segunda-feira, 30 de novembro de 2015

PASSADO

Eu chorei muito tempo... eu te confesso.
Aos teus braços nunca mais regressarei.
Brincastes de homem forte com as cadelas,
Deixando-me abandonada, fostes com elas.
Ingênuo e tolo estavas sendo violentado,
Com palavras que te fizeram um coitado.
Eras tão bom, tão protetor e tão seguro.
Hoje de ti, sinceramente, nada me orgulho.
Tua alma é pobre, é fétida e mesquinha.
Destas que se vê toda hora a cada esquina.
Mendigas como andarilho por um carinho,
Pois todas elas estão felizes e...  tu sozinho.
Eu te perdoo toda a tua falta de compaixão,
Perdoo até mesmo a tua nefasta ingratidão.
Mas tua face, teu cheiro, tua voz e teu corpo,
Estes, eu junto tudo e eles se vão num sopro.
Sempre fui boa e leal... nunca tive maldade.
E agora da nossa vida...  nem mesmo saudade.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

MARIPOSAS DA NOITE

Depois de tantos anos com alguém sempre ao seu lado,
Invejando seus amigos, os mariposas das noites insones.
Viu-se pela primeira vez sozinho e com total liberdade.
Tal qual um menino liberto dos zelos infindos da mãe.
No início ficou meio assustado e não sabia o que fazer.
Depois, os novos companheiros lhe ensinaram as rondas.
Bufão deslumbrado viu-se um rei, de um reino fugaz.
Assediado de forma contumaz, era a vida que sonhara.
E assim, de mão em mão, via passando as suas noites.
Sentia-se feliz e lamentava os tempos antes passados.
Como não descobrira antes toda essa vida de luxúria?
Era o paraíso na terra, lugar de onde nunca mais sairia.
Fazia exercícios, cuidava de sua aparência como nunca.
Galanteador e cheio de mesuras... mais um conquistador.
E assim viveu anos, crendo que tudo isso nunca findaria.
Seus cabelos grisalhos eram um chamariz por aonde ia.
Sua risada era ampla, mostrando os seus dentes alvos.
Então suas velhas mãos começaram a teimar em tremer.
Já não conseguia exercitar-se como antes e tudo lhe doía.
Não tinha mais forças para enfrentar as noitadas de antes.
Sentava-se no sofá, solitário, a assistir um filme qualquer.
O sono não vinha e as lembranças assolavam seu pensar.
Pela manhã, encontrava com amigos num boteco qualquer.
Almoçava os petiscos do bar para não sentar-se só a mesa.
Temia por sua saúde e o medo de não ter com quem ficar,
Fora o tornando hipocondríaco e a sua morte o martirizava.
Estava sozinho, em uma casa vazia de amores e de cuidados.
Tantas mulheres passaram por sua vida, mas ele não as via.
Era mariposa da noite a voar para a luz, acreditando ser o sol.
Agora as lâmpadas lhe queimavam as asas de forma desleal.
O seu paraíso, fez-se inferno e de rei passou a ser o vassalo.
Lamentou o tempo passado, as mãos estendidas que recusou.
Queria corpos e não as almas que agora estariam ao seu lado.
Não tinha que lhe fizesse afago, nem ouvisse as suas histórias.
Tudo tinha que pagar: carinhos, companhias, sorrisos e ilusões.
Finalmente, foi perceber que era um velho já há muito perdido,
Que precisara aproveitar a vida de forma lasciva e despreocupada.
Esquecendo-se que um dia viria a precisar de olhos compassivos,
De um bom dia e boa noite carinhosos, de um falar manso e suave.
Então, tarde demais, deu-se conta que seu castelo era só de areia.
As oportunidades perdidas foram para sempre abandonadas ao léu.
E sua vida purgava num inferno que um dia chamara de paraíso.





terça-feira, 24 de novembro de 2015

ACUIDADE

Sinceridade?
Estou cansada...
Verdade?
Não dá em nada...
Saudade?
É vida passada...
Bondade?
Para ser pisada...
Liberdade?
Só se for usada...
Vontade?
Roupa molhada...
Amizade?
Paixão abafada...
Voracidade?
Ilusão destroçada...
Fatalidade?
Traição disfarçada...
Lealdade?
... pode ser facada...




HISTÓRIA EM DOIS ATOS


Não sei se estas a zombar,

Ou simplesmente a brincar.

Não sei se sou alguém,

Ou simplesmente ninguém.

Brincadeira de gato e rato,

É o fim do primeiro ato.

Homem inseguro ou...

Menino maduro?

Não tenho medo do escuro!

Urgente... pungente...

De amores, soldado

Tenha muito cuidado.

Quando a cortina fechar...

O Show vai se acabar.

domingo, 22 de novembro de 2015

NUMA NOITE


Mais uma noite dolorosamente silenciosa.

E nessa mansidão perco-me no nada.
Escuto sons nunca dantes ouvidos
É mais uma ilusão, de toda misteriosa.
Assim sozinha, minha triste alma vaga.
A ouvir lamentos, dores e gemidos.

Por que teimo em deixar-me chorar?
Se a brisa que me envolve me acalenta.
E sem ter resposta, envolvo-me em mim.
Por onde anda meu corpo a se acabar?
Em que esquinas da vida se lamenta,
Já tão pobre desse amor que não tem fim.

Nada peço desta vida que me fez ninguém.
Só te peço para que minha lucidez já banida,
Me estenda a mão e me ajude a levantar.
Não sonho mais, nem desejo ser seu bem.
Sei que serei para sempre a tua bandida.
E de tanto saber já aprendi não me importar.

Queria tão somente não me ver na solidão,
Que me arrasta nesse caminho de saudade.
Sem ter flores, risos e perfumes de compaixão,
A tua lembrança com outro querer me invade.

Mais uma noite que escuta o meu chorar.
Na dor da espada no meu peito ferido.
E esse meu morrer já não tem onde morar.
Dele só se sabem e se conhecem o gemido.

Já não tenho mais nem mesmo a esperança.
Que um novo e ensolarado dia sempre traz.
Guardo comigo somente triste lembrança.
De um tempo longicuo onde morava a paz.


QUEM É VOCÊ?


Quem é você que some na noite,
Agita meu sono e invade meus sonhos?
Quem é você que me mostra seu perfume,
Mas me esconde seu cheiro?
Quem é você que com versos me encanta,
E na penumbra se esconde?
Quem é você que me embala em seus braços,
Ainda abstratos para mim?
Quem é você que me chama pelo nome,
Sem que eu escute sua voz?
Quem é você que procuro e me perco,
Em suas palavras e suas rimas?
Quem é você, vulto misterioso
 A assombrar meu sossego sem se mostrar?
Quem é você que usa de artimanhas,
Arte e manhas a me conquistar?
Quem é você, fantasma do destino
Que habita em mim e me pertence?
Quem é você que foge e se esconde,
Aparece e preenche... por fim?
Quem é você que luta e reluta,
Indeciso no caminho a seguir?
Quem é você que é sem nunca ter sido,
Que mora e tem domicílio em mim,
Em si ...em nós?


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

POR QUE?

A noite cai pesada sobre meus ombros, lacerando a pele.
Meus olhos sobem para o céu, mas não há lua ou estrelas.
Nada vejo além dos meus pensamentos se materializarem.
E nada disso é bonito ou ditoso, nada é o que queria ver.
Quando as cores fogem dos olhos e tudo que vejo é cinza.
Quando as pessoas viram vultos de disformes contornos.
Todos os sons se tornam ruídos que não consigo determinar.
Nada há para amenizar a dor da peçonha que me envenena.
Fecho os olhos para fugir das grotescas coisas que me invadem,
Mas de forma traiçoeira, elas permanecem no mesmo lugar.
Os caminhos estão fechados e não há um local apaziguador.
Conformo-me na inexata regra do meu estranho sobreviver.
Na mentira que criei para mim mesma, vejo um outro amanhã.
Transformando todos os meus dias em esperanças futuras.
Os dias são intermináveis e as noites assustadoramente longas.
Na cegueira das injustiças, movo-me lentamente para o nada.
De forma antagônica acredito no que já deixei de crer há muito,
Minha teimosia de querer ter a felicidade como ar que respiro.
Assim, asfixiada em meio as desilusões e desencontros vividos,
A tua alegria me agride porque a tecestes com minhas lágrimas.
Usaste o fio da minha dor para desenhar um rascunho de vida.
E quando te cansares, amassaras o feito e o jogarás para longe.
Esquecendo-se da matéria prima que utilizaste para realiza-lo.
E eu já despida de tudo que havia em mim, prantearei o luto
Da minha vida que foi traída, roubada e finalmente, descartada.
Teu riso afrontará minhas chagas, que queimam na carne viva.
Mas meu sangue manchará todo o caminho por onde andares.
E no jogo de presa e predador, não há vencidos nem vencedor.
Somente mágoas de um sofrer que nunca cessa em seu doer.


terça-feira, 10 de novembro de 2015

PÁSSARO ERRANTE

Ela andava sobre as pedras das ilusões já perdidas.
Aranhava-se nos galhos das esperanças sem sentido.
E determinada, de forma destemida, seguia em frente.
O corpo todo ia se ferindo durante a árdua jornada,
Mas ela sequer olhava para trás, para o que deixava.
A dor da alma suplantava e abrandava a dor da pele.
Tudo, um dia, cicatrizaria como ocorrera muitas vezes.
Ficara surda aos chamados das falsas juras de amor.
A brisa das desilusões sofridas secava o seu pranto,
Antes mesmo das lágrimas que teimavam em se formar.
Tentara com todas as suas forças lutar contra o inevitável.
Esse adeus não dito foi, de todos, o que mais lhe doeu.
Quisera não tê-lo feito, quisera não ter virado as costas.
Enfim chegara o momento em que nada mais restava.
Vestiu-se com roupa de coragem e foi-se sem nada dizer.
Não havia necessidade de explicações, estava explícito.
De seu peito fenestrado, ela o libertava pássaro errante,
Para voares por onde quisesses, para aonde desejasses.
Tu sempre saberias onde encontra-la, aonde ela estava.
E se um dia já cansado do mundo, pousasse em sua janela,
A veria a viver a vida que lhe estava predestinada a viver,
Mas não a reconheceria pois seus lábios já haviam secado
Pela falta do derradeiro, o beijo que só na saudade existiu.
E ela também não já o reconheceria pois das humilhações,
Descasos e descuidos dele, ela tecera uma venda a lhe cegar.
Para caso ele viesse a sua procura, ela não o visse a sua frente.



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

LETRAS SOLTAS

Ele olhava a sua volta, em qualquer direção, e só via devastação.
Nada havia que pudesse fazer, tudo morria e se ia como ela fora.
Ainda lembrava-se de seus olhos brilhantes, seu sorriso tão franco.
Sua insaciável vontade de viver, de criar, de iluminar tudo e todos.
Seu jeito destemido a desbravar caminhos e sonhos nunca sonhados.
As loucuras que juntos fizeram na mais completa e perfeita lucidez.  
Ria ao lembrar-se das suas tolices enquanto as lágrimas escorriam.
Ainda sentia sua mão macia procurando a dele, enquanto andavam.
Parecia-lhe que fora ontem a última vez, mas tanto tempo já se passara.
Primeiro ela foi murchando, apagou seu sorriso e enevoou seus olhos.
Depois suas forças foram desaparecendo como os pássaros ao anoitecer.
Mais tarde, tornou-se uma sombra invisível de tudo aquilo que era antes.
Até o dia em que deixou de existir para sempre, tornando-se inacessível.
Por que aquilo tivera que acontecer de forma assim tão inesperada?
Por que ele não percebera que ela estava morrendo aos poucos?
Ela que o salvara e outras tantas coisas protegera com seu corpo.
Ela que nunca o deixara sozinho nas suas horas de aflição e de dor.
A companheira, parceira, cumplice, amiga, mãe, filha e sua mulher.
Agora, estava ele ali sozinho em meio à ruinas, restos da sua ausência.
O pouco que ainda o fazia sentir-se vivo, era o filho que ela lhe deixara.
Ele não sabia onde ela estava, mas devia estar feliz, bem e em total paz.
Talvez ela estivesse vendo tudo, lá do alto e quem sabe tivesse piedade.
Ela sempre fora uma pessoa boa e caridosa, quem sabe o teria perdoado.
E de todo mal que ele lhe causara, somente uma vez ela lhe fizera chorar.
Já cansada de tantos descasos, tantas omissões, ironias e humilhações,
Olhou-o nos olhos e sem qualquer compaixão falou lhe todas as mágoas.
Nada fez pelas costas, escondido ou aos sussurros como ele lhe fizera.
Olhou-o bem dentro dos olhos, viu sua soberba transformar-se em pó.
Mas não riu de suas lágrimas como ele fizera com as dela, tantas vezes.
E agora, em meio ao caos que sua vida se transformara, ele que achara
Que ela não era prefácio nem epílogo na sua existência de falsos valores,
Descobrira que ela e somente ela fora o livro todo e que ele não o lera

FARSA

O sorriso em meu rosto e a risada gostosa,
A todos encanta e exala felicidade no ar.
Com passos firmes e andar sempre altivo,
Vou passando pelas ruas com brilho no olhar.
Retribuo com meiguice todas as gentilezas.
A prepotência e a soberba não me seguem.
Recuso de forma branda a todos os convites,
Quase como se estivesse me desculpando.
Todos desconhecem o meu intenso sofrer,
Que trago fechado, num cantinho escondido,
Do meu coração de tão ferido, anestesiado.
Quando a porta se fecha, dispo-me da alegria.
Jogo os saltos ao longe de qualquer jeito, e
Deslizo pela porta fechada até chegar ao chão.
Abraço minhas pernas para conter seu tremor.
Introverto-me e inverto-me dentro de mim.
Já sem conseguir chorar, olho para dentro,
E lá vejo o medo da escuridão avassaladora
Que envolve todos os meus doloridos penares.
Arrasto-me, trôpega, para o calor das cobertas.
Envolvo-me em lembranças dos dias ditosos
Perdidos no tempo e só lembrados na alma.
Em secos soluços, olho para o vazio da cama
De cobertas arrumadas como a te esperar.
Noites infindáveis te procuram, sem sucesso.
Viro-te as costas para não ver que ali não estás.
O pranto que não escorre mais pelo meu rosto,
Rega meu peito, na erosão de esperanças vãs.
Procuro meu sono e descubro que ele se foi,
Para contigo dormir em sonhos já perdidos.
E assim só, fico a escutar o sussurro do silêncio.



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

MULHER


Mulher, que esperas da vida
Essa tão mal vivida
Recheada de dor.
Mulher, tudo foi desamor
Neste mundo cigano
Feito de desenganos
De lamentos sem fim.
Mulher, eu te quero assim
Com teu jeito sereno
De menino pequeno
Que perdeu a esperança.
Mulher, uma eterna criança
A chorar pelas ruas
Todas elas tão nuas
Com o teu padecer.
Mulher largue todo o sofrer
Venha para os meus braços
Descansar teu cansaço
No meu peito abrigo.
Mulher fica junto comigo
Mostra-me teu sorriso
É só do que eu preciso
Pra poder te ensinar:
O que é amar,
O que é sonhar,
O que é voar,
Sem mais chorar.
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