Bolinha, menina assanhada do interior de Goiás,
Com pai e mãe desconhecidos,
Um dia chegou por lá e foi ficando.
Senhorzinho, homem da cidade,
Num dia qualquer do mês de outubro de 2004,
Foi ver suas terras, sua casa, seu descanso.
Chegando por lá, veio depressa o ofegante caseiro.
A lhe dizer: Bolinha deu cria, mas não preocupa não.
Tenho lugar para lhes espalhar.
O homem foi ver os bichinhos recém-nascidos
Eram tantos, de tantas cores.
Que chegou a estontear.
Mas logo seus olhos viram,
Um pequeno muito engraçado
Tinha metade da cara branca e a outra bem preta
Tinha, também, no lombo negro, um Z bem desenhado.
Olhou mais de perto, e seus olhos se encontraram.
Olho no olho, uma magia se formou.
Ele virou-se para o empregado e falou:
Esse não, esse vai ficar comigo.
E com esse Z das suas costas, vou escrever Zack.
Passadas algumas semanas, Sinhozinho voltou.
Pegou Zack pela nuca e viu o que o bicho
Era um emaranhado de pulgas a balançar o rabo.
Mas a decisão já estava tomada e Zack ia para a cidade
Eram tantos pontinhos pretos pulantes
Que o pequeno teve que viajar na carroceria.
No meio do caminho, parou numa venda.
Para perguntar como fazer para curar o bichano
Põe-lhe Bofo, disseram-lhe, depois de 1 hora dê um banho.
Fica garantido que não fica uma só vivinha.
Assim fez, Sinhozinho e na verdade ficou nenhuma não.
Zack, cachorro da roça, não foi bem aceito na cidade.
Seu “pai” salvou-lhe a vida várias vezes.
Era determinado e queria aquele cão.
E Zack soube que ele lhe queria
E lembrou-se da primeira vez que se olharam
E o homem soube que ele lhe queria
E lembrou-se da primeira vez que se olharam.
Assim se passaram 10 anos.
Para onde o homem olhava, estava Zack.
Para onde Zack olhava, estava o Sinhozinho.
Esbarravam-se a toda hora, se achavam e se perdiam.
Mas quem quisesse procurar por um, bastava procurar o outro.
Foi aí que no dia 18 de dezembro de 2014
Sinhozinho chegou e Zack não correu ao seu encontro.
Meio ressabiado, Sinhozinho saiu a sua procura.
Encontrou-o cabisbaixo, andando com dificuldade.
Mal conseguindo lhe abanar o rabo.
Parecia estar envergonhado de não conseguir lhe fazer festa.
Sinhozinho abraçou-o apertado e com o coração
Disse-lhe: Tudo bem amigo, vamos ao médico,
Você vai ficar bom, pois temos muito caminho a percorrer.
A volta para casa, foi silenciosa.
Sinhozinho teria que andar sozinho, pois seu companheiro.
Já não tinha mais forças. Suas pernas longas estavam frágeis
Nem mesmo, seu delgado corpo conseguia aguentar.
Olharam-se nos olhos, mais uma vez.
E Zack viu lágrimas nos olhos de seu protetor.
Mas estava reconfortado, pois ele ficou ao seu lado.
Mesmo o vendo definhar, sem abanar o rabo.
Ou segui-lo por onde fosse.
Sombra do que um dia fora, o amor se intensificava.
Que hora boba de morrer, Zack!
Nós não tínhamos combinado isso!
Você não me preparou.
Você não ficou doente.
Você somente foi sumindo,
Pensava Sinhozinho.
E entre lágrimas e uma dor intensa.
Sinhozinho ficou a acariciar
Aquele que foi seu amigo e companheiro
Desde que trocaram o primeiro olhar
Já passados 10 anos.
Carmen Mattos