbrio de honestidade.
Quisera eu
Lamentar por tudo aquilo que deixou de existir,
Subitamente.
Quisera eu
Não tecer breves palavras para descrever o que sinto agora.
Porque o que sinto,
Jamais compreenderás.
Jamais entenderás o peso
Que abandonou o meu peito
Em um momento raro de honestidade.
Quisera eu
Que você pudesse achar que minhas palavras,
Agora,
Não são de brincadeira
E não se desmancham como o papel sob a chuva.
Quisera eu
Que o tão pouco
Fosse muito.
E assim,
De tanto querer,
De tanto pensar,
De tanto indagar,
Percebo que nada quisera eu
Além de tuas palavras vazias em um momento brusco de honestidade!

(Escrita por Versos Ditos)

Saber



Sabes, quantas vezes ela perguntava por ti, todos os dias? Dezenas.
Sabes, quantas vezes ela perguntava por ti, no mês?
Centenas.
Sabes, quantas vezes ela perguntava por ti, por ano?
Milhares.
Sabes por quantos anos isso se repetiu?
Não, não sabes.
Sabes, quantas vezes ouvi as mesmas histórias: da tua infância, da tua adolescência, do teu casamento, dos teus filhos, da tua infelicidade que tanto a fez chorar, da tua maturidade imatura}? Não, não sabes.
Sabes, quantas vezes ela me chamou de madrugada, perguntando se havias chegado porque, já estavas escuro e teu pai iria brigar? Não, não sabes.
Sabes, quanto seus olhos brilhavam quando me falava que fazia vestidos iguais para as duas, quando eras criança?
Não, não sabes.
Sabes, como ela se orgulhava de ti?
Não, não sabes.
Sabes, a única coisa que ela esperava de ti?
Não, não sabes.
Sabes, como era reconfortante mentir-lhe dizendo que estivestes aqui semana passada e, ela meio envergonhada, respondia: “Minha cabeça já não está valendo nada”?
Não, não sabes.
Sabes, que inúmeras vezes o telefone tocava e, quando eu desligava, dizia que eras tu querendo saber dela. Sabes como ela ficava feliz?
Não, não sabes.
Sabes, o que era mais doloroso?
Não, não sabes.
O mais doloroso, era os pequenos instantes de lucidez, quando ela se dava conta que de nada sabias e me olhava com um olhar perdido como se perguntasse: por quê?
Duas lágrimas silenciosas escorriam de seus olhos e, ela voltava para seu mundo de faz de conta.
Sabes, o quanto era bom quando ela, também, não sabia o que não sabes?
Mas tudo isso que não sabes, nunca irás saber, porque, o tempo passou para ti e para ela.
Sabes o que resta agora?
Não, eu também, não sei.

(Escrita por Carmen Mattos)

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Desalento


Ela veio por entre a neblina
Via vultos disformes
Com seu olhar embaçado
Tropeçava em pedras desnudas
Que faziam de seu corpo
Um emaranhado de cicatrizes
Por vezes rastejava sem forças
Perdidas após tantas batalhas
Quando avistava uma mão estendida
Erguia a sua para então sentir
O gélido orvalho de uma noite de inverno
Assustada, dava um passo atrás.
E sucumbia no abismo de si mesma
Não lembrava ter vivido de outra forma
Não conhecia o calor de um amor verdadeiro
Já não acreditava haver outro caminho
Assim seguia em frente
Caminhando, caindo, rastejando
Em direção à escuridão
Que, enfim, traria cura.
Para seus desalentos.

(Escrita por Carmen Mattos)

domingo, 23 de novembro de 2014

Porta Fechada


Ficar só não é triste.
Triste é esperar o que nunca chega.
Ouvir passos que vão a outra direção.
É a porta do elevador que se abre, mas a campainha não toca.
É ver a manhã se transformar em tarde, e esta em noite.
E ali,
Sentada,
Olhando a porta que nunca será aberta.
O balanço da cadeira embala minhas dores.
Mágoas, tristezas, solidão e vazio são minha companhia.
Pensar no que poderia ter feito e não fiz.
Neste tempo que, parada, olhei para o que não veio.
E o que não veio é fruto do que não fiz.
Ou será que fiz,
De forma tão singela,
Que não foi notado?
E o que fazer com o tempo que ainda me resta?
E o que fazer com o olhar que não sai do lugar?
E o que fazer para que a campainha toque e a porta se abra?
Preparo bolos,
Preparo biscoitos,
Preparo amor.
Mas a porta não se abre e,
Embolorados,
Jogo-os no lixo.
Tanto amor e tanta dor misturadas
Aos restos de esperanças que guardava em mim.
No fundo de um saco de plástico preto
Que alguém vai,
De forma descuidada,
Jogar ao relento de um lugar abandonado.
Assim passam-se os dias de uma vida sem vida.
Assim,
Talvez,
Pague os pecados que nunca cometi.
Assim espero pelo dia,
Em que seja eu a passar pela porta,
Que nunca se abriu para ninguém a não ser eu mesma...

(Escrita por Carmen Mattos)

sábado, 22 de novembro de 2014

Guerreira não chora




Era um desenho de linhas fortes

De traços delicados e coloridos

Apagastes tudo e hoje

Só se vê a marca no papel branco

Os borrões deixados não permitem

Que se veja, quem um dia fora.

Não há mais aquela imagem

Delicada e guerreira da mulher

Que só queria ser feliz

E quando olhas o papel,

Por vezes de causa riso

Por vezes tens vontade de amassa-lo

Mas o deixas ali numa mostra

Vil de tua valentia

Agrada-te saber do teu poder

Agradar-te pensar que podes

Fazer dele o que quiseres.

E na tua prepotência de homem forte

Não percebes que ela vai se redesenhando

Pouco a pouco, com traços firmes.

Não há colorido nesta nova imagem

Mas os tons de cinza vão se espalhando

Formando a sombra do que um dia

Voltará a ser o que fora outrora.

Ficarás espantado, olharás para os lados.

Procurarás onde errastes

Sem perceber, que fora do papel.

Eu enxergava a bolha em que estavas

 E enxergava o teu avesso

Entendia teus pensamentos

Ouvia teus sentimentos

Pois mesmo apagada

Eu era muito mais

Do que acreditavas

E te esquecestes, na tua ousadia.

Que uma guerreira não chora.

(Escrita por Carmen Mattos)


Luanna





Minha pequena.
Crescestes tão rápido.
Já tens Facebook!
Já tens uma vida inteira pela frente.
Caminhas forte com teus próprios pés.
Mas manténs o olhar da doçura.
O encanto de ser surpreendida.
O gostinho bom da meiguice.
E o jeito sem jeito de amar.
És de porcelana mas também de ferro.
Choras por dentro do sorriso farto.
Ergues as sobrancelhas a nos desafiar
Num gesto sutil de ironia.
E no conjunto todo que te fazes
Só posso te dizer:
Te amo muito!

(Escrita por Carmen Mattos)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Onze Anos



Acordei quando o sol ainda se espreguiçava. Levantei-me num pulo e abri o armário. 
Lá, estava, imaculadamente pendurado, meu vestido cor de rosa e ao lado, exatamente igual, o vestido azul de minha irmãzinha. 
Suspirei de alívio. Fui passo a passo para a cozinha, passei pelo quarto de minha mãe e a vi dormindo encolhida na enorme cama de casal. Mais uma vez, meu pai não viera para casa. 
Já era o quarto dia. Mas hoje, ele viria, era meu aniversário. 
Fechei cuidadosamente a porta da cozinha para não acordar ninguém e vi as travessas de doces para serem enrolados, que minha mãe deixara na noite anterior. Pus-me a separar as forminhas de papel, no mesmo ritmo que batia meu coração. 
Foram dezenas até que minha mãe chegasse para preparar o café da manhã. 
Assustamo-nos uma com a outra. Mas eu estava tão feliz que nem percebi a melancolia que pairava no ar. 
Não sabia como ela tinha conseguido fazer aquilo tudo e ainda comprar refrigerantes para a minha festa, mas estava perfeito. 
Almocei engolindo a comida. Tinha pressa de tudo. Olhava a volta inúmeras vezes e sorria satisfeita. 
A Toalha de linho bordada estava na mesa, os brigadeiros, cajuzinhos, olhos de sogra e docinhos de coco, estavam meticulosamente distribuídos. Até a luz que entrava pela varanda conspirava comigo, dando um ar dourado a toda a cena. 
Tomei banho, minha mãe fez uma longa trança em meus cabelos molhados e me vesti de rosa. Faltavam duas horas para os convidados chegarem e eu nem me sentava para não amarrotar o vestido. 
A todo minuto olhava pela varanda e o tempo não passava. E então o tempo foi passando. 
Fiquei perto da porta esperando ansiosa a campainha tocar. Mas ela não tocou. 
Pensei ouvir passos, mas era ilusão. 
Anoiteceu e eu permanecia parada ao lado da porta. 
Minha mãe com toda a sua amargura me disse: não vai vir ninguém mais há esta hora. E eu concordei. 
Mas não chorei, abri um sorriso e chamei minha irmã para comermos os doces. 
Nesta noite não houve jantar, nem velinhas acessas e muito menos parabéns. 
Éramos três a volta da mesa com sua toalha de linho, comendo silenciosamente a minha festa de 11 anos. Também em silencio fomos deitar. 
Mais tarde, quando nem os pensamentos estavam acordados, permiti que lágrimas rolassem pelo meu rosto, até que a lua cedesse lugar ao sol. 
A tristeza foi minha única companhia por todo esse tempo. 
Perto do meio dia, meu pai chegou trazendo uma caixinha de presente e desculpas esfarrapadas. 
Abriu um largo sorriso para me encantar e disse: 
-Desculpa filha, não pude vir ontem. 
E eu lhe respondi:
- Não faz mal, ninguém veio.

(Escrita por Carmen Mattos)

Novo Colaborador - Carmen Mattos


É com grande prazer que comunico que o Blog ganhou um novo colaborador.
Uma pessoa pura e que tem o Dom da escrita.
Tenho certeza que trará grandes colaborações com suas lindas poesias, textos e contos.

Seja muito bem vinda ao Versos Ditos, Carmen Mattos!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Hoje


Enquanto brincávamos como velhos conhecidos
Pendurados em uma moldura antiga
E víamos o quão bom poderia estar um ao lado do outro.
Hoje eu conheci um lado teu que jamais tinha visto
Quando estava cega diante de tantas emoções
E pudemos compartilhar a simples experiência de estarmos juntos.
Hoje eu ri de mim,
Ri de ti,
Impliquei com a tua velha mania de achar que tudo ficará bem.
E,
Quase sem querer,
Eu me apaixonei.
E neste compasso de ventos leves
Brisas soltas que espalham aquilo que temos em comum pelo ar
Invento mais esta melodia.
Brindo ao Destino,
Brindo à vida
E agradeço por te ter ao meu lado.
Percebo,
Lentamente,
Que hoje eu me apaixonei por você...

(Escrita por Versos Ditos)

domingo, 16 de novembro de 2014

Porta aberta


Cada qual tinha o próprio caminho a seguir.
Um mundo de possibilidades e novas experiências estava se abrindo rente a seus olhos.
Ela sabia coisas que ele jamais imaginava, percebia aquilo que o rodeava e preferia se afastar a ter que viver com tantos porquês.
Ele não entendia as palavras que ela dizia e acreditava que tudo não passava de uma loucura passageira.
Ela tinha razão!
E na medida das horas, em que a opção de ficar ou partir apertava o seu peito, ela finalmente teria que decidir entre ficar e partir.
Fizeram juras...
Fizeram um trato que ela seguiu à risca.
De nunca mais falar da vida que poderia ser deles.
Ela tinha um gosto amargo de desilusão que enfeitava sua alma vazia e, mesmo sabendo que aquilo era para ser, já não sabia qual era o seu lugar.
Via as coisas que ele fazia, de forma incrédula, pensando em como isso poderia ter acontecido com ela.
Como isso poderia ter acontecido com eles.
O fantasma do presente a assombrava enquanto ele fazia juras, dizendo que tudo não passava de ilusão.
E, cansada de desconfiar, ela passou a questioná-lo e a receber, em troca, palavras vazias, palavras sem nexo.
E assim, com o orgulho ferido e as malas nas mãos, ela abriu a primeira porta e saiu.
Abriu a primeira porta que a levaria para longe dali...

(Escrita por Versos Ditos)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Gratidão


Confesso que no começo fiquei chateada. Lembrei da forma, meio torta, em que resolvi te agradecer por aquilo que fizestes em tão pouco tempo. Falei sobre Gratidão. E assim, com a mesma velocidade em que me vistes, sendo grata a ti, por tão pouco, virastes as costas sem qualquer explicação. Talvez as respostas estivessem escondidas, nas entrelinhas de tuas palavras ferozes ou talvez não existam perguntas cabíveis. 
Faço-me de cega agora, ao passo em que deixei de me chatear ou aborrecer. 
Lembro, assim, vagarosamente, de todas as noites em que meus pensamentos bailavam em um sonho bom, onde, baixinho, pedia que a vida levasse embora quem não merecesse ficar. 
E nessas lembranças fulgazes, percebo que a vida me deu aquilo que eu tanto pedi.
Quanto à gratidão? 
Essa carrego dentro de mim com a mesma intensidade de antes.
Afinal, eu aprendi a sorrir e tuas atitudes jamais serão capazes de me ferir. 
Obrigada pelo muito que me ensinastes. 
E, sobretudo, obrigada por não teres ficado o tempo necessário para ruir o que de tão puro, deixou de existir. 

(Escrita por Versos Ditos)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Malas prontas


Aquilo que tinha tudo para dar certo,
Desmorou junto com a dor que guardava dentro do peito.
Sabia que as coisas tinham que ser diferentes dali para frente.
E assim,
Quase sem querer,
Vestiu seu melhor vestido
E com as malas prontas junto à porta,
Partiu para nunca mais voltar...

(Escrita por Versos Ditos)

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Jornada


Guardo no rosto
As lembranças de toda uma vida.
Enquanto envelheço carrego em mim um aconchego
Um gosto de lar.
Tenho medo do escuro e da solidão
Mas aprendi a lidar com aquilo que me traz medo.
Receios,
Já tive muitos
Hoje só carrego das pessoas
De todas as vezes que me fizeram chorar.
Sou forte como aço
E não quebro na primeira tempestade.
Para me convencer a ficar
Precisa me convencer a não partir.
Sinônimos que,
Na prática,
Destoam entre si.
Sempre quero mais
Busco mais
Evoluir.
Não gosto daquilo mais ou menos
Meia dúzia,
Tanto faz.
É oito ou oitenta,
Sem a imensidão de possibilidades escondida entre um e outro.
A vida me fez dura
No momento que me ensinou a levantar
E a nunca mais cair.
Vivo no topo
No alto das nuvens
Com pensamentos só meus.
Compartilho a experiência da bondade
Compartilho o amargo da saudade.
Fui de poucos
E ninguém me carrega nas mãos
Há muitas brechas invisíveis entre os dedos cerrados.
Queria ter o mundo,
Mas rapidamente convenço-me que o peso seria demais.
Sou um pouco de tudo,
Mas nunca de nada.
O nada se esvai no meio da tempestade...
Sonho com dias melhores
Mas percebo que não existem dias melhores.
Um passo de cada vez
Completando mais essa jornada...

Jogos


Faço aquilo que me ensinastes a fazer. Enquanto finges que se importas, entre conversas sem nexo, fúteis para não quebrar um elo que nunca existiu. 
Eu finjo não entender a tua ausência, enquanto finges que tudo está como deveria estar. 
Fizemos este um jogo, onde teus movimentos tão previsíveis, são tão invisíveis para ti. 
Pensas que não percebo teus próximos passos, acreditando que o teu fingimento, manteria-me junto a ti.
Eu finjo que me importo, mais uma vez...
Evito uma briga qualquer e esboço um velho sorriso torto, cujo significado reside dentro de mim.
Percebi que já não serves para mim e, sem nem ao menos notares, afasto-me lentamente de ti. 
Há um mundo todo pela frente...
E neste jogo doentio, o único ganhador sou eu.
Que finjo para não brigar, enquanto tu finges para me manter junto a ti!

(Escrita por Versos Ditos)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Meu lugar


Troco de roupa e visto o meu melhor sorriso. A chuva que cai lá fora, no pára-brisas do carro enquanto dirijo, pensando em tudo o que vivi até então, um flashback de emoções, já não serve para lavar a alma ou esconder as lágrimas que insistiam em queimar a pele. Com a velha roupa desbotada do tempo, brilho com o batom vermelho que me ensinastes a usar. Paro e já não me importo com os problemas pequenos que, por vezes, faziam-me desmoronar. Caminho com as incertezas e com a certeza de que se cheguei até aqui, é porque é aqui que eu queria ficar. 

(Escrita por Versos Ditos)

domingo, 2 de novembro de 2014

Caminhos opostos

Ele desabou. Desmoronou dentro de seu mundo que já não cabia em seu peito, quando tudo o que queria, era alguém que lhe entendesse sem julgá-lo. Gritou palavras de socorro ao telefone enquanto ela, imóvel, já não sabia como fugir dali. Eram as últimas palavras, talvez o "adeus" até então esquecido dentre os sonhos que compartilhavam. 
O medo de sofrer, de cair em mais uma armadilha a mantinha afastada das palavras ruins que ele depositava nela. 
Já não tinha mais volta...
Absorto em tudo aquilo que lhe prendia àquele lugar, ele simplesmente não se importava. Não queria se ferir.
A vida dura que levava, era só sua e ninguém jamais poderia julgá-lo...ou entendê-lo.
Em sentimentos tão confusos, com medo de mais uma decepção, eles se despediram. 
Ele com o mundo que tinha até então e ela com os sonhos que carregava dentro de si. 
Caminharam rumo a sentidos opostos, esperando escapar, mais uma vez, daquilo que lhes pudesse ferir...

(Escrita por Versos Ditos)

sábado, 1 de novembro de 2014

Explosão

Eu sou o tipo errado de garota certa.
Eu sou de poucos,
Mas de muitos.
Olhares que se perdem na multidão
Em meio ao cinza que amanhece a cidade.
Sinto um perfume no ar
Que enche os pulmões de vida
Enquanto caminho lentamente
Entre as sombras que cortam a avenida,
Esta mesma que costumávamos passar todas as manhãs.
Eu sou uma cópia errada de mim mesma
Um rabisco ao fim da página
Uma marca ao fim da vida.
Eu posso ser alegria e paixão,
Mas certamente eu posso ser explosão!

(Escrita por Versos Ditos)
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...