Depois de
tantos anos com alguém sempre ao seu lado,
Invejando
seus amigos, os mariposas das noites insones.
Viu-se pela
primeira vez sozinho e com total liberdade.
Tal qual um
menino liberto dos zelos infindos da mãe.
No início
ficou meio assustado e não sabia o que fazer.
Depois, os
novos companheiros lhe ensinaram as rondas.
Bufão deslumbrado
viu-se um rei, de um reino fugaz.
Assediado de
forma contumaz, era a vida que sonhara.
E assim, de
mão em mão, via passando as suas noites.
Sentia-se
feliz e lamentava os tempos antes passados.
Como não
descobrira antes toda essa vida de luxúria?
Era o
paraíso na terra, lugar de onde nunca mais sairia.
Fazia
exercícios, cuidava de sua aparência como nunca.
Galanteador
e cheio de mesuras... mais um conquistador.
E assim viveu
anos, crendo que tudo isso nunca findaria.
Seus cabelos
grisalhos eram um chamariz por aonde ia.
Sua risada
era ampla, mostrando os seus dentes alvos.
Então suas
velhas mãos começaram a teimar em tremer.
Já não
conseguia exercitar-se como antes e tudo lhe doía.
Não tinha
mais forças para enfrentar as noitadas de antes.
Sentava-se
no sofá, solitário, a assistir um filme qualquer.
O sono não
vinha e as lembranças assolavam seu pensar.
Pela manhã,
encontrava com amigos num boteco qualquer.
Almoçava os
petiscos do bar para não sentar-se só a mesa.
Temia por
sua saúde e o medo de não ter com quem ficar,
Fora o
tornando hipocondríaco e a sua morte o martirizava.
Estava sozinho,
em uma casa vazia de amores e de cuidados.
Tantas
mulheres passaram por sua vida, mas ele não as via.
Era mariposa
da noite a voar para a luz, acreditando ser o sol.
Agora as lâmpadas
lhe queimavam as asas de forma desleal.
O seu
paraíso, fez-se inferno e de rei passou a ser o vassalo.
Lamentou o
tempo passado, as mãos estendidas que recusou.
Queria
corpos e não as almas que agora estariam ao seu lado.
Não tinha
que lhe fizesse afago, nem ouvisse as suas histórias.
Tudo tinha
que pagar: carinhos, companhias, sorrisos e ilusões.
Finalmente, foi perceber que era um velho já há muito perdido,
Que precisara
aproveitar a vida de forma lasciva e despreocupada.
Esquecendo-se
que um dia viria a precisar de olhos compassivos,
De um bom
dia e boa noite carinhosos, de um falar manso e suave.
Então, tarde
demais, deu-se conta que seu castelo era só de areia.
As
oportunidades perdidas foram para sempre abandonadas ao léu.
E sua vida
purgava num inferno que um dia chamara de paraíso.