São
incontáveis os sentimentos que vez por outra passam por nosso peito.
Alguns
de alegria, melancolia, angústia, aflição e de todos o pior: dor.
Se
bom seria se todas as dores fossem físicas, bastaria um analgésico, ficar
quietinha um pouquinho e tudo estaria resolvido.
Uma
dor para ser dor de verdade, tem que vir lá de dentro. Daquele cantinho escuro
que raramente mostramos para alguém.
Essa
dilacera, destrói, arrebata tudo de bom que poderia haver e joga no chão o
maior dos heróis.
E então
vem a piedade. Com lágrimas nos olhos, olha a dor e a vê incapaz de
levantar-se. Com sua imensa pseudo bondade, passa as mãos pelos cabelos da dor
e com voz mansa diz que um dia tudo vai passar e que ainda vão rir juntas
daquilo tudo.
A
piedade é indigna por achar que a dor é só uma dorzinha que está machucando um
pouco, tipo um calo feito pelo sapato novo.
E
assim, a piedade sente-se majestosamente bondosa por acariciar com palavras vãs
a imensidão não vista da dor.
Olhando
ao longe, observando as entranhas expostas em toda a sua magnitude, encontra-se
a compaixão.
Ela
nada diz porque nada há para dizer quando tudo se foi e só restou um emaranhado
de sentimentos sem sentido.
Mas
a compaixão é magnânima e sem julgar, sem perguntas ou afagos, senta-se ao lado
da dor e segura sua mão. Em simbiose com a dor faz o que ela faria por ela.
Compaixão
mistura-se e tornam-se uma só e sendo uma só seguirão o mesmo caminho, seja ele
de pedras ou flores.
Nunca
pedi piedade para mim ou para outros. A piedade só não é indigna para quem a
oferece. O piedoso estufa o peito e sente-se mais perto de Deus.
Mas
sim, já pedi mil vezes pela compaixão pois a dor é indivisível e assim sendo,
precisa ter ao seu lado a paixão do amor verdadeiro que a carregue nos braços
quando não tiver forças para caminhar, que a escute quando todos estiverem
surdos e que aceite a catatonia que lhe limita.
É
tão desgastante ter compaixão!
Eu
espero que você nunca venha a precisar pois, talvez por não ter treinado, não consiga
encontrá-la.